Banqueiros-Presidentes?

João Amoedo, idealizador, fundador e presidente do NOVO publicou sua declaração de bens para concorrer à Presidência da República, informando possuir um patrimônio de mais de 420 milhões de reais, dos quais metade está investido no mercado financeiro (segundo jornais, renda fixa).

Ele foi banqueiro bem sucedido e jogou muito bem as regras do jogo - que ele não fez, diga-se de passagem. Então, não há razão alguma para o fuzuê criado encima do fato de ele ser um sujeito inteligente, esforçado e ter, por mérito próprio, conquistado uma fortuna enorme segundo padrões de qualquer país do mundo.

Mas o surpreendente é um cara assim não dar uma banana pro Brasil, converter sua fortuna em moeda forte e ir viver confortavelmente numa vila no norte da Itália, escolhendo entre praia e esqui o ano inteiro... Esse fato basta para me convencer de que ele é um patriota e deseja realmente, genuinamente, contribuir para a política brasileira. É claro que ele também tem sede de poder, senão não teria se embrenhado nessa iniciativa partidária buscando estender seu sucesso empresarial à política, que nada mais é que a tomada do poder, segundo a convicção de que ele tem qualificativos melhores do que os outros que exercem atualmente o poder no Brasil. Isso também não gera demérito nenhum. Ambiciosos mudam o mundo e, com idéias boas, mudam prá melhor.

Ter um ex-banqueiro como presidente do Brasil, como Amoedo, jamais será uma incógnita, pois a resposta é óbvia: ciente do custo de tudo, sensível à eficiência máxima e à avaliação de riscos, um banqueiro de sucesso e sem processos criminais tenderia a ser um ótimo técnico-gerente para liderar mudanças em matéria de governança... mas será que saberá fazê-las no setor público? Deteria Amoedo, ainda que hipoteticamente - pois sabemos que ele tem ZERO CHANCE de ser eleito - a capacidade de navegar no mar de lama que é a política e o serviço público brasileiros?

Seria esse banqueiro capaz de efetivar mudanças no status quo, enfrentando frontalmente a nobreza representada pelos funcionários públicos concursados, graduados e protegidos por uma densa legislação que lhes garante privilégios e imunidades pétreos, além de salários e aposentadorias descomunais e desconectados da realidade não apenas nacional, mas mundial?

A tarefa é hercúlea, pois enfrentar a estrutura construída desde o desembarque do Imperador, privilegiando castas públicas - amigos do Rei, não seria nada fácil (apesar de corretamente necessário).

Ou seja, significaria governar de mãos atadas...




Há também outro candidato ex-banqueiro a presidente. Sobre esse eu já escrevi bastante nesse espaço livre e você pode ler aqui e aqui.

Henrique Meirelles tem mérito técnico, tendo ascendido na carreira de banqueiro internacional por esforço próprio navegando em grandes instituições bem estabelecidas (jogando seguro), da mesma forma que o Amoedo. A diferença fundamental entre os dois são as escolhas dos amigos, das companhias e a sede pelo poder.

Como já disse, apesar da carreira brilhante no mercado financeiro de Meirelles, seu lado B, o lado obscuro do seu ser é a adoração absoluta pelo poder. Ele talvez tenha feito de tudo um pouco para ascender na carreira bancária, mas na política escolheu muito mal

Se não compactuou, ao menos silenciou perigosamente (não quero dizer criminosamente) sobre práticas financeiras do seus ex-chefes Palocci e Guido Mantega, práticas políticas e corruptas de seus ex-chefes Lula e os Batistas (da JBS)... 

Sua dança de cadeiras e de partidos, saindo do PSDB para o MDB, passando pela intensa colaboração com a agenda petista, ainda que sob o manto técnico, indica que ele se preocupa demais em conquistar o poder e estar intimamente ligado a quem o detém (econômico e político).

Assim como em Goethe, Meirelles é Fausto

Para ver seu sonho de criança realizado - ser rico e importante - fez um pacto com Mefistófeles (que não é representado apenas por Lula ou um certo partido e grupos, mas por tudo o que permitiria levar o Fausto tupiniquim à plenitude, em troca de servir ao demônio no inferno). 

A tragédia alemã vitimiza similarmente. Aos poucos, Meirelles, que se convence não possuir os qualificativos - apesar da montanha de dinheiro e bons contatos junto a quem detém os 3 poderes (mídia, econômico e político) - para ter a mínima chance de ser eleito Presidente do Brasil (a despeito do tempo de TV numa campanha expedita).

Meirelles sabe "navegar a política", mas para chegar a ter tal qualificativo sacrificou sua biografia privada para se aproximar dos poderosos públicos. Como uma maçã sã, em meio às podres, Meirelles contaminou-se e, ainda que prometa servir aos que lhe abriram caminhos (Lula aí incluído, por meio do secreto pacto do perdão presidencial), dificilmente descolaria seu personagem daqueles que destruíram boa parte da República e do patrimônio nacional apenas para lubrificarem a máquina que lhes serve.

Além disso, Meirelles declarará patrimônio assustadoramente alto, só que esse vem contaminado. 

Antes de lançar-se na política, ele teve carreira similar à de Amoedo, ganhando muito bem no mercado financeiro, seguindo as regras que até então não fazia antes de chefiar o BACEN (tais regras permitem ao Brasil ter um setor financeiro que mais remunera o acionista no mundo, constituindo um acinte em matéria de desfuncionalidade, corrupção e desfavor públicos reconhecidos em qualquer círculo sério de financistas internacionais, não sendo à toa que quase todos os bancos internacionais caíram fora do país). 

Após entrar na política transformou-se no técnico-político, personagem ideal para ficar controlando a porta-giratória entre poder e mercado... entre cargos integrou grupos, especialmente o JBS, recebendo rios de dinheiro em consultoria e salário que, sabe-se, vinculados a empresas com atividades ilícitas e sucesso artificialmente inflado pela trama política.

Não fossem esses pecados faustianos e sua escolha mal calibrada, Amoedo e Meirelles fariam parte do exército de brasileiros que poderiam voltar a incutir no Brasil o senso de mérito, auto-estima e confiança.

Um manchou-se, enlameou-se ou, como se diz em Minas, breou-se todo.

O outro continuará sua cruzada no NOVO, pois ao invés de pendurar as chuteiras, pode dar-se ao conforto de lutar por um Brasil melhor promovendo idéias boas (que precisariam ser testadas no setor público, pois sucesso no privado não garante nada nesse quesito). 

Amoedo-milionário teria estômago para roubalheiras, para si ou seus amigos? Não sei.

Nesse quesito Meirelles, infelizmente, deixa muito a desejar, como já escrito, descrito e cantado em várias mídias, bastando o leitor investigar um pouquinho (ou ler-me, para colher referências públicas nos meus posts que trataram e tratarão desses personagens).

Dois anos atrás escrevi sobre o Partido NOVO, em que inclusive tenho vários amigos. Eles não gostaram do que leram, mas para manter minha coerência, se você quiser, leia também aqui.

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