Políticos e o Partido Novo

Meses atrás escrevi esse post sobre o Partido Novo e acabei por conhecer gente fora do meu círculo de relacionamento vinculada a tal projeto. Daí eu ter entrado um pouco mais no que propõem, ter visto uma transparência do seu fundador e lido mais sobre essa propõe e o que deseja fazer na arena política brasileira.

Não repetirei conceitos do post já descrito. A maioria das impressões que emiti naquela ocasião ainda são válidas. Não mudei fundamentalmente de idéia (para o lamento ou para alegria de simpatizantes ou membros do Partido Novo). Só que me sensibilizei para alguns pontos que antes estavam nebulosos.

Constatei que qualquer um pode montar um partido. O seu fundador, um banqueiro bem-sucedido, utilizou boa técnica, recursos financeiros e humanos (aconselhamento profissional) e conseguiu adeptos suficientes para montar uma agremiação, conforme a legislação eleitoral brasileira.

Como se monta um partido? Com gente, recursos, motivação e idéias.

Gente (e boa) o Partido Novo tem. Vou examinar quem são.

Recursos os seus fundadores e agora os membros contribuintes possuem. Não é necessário eu me estender sobre esse tema.

Ter motivação é importantíssimo e examinarei a onda que faz com que esse partido ganhe mais adeptos na medida em que se faz conhecido.

Enfim, as idéias/propostas deixarei por último, pois estão na base da ampliação dos adeptos, entretanto elas não podem deixar de aderir à motivação, daí a ordem que proponho nesse post.

GENTE

Comecemos pelos membros do Partido Novo.

São fundamentalmente profissionais, liberais ou não, geralmente com trajetória de sucesso em suas escolhas profissionais, capazes de pensarem fora da bolha/caixa e destacarem uma parte de seu tempo a um projeto genuíno, que seria a refundação do país sobre bases diferentes, notadamente liberais.

Ao examinar o perfil de candidatos Brasil afora, disponível no site do partido, fica claro tratar-se de gente com alguma exposição, capacidade para captar votos e mobilizar pessoas. Raramente são pessoas com engajamento comunitário e, segundo as regras do partido, não devem ter histórico de política em suas vidas. São também pessoas com experiência de vida que acham ter-se dado um tempo para experimentar um modelo político que acabaram por abominar (eu também odiei a experiência petista).

Não sei se esse critério ainda vigora, ou se vigorará por muito tempo (não ter história ou envolvimento na política). Certa transformação ocorrerá certamente, na medida em que os eleitos do partido questionarão pré-condições para integrarem a agremiação em tempo quase integral. Uma vez eleito, o membro do partido terá que se dedicar e a boca ficará torta com tal cachimbo.

Ao estar com algumas pessoas que aderiram ao partido, inclusive candidatos, passou-me a impressão que vêem-se mais como soldados de uma causa que lhes diz muito ao coração e à razão, do que efetivos atores na formação de um partido permeável a suas idéias refletidas.

Não fui a uma reunião de Diretório do PN, não conheço seus intestinos nem sua metodologia decisória, portanto julgo apenas com base nas aparências: parece-me que o rumo foi traçado e tanto adeptos, militantes quanto candidatos "aderem" ao PN e às suas linhas de ação (com alguma pitada local).

Ao dizer isso constato, com certo desânimo - e especialmente diante da abudante inexperiência política dos candidatos - que se trata de um partido de seguidores (de idéias, não talvez de um líder carismático). Quanto mais cavei a superfície, mais tive a impressão de ser duro e inacessível seu núcleo (essa é a impressão). Isso lembra muito o conceito de hierarquia, de verticalidade, lembrando o mundo executivo cheio de "comandos" (mesmo um certo fordismo). Isso assusta, pois pode demonstrar estar longe de ser uma construção coletiva, como qualquer partido deveria ser, ainda mais com tantos meios efetivos de participação virtual.

Seria o tal: "vá e faça segundo te ordenei". Eu talvez esteja caricaturando, mas a estrutura partidária brasileira, com seus caciques e dogmatismos, precisa de algo novo não apenas como proposta, mas também no seu funcionamento. Enfim, isso vale uma investigação profunda...

Alguns poderão dizer:

- É normal! Um partido precisa de linhas mestras.

OK! Concordo que a espinha dorsal de qualquer iniciativa precisa existir. Só que contaminei-me pela idéia de empresa sobre a qual a estrutura se funda e ficou em mim a clara impressão que os fundadores  do partido, movidos por interesses genuínos, podem ter proposto e criado um monstro personalista ou dogmático que, assim que houver eleitos em diversos locais e ao tentarem por em prática a cartilha da "incomunicabilidade política", tudo construído poderá dissolver-se. Uma longa ponte precisa de uma estrutura flexível, pois se for rígida demais, quebra.

Se a gente que compõe o PN é instruída ao ponto de querer engajar-se e mudar o que está aí, porque irá simplesmente aderir ao moto do liberalismo econômico e da redução drástica do estado, em um país majoritariamente miserável e ignorante... por conseguinte manipulável?

Caso o que digo faça algum sentido, o PN estará condenado não apenas a ser minoritário, mas também a não articular com outros partidos e outros atores políticos e sociais, restringindo-se apenas ao homo economicus. E estará, ao assim ser, incorrendo no mesmo erro dos que vieram antes, dos que não tiveram sensibilidade suficiente para acomodar idéias que vêm de fora, da sociedade, do chão-de-fábrica, da necessidade de desprecarização do mercado de trabalho e de imporem-se limites nos políticos corruptos e nas organizações empresariais oligopolísticas do país (onde as mega-estatais se incluem).

Essa gente que passou a admirar e admitir o Partido Novo pode não ver satisfeitas as expectativas que projeta em uma plataforma facilmente identificável. A razão talvez esteja na maioria dos membros, provinda do setor privado e que quer pensar o estado sob o prisma empresarial, da eficiência pura. Seria esse um defeito de nascença do PN, capaz de ser curado por meio de ajustes e de uma AGENDA SOCIAL a ser, em algum momento, discutida não apenas por PhDs, mas por lideranças comunitárias efetivamente comprometidas (e não pelegos e sindicalistas)?

Não vejo tal agenda em lugar algum no site do partido, nos discursos públicos (o espaço na mídia é praticamente inexistente aos membros do PN).

Gostaria de vê-la, mas acho que no momento atual, em que adeptos e simpatizantes são procurados, é uma estratégia do núcleo decisório deixar como está, criar uma identidade para então oxigenar e introduzir conceitos de apelo popular mais adiante (para ter votos e voz). Ou não... o que seria catastrófico.

A gente que vejo no PN não é do povo. É gente que vê o povo de longe. O PSDB (meu laboratório preferido) fez isso: elitizado, afastou-se do eleitor e apenas ganhou espaço por ter boas idéias no vácuo. É onde Marina Silva (um dos maiores embustes que o Brasil pariu) entra de sola, inclusive com apoio de parte da nata empresarial do país: ela nasce e atua no vácuo, pois suas propostas e métodos são absolutamente contrários à competitividade e à livre empresa (a raiz petista-pelega é inegável).

MOTIVAÇÃO

Angariar adeptos é fundamental a um partido. O PN foi vitorioso e pegou onda em um movimento que não criou: o de insatisfação absoluta com a política de balcão de negócios à brasileira.

A adesão por fatores negativos é um motivador interessante.

Inimigos históricos unem-se quando se defrontam com um inimigo maior, que coloca em risco a existência dos novos aliados. Posteriormente à destruição da ameaça retornam ao estado anterior de animosidade.

Me parece que um grande motivador para obterem-se adeptos do PN não se funda em sua plataforma (ou VALORES, como examinei no post já comentado).

A motivação para adesão ao NOVO - daí a razão do seu nome, muito eficaz em marketing - decorre da revolta, da raiva, da insatisfação, do sentimento de impotência que cidadãos brasileiros - como eu - sentimos desde que Lula assumiu o poder e ocupou o Brasil por meio de alianças políticas espúrias e um aparelhamento destrutivo e sectário.

Confesso que aderir a grupos pelo ódio é um ótimo mote. Confesso que querer o novo é um sentimento humano (novo carro, nova casa, nova sociedade, etc.), só que não é sempre nobre. Pode estar-se sugerindo uma identidade que, na verdade, é falha.

Quem atua no mundo empresarial fala sobre o novo com enorme facilidade, pois a obsolescência programada (tornar um iPhone 4 obsoleto depois de 4 anos, virando um lixo que ainda funciona mas ninguém quer e nem mesmo a Apple atualiza software) integra a orientação mental (ou mindset, para ser chique) que faz ganhar dinheiro, ter sucesso. Acidamente mencionei no outro post que talvez a embalagem seja nova, mas métodos e idéias podem ser antigas e mesmo ultrapassadas. Assim, é preciso questionar.



Questionarmo-nos sobre a zona de conforto pode nos tornar melhores. A evolução social decorre do questionamento e da eficácia de ações possíveis.

Já a revolução decorre da destruição criativa e radical. Sempre onde ela aconteceu foi sanguinária e criou mais sofrimento do que solução. O melhor exemplo disso é a Revolução Russa, que criou um monstro até hoje pernicioso e destrutivo, que é a Rússia de Putin. A revolução cultural chinesa foi também um desastre, com um atraso intelectual e econômico imenso causado por um ditador que, inspirado em Marx, deu-se o direito de brincar de deus. Fidel, Chavez e outros embustes fazem similar.

Questionar o status quo sem capacidade de ação e resultado razoável faz o mesmo que o burro da carroça acima: fica pesado demais e não se sai do lugar.

A política brasileira podre é um ótimo motivo para mobilizações. É um estímulo a maior participação. 

É ambiente inspirador para criarem-se iniciativas geniais, como esse site POLÍTICOS, que avalia e rankea os representantes eleitos por métodos objetivos.

Acho absolutamente legítimo mobilizar e motivar pessoas pela insatisfação, afinal é ela que faz o sapo pular, caso contrário seria devorado. 

O brasileiro comum está acomodado e o melhor instruído finalmente deve envolver-se com a comunidade, sociedade, país, para dar alguma contribuição objetiva.

Isto dito, acho que a motivação para aderir ao NOVO seria muito justificada - revolta com o que está aí - entretanto causa-me preocupação pensar se, como o dono da carroça, não se estaria enchendo demais de expectativas o novo adepto, já que o universo político brasileiro é diverso e manter idéias (a seguir abordadas) sectárias poderá simplesmente "manter o burro suspenso".

IDÉIAS

Somos seres abstratos. Se nossas necessidades básicas (vide a já manjada pirâmide de Maslow) estão supridas, podemos criar, participar e pensar no futuro, pois o presente está razoavelmente garantido. Não havendo ameaças de curto prazo projetamos o futuro, pois temos crença de que ele acontecerá. Assim, investimos e contruímos algo.



Um menino carente, que mora numa favela onde toda semana há execuções e cadáveres cravados de balas, não pensa no futuro. Ele vive o imediato, o momento e todos os seus atos buscam apenas a sobrevivência, as próximas 24 horas.

O brasileiro comum é como o menino carente: quando tem alguma oportunidade, sonega, rouba, aproveita, pois imagina que amanhã pode estar em uma posição menos privilegiada (ou mesmo morto). A "lei de Gerson" vigora, pois é o retrato do aproveitador, do oportunista nacional, tão bem refletido por Mário de Andrade em Macunaíma (brasileiro sendo um "héroi sem caráter"). Isso infelizmente é muito comum em uma sociedade desestruturada e perigosa como a brasileira, em razão dos péssimos governantes que nos levaram até aqui.

A idéia de criar um partido absolutamente desconectado da vida política nacional pregressa tem um apelo sensacional. Taí o NOVO.

Ao se selecionarem membros do partido descomprometidos com "antigas práticas", "clãs políticos", abre-se espaço para oxigenação e mudança. Claro que é uma estratégia inteligente. Todos querem algo assim.

Será, entretanto, que irá funcionar?

Será que os candidados e futuros eleitos para cargos legislativos (vereadores) possuem uma idéia clara do que lhes espera?

Acho que não.

Como farão a articulação dessas IDÉIAS com a realidade que encontrarão?

O que farão os novos eleitos do Partido Novo nas Câmaras de Vereadores?

Ora, que se preparem, pois irão se deparar com várias classes de criminosos, como as exemplificadas abaixo:

- Os comprometidos com maus incorporadores, que alteram zoneamento do solo em bairros tranquilos ou de vocação residencial (ou mesmo semi-rural) permitindo especulações imobiliárias que não levam em conta necessidades das comunidades instaladas em áreas-alvo, ou mesmo aspectos ambientais. Vou dar um exemplo sensacional de evidente desconexão: Alphaville Lagoa dos Ingleses e a lista imensa de condicionantes ambientais jamais cumpridas (ou cobradas pelas autoridades de direito). O leitor certamente possui diversos outros exemplos a dar...

- Os comprometidos com a máfia dos transportes públicos, impedindo qualquer iniciativa decente de mobilidade urbana, de redução de custo do transporte urbano ou eficiência. Essa máfia (posuda e frequentadora de colunas sociais onde também participam "empresários honestos") condena o cidadão a dois desastres: andar de moto em corredores da morte ou andar de algo similar a ônibus, montado sobre chassis de caminhão... releitura dos paus-de-arara tão comuns na área rural. Diz-se, por exemplo, que Belo Horizonte não conseguiu criar um monotrilho na linha verde (ligando o centro da Capital à Cidade Administrativa e, posteriormente, ao Aeroporto de Confins, por causa dessa máfia... o que faz absolutamente sentido).

- Os comprometidos com a máfia do lixo, que cobra bilhões de prefeituras maiores, não trata como deveria os resíduos, espalha corrupção para garantir o não atendimento de regras ambientais e que não possui qualquer interesse em cidades sustentáveis ou na separação de lixo, como países desenvolvidos fazem.

- Os comprometidos com as boquinhas públicas, aliados a funcionários públicos municipais que apenas vivem para fazer contas de suas aposentadorias futuras, ao invés de dedicarem-se à necessidade da população. Esses maus funcionários públicos aliam-se a pelegos sindicalistas coagindo administradores públicos ao custo da população, ampliando o custo da máquina sem qualquer comprometimento com o bem-estar coletivo ou a realidade econômica da cidade, estado ou país, pois apenas pensam em seu próprio umbigo.

Eu poderia listar outras classes de corruptos, criminosos e maus brasileiros que povoam o poder municipal, selva-maior na política nacional, onde interesses mesquinhos são representados e as negociatas são as mais rasas, evidentes e impunes.

Será que as boas idéias do PN resistirão a tal ambiente hostil?

Acredito que algumas poderão resistir, mas a "taxa de mortalidade" dos vereadores do PN deverá ser elevada, já que não tem idéia do que lhes espera e certamente seguirão a cartilha do partido, de não buscarem re-eleição.

Só que aqueles que conseguirem nadar na lama (para não dizer outra coisa) serão heróis que precisam ser guardados.

Isto dito, louvo a iniciativa de se criar um partido que prima pelo descolamento das práticas políticas atuais.

Acho, entretanto, que a prova maior virá daqui a um ano, quando efetivada uma reunião nacional para apurar a curta experiência dos eleitos e da necessidade de se fazerem ajustes no seguinte:

- método de escolha dos membros e candidatos (trabalho comunitário e representativo pregresso e consistente, compromisso com a ética e o ativismo, etc.)

- forma de relacionamento com outros partidos, pois minoritários, os eleitos precisarão valorizar o mandato pela via das alianças

- revisão da Agenda Social, para sensibilizar-se não apenas sobre o problema econômico (e a plataforma libertária ou liberal) e tentar perpetuar-se na dinâmica política nacional

- revisão do diretório central e despersonalização progressiva, por meio de um programa consistente e conectado com a realidade brasileira

- troca de experiências entre membros e candidatos para estabelecer uma dinâmica informativa, oxigenante e regida pela democracia participativa.

Desejo, enfim, boa sorte aos candidados do Partido Novo!

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