Desafios em dia de lembrança

Há quinze anos o mundo assistiu ao horror, ao vivo. Hoje lembramos o que o ódio pode gerar.



Vários ensinamentos daquele dia fatídico foram tirados, alguns tardiamente. Muita gente no mundo, não se pode ignorar, comemorou e ainda comemora o sofrimento impingido a uma nação...

Após decorridos esses anos todos, e já morto Osama Bin Laden, a percepção de que o mundo esteja mais seguro é objeto de controvérsias, mas a maioria acha que tudo vem piorando, em matéria de insegurança, especialmente após atentados recentes (Paris, Bruxelas, Tel Aviv...).

O nível de controle da circulação de pessoas aumentou exponencialmente, gerando custos imensos (tempo e dinheiro).



A coisa mais certa, entretanto, é que a desconfiança passou a imperar mais ainda. A diversidade está sendo comprometida pelo medo e pelo preconceito.

Dentro de fronteiras nacionais, a Islamofobia veio para ficar, no dia-a-dia das relações e na política. Como os autores da totalidade dos atos de terrorismo no mundo são integrantes radicais dessa fé que possui poucos sinais de aggiornamiento, a população muçulmana lhe tem dirigido o olhar da culpa e do medo.

Na esteira dessa desconfiança - às vezes justificada, mas geralmente associada à ignorância - a divisão entre tolerantes e intolerantes nas sociedades tocadas pelo medo permite gradualmente com que políticos com plataformas radicais evoluam.

Tomemos como exemplo Israel, que é o campo de prova maior para lidar-se com esse terrorismo abominável.

Aquele país, anos atrás, viveu um período em que os moderados pareciam estar ganhando terreno. Houve em 1993 a tentativa de um acordo em Oslo, em que, finalmente e após décadas de conflito, as partes pareciam ter-se entendido trocando terra por paz.





Ocorre que elementos radicais palestinos boicotaram muito eficientemente o acordo, retomaram atentados em Tel Aviv, e assim a resposta do lado israelense foi equivalente, permitindo o endurecimento e a ascensão da linha-dura. O impasse parece ter-se restabelecido.

O mesmo ocorre em diversos países da Europa. A presença mal-planejada de imigrantes, especialmente oriundos do Oriente Médio, com cultura e hábitos diferentes, torna-lhes extremamente difícil a integração à cultura local. Ao viverem em guetos, mantendo seus costumes e reforçando um ciclo de pobreza e vida precária, acabam por enviar um sinal horrendo à população hospedeira, tornando-se ameaças visíveis. Daí para a combinação desses fatos à mítica religiosa é apenas um passo, transformando o ambiente em explosivo.

Países que integravam as repúblicas soviéticas jamais passaram pelo humanismo civilizatório do pós-guerra sofridamente ocorrido na Europa Ocidental. Em viagens pelo Leste Europeu constatei, em diversas ocasiões, como o antisemitismo e várias outras fobias sociais jamais foram tratadas, abordadas e corrigidas no pós-guerra, contaminando as novas gerações. O politicamente correto em matéria étnica e religiosa (exagerado ou não) jamais visitou aquelas paragens, que passaram da brutalidade socialista à brutalidade capitalista, mantendo-se os mesmos preconceitos inculcados na maioria da população.

Assim, o alemão oriental e o ocidental permanecem diferentes, pois orientais receberam mensagens de seus antepassados que não valorizaram a diversidade, a despeito da integração educacional iniciada 27 anos atrás. Países mais ao leste então, como Bulgária e bálticos, aceitam livremente o neo-nazismo e a resposta violenta e ignorante ao desconhecido, transformando a vida de refugiados em pesadelo, injustificadamente posto que fundados apenas em preconceito.

Esse então é o mundo em que vivemos e que não foi gestado apenas - como dizem os altermundialistas ou anarquistas - na geopolítica fracassada do ocidente (ou dos EUA e Europa) durante a Guerra Fria. Há uma crise na gestão de imigrantes, no movimento de refugiados, que sendo mal feita acaba por causar efeito paradoxal: as sociedades que lhes acolhem passam a rejeitar-lhes e a odiar-lhes.

Quinze anos atrás o mundo recebeu um forte sinal de que a doença estaria se espalhando. A doença do desespero, da incompreensão, da intolerância, associada à moderna tecnologia e às redes sociais.

Vivemos hoje em um mundo mais conectado, interdependente, mas incapaz de viver melhor e em harmonia, exceto se pela via do controle, da desconfiança e do monitoramento constante.

Os atos terroristas certamente diminuíram bastante, perto do potencial letal que possuíam antes que políticas restritivas de direitos civis tivessem sido introduzidas.

Só que o preço que estamos pagando deve ser melhor avaliado nas comunidades em que vivemos.

Acredito que todos somos chamados a contribuir com idéias e atos de boa vontade para reduzirmos as mazelas do mundo. De uma forma qualquer. Sem fórmula. Deveríamos exigir de dirigentes de potências militares maior agilidade para evitarem catástrofes humanitárias, como as que ocorre na Síria. Sabemos que muitos povos não possuem auto-determinação em suas casas, regiões, pois são dominados por grupos sectários, famílias, seitas religiosas e déspotas sanguinários.

Atingimos um grau de avanço em tecnologias que permite a revisão da agenda diplomática mundial determinando intervenção  rápida, multinacional e resolutiva, fundada em valores universais, comuns.

Parece que essa é a reflexão do dia, em memória daqueles que pereceram de forma absolutamente inocente, diante do ódio originário da incompreensão e do preconceito.


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