Sai Ford, já estão Mahindra, Valtra e Foton. Agora sim, a realidade.
Nostálgicos estão sofrendo diante do anúncio do encerramento da produção da Ford Motor Company no Brasil, presente há um século no país quando se implantou para vender seus modelos T e posteriormente produzir automóveis numa época de baixa competivididade. A Ford integrou um grande lobby para destruir - com pleno êxito - as ferrovias que uniam o país, aliando-se a políticos venais e sem visão. O resultado é desastroso num país agrícola que depende de caminhão para escoar a produção.
A discussão politizada informa que a Ford sai porque o governo federal atual é incompetente e está afundando o país, assim espantando investimentos. Ledo engano, pois montadoras de países emergentes como Foton e Valtra acreditam no país com seus produtos totalmente adequados ao mercado tupiniquim. Além disso, a régua da competitividade é igual para todo mundo... resta entender o diferencial de quem fica e de quem vai embora.
Diferentemente dos produtos concebidos pelo e para o primeiro mundo, piorados para serem vendidos (ainda assim) como premium no mercado nacional, fábricas da Índia e da China fizeram o que o Brasil nunca ou pouco se permitiu fazer: desenvolveram seu parque mecânico para veículos urbanos e rurais em seu próprio mercado. Foram, viram, aprenderam e fizeram. E não sonham em Dólares ou Euros.
Sendo o Brasil um fazendão, como se traduz pela representatividade do setor agroalimentar no PIB, nada teria sido mais natural que criar tecnologia e produzir - com sua enorme riqueza humana e natural - veículos para seu mercado gigantesco.
Não fez.
As iniciativas nacionais para enfrentar multinacionais como Ford, VW, GM - e posteriormente a Fiat - foram sufocadas por uma elite política e empresarial obtusa que ainda teima em achar que sabe fazer alguma coisa pelo país. Nesse (e outros) segmento, o resultado salta aos olhos e não enxerga quem não quer...
A Ford desistiu. Certamente outras empresas de primeiro mundo que visam o mercado brasileiro também não aguentarão a concorrência de empresas acostumadas à adversidade, como as dos países emergentes e sobretudo da China e da Índia.
E não será apenas no setor automotivo.
No setor médico a coisa está evidente.
Ao invés de importar caríssimos equipamentos de imagem europeus ou norte-americanos, por quê não importar da Índia, que produz adequadamente à necessidade e ao poder aquisitivo do brasileiro? A produção em dólar ou euro não é competitiva... e os emergentes inteligentes já entenderam o conceito.
Além disso, procedimentos caros e de conformidade exigidos de empresas de países desenvolvidos não são totalmente seguidos por empresas de países emergentes. Nem mesmo as exigências vinculadas a emissões e outros requisitos técnicos eles observam, pois têm pressa em alimentar e organizar seu povo, não importando conceitos externos inadequados às suas próprias realidades.
O Brasil continua dirigido por uma elite que acostumou-se a comer caviar, mas que diz à população ser o sabor igual ao da mortadela. A encruzilhada ocorreu há 20 ou 30 anos em diversos segmentos. Inês é morta.
A única e honrosa exceção - e da qual indianos e chineses possuem enorme inveja, mas não estão esperando sentados - é a fábrica nacional de aviões, a EMBRAER. Por pouco esta não se tornou norte-americana, pois seria engolida pela Boeing se a Comissão Européia não tivesse barrado o negócio baseado em questões de concorrência. Até quando manter-se-á uma empresa brasileira?
O Brasil deve encontrar-se consigo mesmo e para isso precisa rapidamente:
1. Aceitar seus enormes equívocos em política industrial e de serviços, fazendo imensa mea culpa e iniciando uma transição;
2. Refundar sua elite baseada no mérito e não no compadrio. Essa elite é a que usará aquilo que vende ao mercado consumidor no país e não o que consome em seus apartamentos na Flórida ou em devaneios parisienses;
3. Entender que o arranjo federativo atual apenas suga recursos dos estados sem reversão nenhuma à sociedade, abrindo caminho a um novo pacto que dê sensacional autonomia aos entes federados, esvaziando Brasília, que merece a inanição financeira. Só assim os recursos irão à pesquisa, à produção e à competividade.
4. Mandar gente, aprender e copiar Índia e China nas suas políticas tecnológicas e industriais, ao invés de ficar visitando país que precisa de casaco prá viver.
Enquanto a mudança de mentalidade e a renovação da elite não acontecerem, do consumo dos carros americanos e alemães passaremos aos coreanos e finalmente aos indianos e chineses... e nada de máquinas e carros brasileiros... só exportação de minério!
Qual o problema em enxergar-se no próprio espelho?
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