Alto astral, baixo astral: bipolaridade?

Depois de alguns dias intensos no Brasil, constato que o país está mesmo precisando de um remédio forte, para reduzir os sintomas de sua bipolaridade.



Não sou psiquiatra (apesar de ter convivido com um, por duas décadas), mas sei o quanto esse distúrbio afeta não apenas a própria pessoa, que enfrentará dificuldades para criar uma certa linearidade em sua vida, mas também aos que estão à sua volta, familiares, amigos e desconhecidos.

A medicação de alguém em uma situação assim é fundamental. Caso contrário, serão altos e baixos, euforias cortadas por depressões, num jogo de gato e rato, alegria e tristeza, que desorienta, interrompe a vida, as relações, o trabalho, etc.

Uma década atrás, o Brasil comemorava o sucesso. Agora, comemora o fracasso.

As Olimpíadas foram sensacionais, bonitas, bem organizadas (com acidentes de percurso normais, como em qualquer grande evento) e elogiadas mundo afora.

Só que o circo acabou. A realidade volta a bater à porta. Como um comentarista recentemente indicou, as Olimpíadas foram um hiato de uma relação conturbada: o casal brigava, mas uma visita ilustre bateu à porta. O casal se recompôs, recebeu a visita, tratou-a bem, mas quando ela partiu, voltaram novamente à briga.

A desarticulação brasileira é fruto da incapacidade de se administrarem problemas. A incompetência da classe política, que perde mais tempo administrando seu próprio interesse do que o daquele que lhe elegeu, bem como a centralização de poder são os ingredientes da tragédia que transforma o Brasil no país bipolar.

Amigos da minha geração estão desesperançosos. Jovens também estão entristecidos, pois convivem com uma certeza apenas: tudo poderá mudar, inexiste previsibilidade nas relações sociais e econômicas.

Entra ano, sai ano, mudam alguns nomes, mas a frustração permanece.

Fiquei entristecido ao ver empreendedores incapazes de tocarem seus negócios adiante, em virtude da montanha de dificuldades criada pelo ente estatal, em meio à sofrida situação de um mercado contraído.

Fiquei entristecido ao ver recém-formados frustrados por não conseguirem nem mesmo posições não remuneradas para aplicarem seus conhecimentos, aprenderem um ofício e responsabilizarem-se pelo futuro do país.

Constatei que todos os setores estão retraídos, que as leis trabalhistas apenas prejudicam os empregados, que gostariam de ver jornadas e salários reduzidos, visando manter seus empregos e permitirem com que outros concidadãos entrem o mercado de trabalho. Isso não significa a precarização das relações de trabalho (veja esse post), mas caso o país continue insistindo em manter rígidos os direitos trabalhistas, permanecerá condenando a atividade econômica à ilegalidade e mantendo os salários deprimidos. São vários os que acham emprego após meses desempregados, só que com salários equivalentes a menos de 1/3 do que ganhavam na época áurea do ilusionismo petista.




Enxergar o futuro é fundamental. O futuro traz rupturas. A ruptura não é apenas aplicada a poderosos que abrirão mão de privilégios. Diz respeito a toda uma sociedade que deve vislumbrar as vantagens de criar instituições adequadas aos tempos atuais.

A incerteza política brasileira condenou - como à América Latina - gerações à precariedade. Por isso se reinventa tanto o país, sem se sair do lugar.

Sei que em todo momento de revolta e depressão surgem idéias maravilhosas de recriação.

Só que o Brasil é tedioso. Sempre está-se discutindo o papel e o tamanho do estado. Sempre se discutem as mesmas coisas, sem se sair do lugar. O passado brasileiro virou doença, não ensinamento.

A continuar assim, teremos mais gerações bipolares, onde um dia sentem-se bem, orgulhosas de serem brasileiras, mas noutro dia estão em depressão abissal.

O remédio:

- retorno do poder ao cidadão, com drástico esvaziamento de Brasília (não consigo entender como uma cidade sem nenhuma atividade econômica digna de nota pode possuir o PIB per capita maior do Brasil, quase duas vezes à frente de São Paulo...)

- revisão profunda dos direitos trabalhistas, flexibilizando as relações e permitindo redução de salário, jornada (a regra atual não adianta), contribuições, etc. para sobrar MAIS DINHEIRO no bolso do empregado

- reforma política para recriar o voto distrital

- adoção do parlamentarismo, reforçando os partidos políticos e acabando com as legendas de aluguel, além da introdução do conceito de governo responsável e da moção de confiança, podendo destituir governos a qualquer tempo (sem o traumático processo de Impeachment)

- re-estatização do transporte e da gestão do lixo urbanos, hoje dominado por máfias que impedem a evolução social (nunca tão poucos fizeram mal a tantos)

São vários remédios que precisam começar a ser ministrados nesse doente crônico. Talvez assim os sintomas diminuam e as pessoas comecem a controlar melhor suas variações de humor... pois um país em que os jovens não confiam não poderá jamais ter um futuro brilhante.

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