Pior que bomba atômica: o dia em que a terra parou

O coronavirus é muito mais que um bichinho que mata sobretudo idosos e enfermos.

Ele está tendo a capacidade de demonstrar como o mundo está hiperconectado, tanto para o bem (medidas de proteção, iniciativas convergentes de colaboração sobretudo em pesquisa para achar uma vacina, sequenciamento dos genes e ações públicas) quanto para o mal (o dito-cujo se disseminou com uma rapidez maluca, em virtude das viagens internacionais e medidas mal-pensadas dos focos iniciais).

Pouco a pouco o mundo pára, entrando em modo paralisante onde nem mesmo aviões voam mais para poder-se isolar e identificar focos e pessoas infectadas. Só assim freia-se o que vem a ser um contágio rápido demais para usar apenas as medidas preventivas do passado.

Cenários catastróficos de pandemia com milhões morrendo lembram o mesmo espírito da guerra fria, em que a bomba poderia ser lançada e matar muitos. Finalmente os modelos do pior cenário se realizaram  (a despeito dos exageros na taxa de mortalidade do virus, que na verdade não passa na média de 5% segundo dados disponíveis, mas desconfiáveis, como tudo hoje em dia) e é um enorme teste de resiliência da humanidade.

Amanhã não será mais igual. A psiché humana será totalmente diferente a partir do fim da pandemia. Os automatismos devem mudar. O sentimento de interdependência não havia sido tão sentido até hoje. Apesar de usarmos aparelhos e consumimos frutas e verduras que viajaram milhares de km para chegar em nossas mãos, achávamos que isso funcionava automaticamente. Com o comprometimento das cadeias logísticas para conter a propagação do virus, estamos mais cientes das limitações de um mundo hiperdependente da produção relocalizada.

Aposto que dois comportamentos mudarão bastante após passada a crise em que estamos vivendo, em que aulas, reuniões, eventos e tudo comunitário foi cancelado:

- O teletrabalho se tornará uma realidade, influenciando a arquitetura das novas casas, apartamentos. Novos modos de organização de vida serão explorados por autores de auto-ajuda. O equilíbrio entre vida pessoal e trabalho será revisitado, para que o teletrabalho possua mais importância, com unidades habitacionais autônomas e com espaços de reunião. Em Montreal há um projeto em conclusão em que apesar de ser uma torre residencial, há vários escritórios individuais em dois andares baixos, com salas de reunião e comodidades como secretários e máquinas de café, permitindo o não-deslocamento dos residentes, incluindo recebimento de clientes e parceiros visando trabalharem de acordo com suas necessidades e exigências de mercado, em um espaço compartilhado inclusive com creche.

- O consumo local (buy local) como inclusive os EUA já determinaram, pois como se disse na época da crise financeira de 2008: só se sabe quem nada pelado quando a maré baixa. A maré da quebra das cadeias logísticas por causa de uma epidemia revela que não é mais possível ser tão dependente das trocas internacionais. Elas são benéficas, mas como tudo na vida (mesmo com coisas boas), há limites. E o limite parece ter sido atingido. As prateleiras vazias de comida e objetos de limpeza são sinal de que, apesar de o cenário ser catastrófico e incomum (dificilmente se repetirá em nossas existências), não se poderá continuar a depender de unidades produtivas tão distantes do mercado consumidor.

Como em momentos como esse é necessário manter a calma e o humor, se possível, segue um presságio do Baú do Raul, que circula pela web:


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