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Mostrando postagens com o rótulo política

Metacognição e assuntos de estado

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  A violência sempre foi a arma dos ignorantes. A ausência de raciocínio e informação, a incapacidade de elaborar argumentos lógicos e bem-fundamentados induzem ao recurso à força, pois o agente ignorante é incapaz de convencer pacificamente. O uso de palavrões, já dizia minha professora de português no secundário, é sinal de pobreza de vocabulário, despreparo e pouco estudo. Em 1999, a dupla de psicólogos David Dunning e Justin Kruger realizou testes envolvendo gramática, lógica e humor. O padrão identificado foi revelador: os que obtinham as piores avaliações eram justamente os que mais superestimavam suas próprias capacidades, enquanto aqueles com as melhores avaliações frequentemente se subestimavam. A autoavaliação dos voluntários comprovou um fenômeno muito comum: a dissonância entre realidade e autoimagem. O estudo acabou batizado como Efeito Dunning-Kruger, abordando o viés cognitivo com o qual nos enxergamos no mundo. No meio educacional, é comum cruzarmos com alunos...

Pertencimento e crítica

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Quando Jean-Jacques Rousseau, 250 anos atrás, intelectualmente isolado por suas idéias revolucionárias para a época, concebeu o Contrato Social, ele idealizou o pertencimento de indivíduos a uma coletividade espontaneamente colaborativa, em que certos direitos seriam sacrificados por um bem-maior. O inovador e disruptivo Rousseau visava esvaziar conceitos de legitimidade de reis e clero sobre o povo, que deveria decidir soberanamente o próprio destino. O ideário da transposição do abandono na pobreza ao pertencimento empoderado conquistou a sociedade francesa, fazendo-a revoltar-se violentamente em 1789. Enfim, haveria uma alternativa participativa ao absolutismo e à tirania! O império da lei idealmente livre dos vícios humanos contém elementos divinos de perfeição, mas é atraente por aplicar-se horizontal e igualmente a todos. Nações surgiram em seguida e a idéia do legalismo ganhou força, onde a materialização do sonho perfeito e acabado de um Contrato Social resultante do ordena...

Dilema desnecessário: entre apatia e ativismo

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Em uma era em que a lente de aumento parece ser a regra para enxergar e enquadrar todas as relações, resultado da exponencialização da raiva (e em medida muito limitada, do amor) promovida pela hiperconectividade, muitos parecem tentados a assumirem posições radicais: alienarem-se ou virarem ativistas. Lembro-me bem, durante minha campanha política fracassada, que qualquer um que gostasse de cachorros, bicicletas, a natureza ou corridas deveria se auto-denominar ativista para gozar de credibilidade nas convicções que emitia, segundo o folclore. É certo que há valores comuns na sociedade como um todo, garantido manter-se coesa, mas a idéia da defesa "radical" de bandeiras, sejam boas ou más, é ruim e deve ser sempre considerada como marginal. A razão da manutenção necessária do estado de  marginalidade do ativismo advém do fato que sempre a maioria esmagadora das pessoas terá pouco interesse, pouco ou nenhum conhecimento das matérias tão caras aos tais ativistas (ONGs, grupo...

Virtude e coragem

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Em um mundo com muito barulho, em que maciça presença dos meios de comunicação transformaram o próprio meio em mensagem, pode faltar clareza sobre os valores que importam à sociedade para que se mantenha funcional, harmônica. TRANSTORNO DISSOCIATIVO PATOLÓGICO Ouvi recentemente a belíssima peça teatral Dr. Jekyl and Mr. Hyde , inspirada no Médico e o Monstro (1886) de Robert Stevenson, narrada no link acima por nada menos que o magnífico Sir Laurence Olivier, retratando a dicotomia entre o lado bom e o lado malévolo dos seres humanos. Como na peça, a  dissociação da personalidade constitui curiosidade geral. Não se limita apenas às ciências psiquiátricas, criminal ou jurídica.  Imputar responsabilidade a pessoas por atos horríveis que cometeram ou que continuam cometendo crimes exige compreender o nível de consciência que as levou ou continua a levar a cometer tais atos horríveis. Transpondo a questão aos dias atuais, mediante maior desenvolvimento da compreensão da psyché h...

Fake News

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 A venda da verdade absoluta, anunciar o poder da revelação, de enxergar o que os outros não enxergam e assim tornarem-se relevantes sempre foi uma tentação aos oportunistas e desonestos, bem como aos parasitas de regimes políticos ilegítimos. Ouvi falar em Fake News , pela primeira vez, durante a campanha de Donald J. Trump à Casa Branca em 2016.  Eu já nutria desconfiança em relação às notícias publicadas em jornais, sobretudo porque tive uma passagem de vida perto dos holofotes e de personalidades públicas em minha infância e adolescência. Na minha Belo Horizonte natal, eu sabia que, por detrás das fotos e notícias de jornal, havia realidades muito diferentes, muitas tragédias escondidas sob sorrisos e anúncios falsos. Isso foi transposto à mídia social e o fake , o mentiroso, ainda persiste, projetando miragens distanciadas da realidade, mentiras criadas especialmente para destruírem reputações, prejudicar pessoas, falsear eleições, limitar idéias e, sobretudo, parasitar o...

A democracia-ditadura: o poder sem representação

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É muito interessante - e preocupante - observar o que está acontecendo no Brasil . Onde havia instituições dedicadas à administração da Justiça , vêem-se tribunais da Inquisição e enormes recursos dedicados à vingança e à perseguição a todos os que representam o dissenso.  Nenhuma maquiagem de "legalidade" das ações judiciais denunciadas por mídias alternativas serve para esconder sua ilegitimidade e seu caráter absolutista, ditatorial. Qual seria a razão de a balança ser o símbolo da Justiça ? Ora, a real justiça é feita por sábios que se informam, ponderam e tomam decisões buscando a paz social, não o estímulo ao conflito, à desarmonia. Quem busca a assistência judicial almeja o fim do conflito e um judiciário que estimula a divisão é um judiciário equivocado, falso. Por isso abomino - sempre abominei - a falácia da Justiça Social , que é um termo cunhado para justificar a Vingança travestida em Justiça . O objetivo de uma sociedade organizada é a Paz Social , não a violên...

Toxicidade política: um plano dos maus

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Constatar uma realidade ou algo não implica em utilizar a imaginação, mas apenas somar fatos numa sequência lógica mensurada no tempo. Ainda que se diga o contrário, acredite no que você vê e ouve à sua volta, antes de concluir algo . A política , na era do mundo hiperconectado e das mídias sociais, atualmente representa o tóxico , o perigoso , o desagregador .  Em 2018 já estava claro para onde se caminhava. 2022 está sendo um ano extremamente desagradável para aqueles que, como eu, se interessam e desejam ter algum engajamento político moderado, racional e ético . E assim constato: a política tem sido  o inverso do que se espera de sua função .  A política deveria ser o meio em que diversas expressões e idéias são expostas e se chocam, produzindo um ambiente onde valores e objetivos minimamente partilhados reforçarão o elo necessário para que a sociedade se desenvolva , prospere e perpetue-se. A política precisa, entretanto, de uma  base sólida para ser funcio...

O Salvador: um imaginário brasileiro, manipulável.

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Manipular o imaginário brasileiro não é tão complexo como poder-se-ia pensar. Além de sonhar com um Salvador da Pátria, o brasileiro sonha em abolir a corrupção e aquele que prometer tal feito, de forma mais crível, receberá votos. Simples assim. Tendo sempre sido um país profundamente corrupto, a despeito das maravilhosas leis  e discursos que povoam sua história, o Brasil é como aquele time talentoso que jamais ganha um jogo. A frustração dos brasileiros de todos os matizes é constante. Visitemos os mais conhecidos paladinos da moralidade da história recente brasileira. Em 1960, Jânio Quadros exibia sua vassoura que varreria os ladrões da administração pública. Esse formato divertido e acessível convenceu boa parte da população, tendo-o eleito na esperança de salvação do país. Jânio viria a renunciar à Presidência da República em 1961, sete meses após tomar posse. Daí em diante, a irresponsabilidade daquele demagogo iniciou a sequência desastrosa de fatos desagregadores, cul...

Lei ANTI-DESPACHANTE, também conhecida como lei 13.460/17

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Para muitos, passou desapercebida a publicação da lei sobre a  participação, proteção e defesa dos direitos do usuário dos serviços públicos prestados direta ou indiretamente pela administração pública. Acho que é um grande avanço , pois ainda que o Código do Consumidor previsse aplicar-se ao consumo de serviços públicos, faltava algo objetivo para reger a relação consumidor de serviços públicos e o estado brasileiro. A modernização do estado brasileiro é uma necessidade, inclusive para progressivamente fazer desaparecer o que me parece a melhor representação do terceiro-mundismo: os despachantes. O cidadão precisar de um intermediário para obter serviços públicos, para mim, é um sinal acintoso de ineficiência. A lei vem para melhorar essa relação, portanto, didadicamente vou transcrever seus pontos mais importantes: DEVERES DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS Será promovida a adequada prestação dos serviços, devendo os agentes públicos e prestadores de serviços públicos obse...

Brasilianistas e bobagens fundamentais

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Tenho lido vários jornais brasileiros, especialmente o Estadão, trazer opiniões de diretores de institutos de pesquisa estrangeiros focados no Brasil. São todos gringos que estudam, comparam o Brasil com outros países, alguns viveram um pouco ou ficam viajando ao Brasil. Eles se esforçam para traduzir o que é o país, de forma generalizada e maniqueísta (obviamente pela limitação de seu contato com o país, no tempo e grupos frequentados) a outros gringos. Conheço vários brasilianistas e acho seu trabalho extremamente útil, só que usar esse pessoal para emitir opinião sobre o que está acontecendo e vai acontecer no Brasil, me parece o fim da picada editorial. No país administrado a milhares de km da população - Brasília é um erro e a concentração de poderes lá é um absurdo gerencial - a distância entre demanda e gente com poder para agir já é desastrosa. Municípios e estados deveriam, num novo Pacto Federativo, assumir responsabilidade sobre suas populações (política e economicam...