Dilema desnecessário: entre apatia e ativismo

Em uma era em que a lente de aumento parece ser a regra para enxergar e enquadrar todas as relações, resultado da exponencialização da raiva (e em medida muito limitada, do amor) promovida pela hiperconectividade, muitos parecem tentados a assumirem posições radicais: alienarem-se ou virarem ativistas.

Lembro-me bem, durante minha campanha política fracassada, que qualquer um que gostasse de cachorros, bicicletas, a natureza ou corridas deveria se auto-denominar ativista para gozar de credibilidade nas convicções que emitia, segundo o folclore.

É certo que há valores comuns na sociedade como um todo, garantido manter-se coesa, mas a idéia da defesa "radical" de bandeiras, sejam boas ou más, é ruim e deve ser sempre considerada como marginal.

A razão da manutenção necessária do estado de marginalidade do ativismo advém do fato que sempre a maioria esmagadora das pessoas terá pouco interesse, pouco ou nenhum conhecimento das matérias tão caras aos tais ativistas (ONGs, grupos políticos ou de pressão, sindicatos, os tais "movimentos sociais" tão alardeados pelos ativistas de esquerda, etc.). Essa grande maioria não pode ter seu destino influenciado ou definido por radicais, já que o que para o ativista é sua razão de ser, bandeira pela qual dá sua vida, tem muito menor importância ao ser comum que tem diversas outras prioridades não-coincidentes com as do tal ativista.



Como a definição acima bem orienta o leitor, o ser radical tem viés de confirmação, o tempo todo.

O ativista apenas busca dados - daí tantos pesquisadores bitolados, PhDs, acadêmicos integrando grupos enviesados, antros criadores de ativistas fundamentalistas, só sendo superados por líderes religiosos fanáticos ou sindicalistas - que confirmem suas idéias e sua ideologia.

Eles não experimentam outras fórmulas, outras dimensões existenciais, achando que todos os que não concordam com ele estão errados.

A experiência de vida, ou vivência, ajudaria, em princípio a abrandar sintomas do radicalismo. Só que a decepção diante da maioria cega sobre aspectos muito fundamentais (como combate incessante ao crime e ao terrorismo, valorização da segurança sobretudo da mulher, etc.) poderá incentivar certo radicalismo. 

Acredito, sem estar embasado em critério científico, que muitas das vezes a decepção diante da ignorância ou má-vontade geral em enxergar fatos óbvios gera mais desgosto e desprezo, do que a pulsão para promoverem-se ações radicais contra aqueles incapazes ou sem desejo de verem coisas óbvias demais para serem explicadas.

O interessante é ver quantas pessoas mais velhas e experientes utilizam-se dos jovens apaixonados - e mal informados, ou mesmo programados mentalmente - como seus instrumentos de poder e desarticulação social. A tal Greta, agora uma adulta, é o poster desse método execrável de programar ventríloquos para destruírem-se organizações e sistemas.

Recentemente, vi o caso de uma professora com todos os títulos que um ser acadêmico pode almejar, organizando atos violentos contra símbolos do capitalismo, seguida de seus aluninhos mais radicais. Ela foi identificada e presa, mas não faltaram ativistas financiando sua defesa para que ela retorne às ruas para causar mais caos e destruição.

Outro caso é do rapaz de família com muito dinheiro, que cursou ótimas escolas e foi mesmo orador de turma, mas que para deixar sua marca contra o modelo capitalista norte-americano ficou de tocaia e emboscou o presidente de uma grande companhia seguradora em Nova Iorque. 

A pobre vítima, que havia trabalhado mais de 20 anos na mesma empresa até virar seu presidente, pai de crianças pequenas ainda, originário de uma família pobre, mas que viveu o sonho americano da ascensão por puro mérito sem nome de família famoso, nem mesmo enxergou de onde veio o primeiro tiro, pois o ativista, covarde, o atacou pelas costas de forma totalmente indefensável. 

O jovem, certamente com problemas psicológicos, teve no radicalismo dos meios que frequentou, inclusive escolas, estimulantes para sua ação ignóbil. Pior: recebe agora aplausos de descerebrados, pessoas sem qualquer valor para viverem em sociedade.

Os atos antisemitas nas universidades ocidentais (muito mais frequentes e violentos do que em países árabes, note-se) tem sido promovidos em modo doentio por radicais que desconhecem até mesmo o nome do mar e do rio que urram como fronteiras de um possível estado totalmente palestino e livre de judeus.

HÁ OPÇÕES

A todos, especialmente aos jovens, há mais opções do que simplesmente ignorarem a realidade (a despeito da liberalização das drogas, que permite um escapismo consumista com danos cerebrais progressivos, mas graduais, "seguros") ou tornarem-se ativistas e radicais.

O amor à informação e ao conhecimento, próprio do ser humano, tende a prevalecer sobre os extremos da apatia ou ativismo. Daí que, ao final das contas, a despeito do enorme sofrimento infligido às sociedades pelos ativistas, sobretudo aqueles que conseguem chegar ao poder pela via do voto ou da violência, o bem parece prevalecer.

Veja-se atualmente o decrepto e inepto governo canadense, dirigido por um professor de drama de escola, incapaz de julgar assuntos mais básicos, e seus aliados ativistas que ignoram e orgulham-se de ignorar a realidade do país e dos seus cidadãos. 

O governo atual do país gelado tem deixado há anos um rastro de violência e abuso de poder, de descontentamento e um balanço econômico e de endividamento trágico. Ele passará, virão pessoas de bom senso, mas o atraso imposto poderá chegar a uma geração, apenas porque ativistas tomaram o poder e para tirá-los devem ser observadas as regras do jogo, ainda que "eles" promovam medidas de estado de exceção.

Da mesma forma que julgamento e condenação rigorosa de um criminoso pela própria vítima traduz-se em vingança, não em justiça, ativistas são úteis para alertarem para certos assuntos e trazerem informação ao debate. Eles jamais se prestam para fixarem políticas públicas ou assumirem o poder. Está provado que ativistas, auto-denominados ou assim percebidos, buscam vingar-se, mudar o mundo sob uma visão radical, parcial e sectária que se encaixe em seus delírios, já que são revoltados contra tudo e contra todos.


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