Texto e contexto: aqui, acolá e a censura.

Como meus fiéis leitores sabem, desde 1998 passei a escrever regularmente no jornal O Estado de Minas, abordando todos os assuntos da hora, jurídicos, econômicos, das relações internacionais e políticos (política brasileira e mundial). Usando alegorias, humor e crítica, tenho dado minha contribuição ao pensamento coletivo e tive sempre excelente receptividade de quem aprecia cacoalhadas mentais.

O saudoso jornalista Dídimo Paiva foi meu guia e guru na jornada inicial de articulista, tendo-me motivado e convidado a contribuir semanalmente à Editoria de Opinião do jornal. 

Dídimo reconheceu meu pertencimento a uma geração que valoriza profundamente a liberdade de opinião, geração saída da época negra do regime militar brasileiro onde a censura existia e era praticada com violência física, social ou psicológica. Ele dizia: transforme seu conhecimento em reflexão a nossos leitores!

A desmaterialização do jornal, que já teve a maior circulação nesse estado de mais de 21 milhões de habitantes, causou a migração do meus artigos ao blog UAI

Antes do fim do mandato do último ex-governador petista do estado, que não apreciava aqueles que davam ressonância a denúncias de corrupção contra sua gestão e do seu partido em geral (que acabou por ter uma presidente impedida no Congresso e que havia causado uma derrocada econômica monstra em 2015), o jornal, onde eu escrevia havia quase 20 anos, convidou-me a não mais enviar contribuições pois não as publicaria. 

O editor do blog, Jorn. Benny Cohen, havia me ligado e, constrangido, sabendo de minhas contribuições voluntárias (jamais recebi qualquer remuneração pelas colunas, como todos aqueles não-jornalistas que se fazem ler contribuindo à editoria de opinião do jornal/blog) e sinceras, informou das pressões insuportáveis que recebia do Palácio da Liberdade (sede do governo de Minas Gerais). Os poderosos do momento exigiam meu "desligamento". Caso contrário, o governador poderia cessar a publicidade no meio de comunicação... 

Desde então, passei a fazer backup de artigos neste blog, criado já em seguida à minha mudança para o Canadá, onde vim perseguir objetivos acadêmicos (doutorado) e profissionais (sou membro da ordem dos advogados do Québec).

Passei também a contribuir com outros órgãos de imprensa.

Recentemente, tive uma experiência desagradabilíssima em um local percebido, por quem não mora no Canadá, no Québec, ou em Montreal, como respeitador da diversidade (étnica, religiosa, de opinião, etc.) e da liberdade em todas as suas formas e expressões. 

Constatei a duras penas que não é bem assim..., sobretudo quando se trata do establishment da província onde moro, o Québec e de sua capital econômica, a (pretensa) cosmopolita Montreal.

O post de hoje é um pequeno relato de minha experiência quebeca.

Registrarei nesse texto, ainda que em forma muito sumária, alguns fatos relevantes. É minha forma-método de digerir o que passei, não visando buscar aprovação ou julgamento. 

Eis um simples relato que servirá a entender um pouco melhor esse mundo maluco em que vivemos com a esperança de que a luz substitua as trevas.

Ato 1 - o cidadão voluntário 

A vida comunitária do meu bairro de Montreal, chamado Outremont, é bastante ativa e comecei atos de voluntariado por meio de um organismo chamado Outremont en Famille, desde sua fundação. Esse organismo visava acolher  e socializar famílias com crianças até 12 anos (portanto cobrindo a idade de uma de minhas filhas à época de minha mudança para o Canadá). Fui muito bem acolhido e passei a ter a impressão de que a participação era valorizada por todos, em tudo, no meu novo local de residência.

Ajudei a organizar feiras, quermesses, corridas inclusivas, para todas as idades, pelos belíssimos parques desse lindo bairro, conhecendo pessoas e passando progressivamente a sentir-me verdadeiro partícipe de uma festa democrática, inclusiva e sem preconceitos (já que eu era um imigrante latino-americano em meio a locais e também outros imigrantes, inclusive europeus, notadamente franceses que pelo idioma ambientam-se com maior facilidade).

Um novo campus estava sendo edificado em meu bairro, pela Universidade de Montreal, onde leciono desde 2014, e em comum acordo com vizinhos, um grupo facebook foi criado visando acolher idéias e promover o diálogo para identificarmos impactos e desafios gerados pelo grande volume de pessoas, seus carros e bicicletas em nosso bairro.

Ato 2 - política 

Trabalhando no ramo do Direito desde 1985, quando entrei na UFMG, tinha muita curiosidade em ir além de investigar ou aplicar leis na qualidade de advogado, professor universitário ou pesquisador. 

Entender como leis são negociadas e feitas é um exercício necessário a qualquer pessoa que se queira ativa em sociedade. Sou um sujeito ativo, gosto de tentar entender o que se passa no mundo onde atuo. Baseado em minha trajetória, recebia incentivos de amigos e conhecidos de que poderia trazer boas idéias e práticas à gestão pública. 

No Brasil, a violência fez mais de 80 mortos na política apenas em 2020. Eu não havia pensado em engajar-me ativamente na política em um país tão violento. Inimizades políticas no Brasil podem custar sua própria vida...

Já no Canadá, um país tido por mim, alegre imigrante, como avançado, civilizado e promotor da diversidade, pensei: por quê não

Eu havia sido muito bem acolhido pela comunidade local, recebido apoios pelas causas defendidas (família, patrimônio local, bem-estar...), diziam que eu era sociável, articulado e a política poderia ser um caminho natural... 

Eu discretamente apoiei, em 2017, a eleição de prefeito e vereadoras em meu bairro e passei a integrar, em 2018, o Comité de Boa Vizinhança da administração recém-eleita cujos membros integram partido local cujos detalhes e funcionamento eu desconhecia, chamado Projet Montreal. Uma das candidatas, Valérie Patreau, era francesa e havia sido minha colega de Conselho de Administração em Outremont en Famille. Sua filha frequentava minha casa, pois havia sido colega de minha filha na escola. Outra candidata, Fany Magini, era esposa de um ex-colega, advogado no escritório onde trabalhei. Achei que apoiar gente conhecida, em uma nova iniciativa política local, seria boa idéia... Ledo engano. 

Após 1 ano no poder, entretanto, a administração local passou a atuar de forma anti-democrática no entender de grande parte da população local. O estopim da crise política foi a introdução, em maio de 2019, de novas regras de circulação e estacionamento. Tal ato imperial foi enfrentado nas ruas por quem entendeu que tal mudança exigiria uma prévia e ampla consulta pública. 

Fui até mesmo a uma sessão do conselho municipal, órgão deliberativo que se reúne ordinariamente todo mês e onde os cidadãos podem apresentar seus argumentos e fazerem-se ouvidos pelos eleitos, para protestar contra a forma como estavam sendo introduzidas mudanças tão estruturais no bairro. Meus apelos, assim como de diversas outras pessoas, foram em vão e a imposição seguiu adiante. Em outros assuntos também, o método Projet Montréal de fazer foi-se revelando dogmático, sectário, impositivo, distorcendo a democracia por meio de estratagemas escusos e sem transparência.

Sendo assim, em plena pandemia, o movimento-cidadão transformar-se-ia em movimento político, caso quiséssemos mesmo contribuir para a melhoria da democracia e da governança em nosso pequeno bairro de pouco mais de 25 mil habitantes. Convidado por Marc Poulin, cidadão local muito conhecido (e de certa forma polêmico), que viria a ser o presidente da nova agremiação local, juntei-me a outras pessoas e fundamos o partido chamado Citoyen.ne.s Outremont (em português: cidadãos e cidadãs de Outremont).

A partir daí, o partido passou a fazer consultas aos cidadãos sobre diversos temas e assuntos, colhendo interesse de pessoas que desejariam tornar-se candidatas nas eleições de 2021. 

Eu não tinha intenção em lançar-me candidato, pois pragmaticamente sabia que não conhecia suficientemente o mundo político, as intrigas locais, não tendo patrono ou guru político local que poderia guiar-me em tal aventura.

No início de 2021, Denis Coderre, o ex-prefeito de Montreal, derrotado por Projet Montreal por poucos votos em 2017, fez contato com Marc Poulin desejando uma aliança e assim evitar a divisão de votos, que se ocorresse poderia levar a uma reeleição da equipe local que tanto achávamos ruim.

As deliberações internas sobre a potencial aliança foram muito traumáticas e até mesmo tóxicas.

Eu não conhecia Denis Coderre pessoalmente, mas havia lido muita coisa ruim na imprensa sobre ele, a despeito de ter sido ministro da imigração e dos esportes no governo federal de Jean Chrétien e não haver nenhuma acusação de corrupção. As denúncias que pesavam sobre ele abrangiam seu comportamento por vezes arrogante, mas não havia nada sobre ser incompetente ou corrupto, sendo para mim esses últimos  requisitos os mais importantes para uma aliança. 

Após difícil deliberação, visando o pragmatismo de uma eleição que poderia ser dramática no meu bairro, optou-se pela aliança. Nosso partido perdeu membros, tendo sido severamente criticado tanto dentro quanto fora de seu diretório. Um partido local concorrente viria a ser criado em curto prazo... assim dividindo o voto.

A despeito do anúncio da aliança e dos candidatos em junho de 2021, não havia candidato em um dos distritos do bairro. O distrito Claude-Ryan significava uma candidatura-kamikaze, ou suicida. Trata-se de um distrito dominado por comunidades judaicas ultra-ortodoxas, chamadas hassídicas. Seus membros seguem tradições rígidas e politicamente agem e votam em bloco. Oito anos antes haviam eleito um dos membros da comunidade religiosa como vereadora do distrito, sendo reeleita em 2017. Havia poucos indícios que mudariam o rumo pois esta vereadora entrega o que os influentes da comunidade lhe ordenam.

Ainda assim, em virtude da importância da eleição de um prefeito local no bairro de Outremont e potencialmente a mudança do prefeito de Montreal, apresentei-me como voluntário a candidatar-me em Claude-Ryan. 

Sendo filho de pai judeu e de mãe católica, minha candidatura poderia ser bem vista pela vizinhança como sendo moderada. 

Ex-diretor de relações institucionais da FISEMG (Federação Israelita do Estado de Minas Gerais), recebi carta de apoio do Dr. Silvio Musman (ex-presidente da FISEMG e cônsul honorário de Israel para Minas Gerais), pois em meu bairro circula um discurso de haver antisemitismo sistêmico (carta postada ao final desse post). Eu gostaria, assim como tentei fazer no Comitê de Boa Vizinhança, de ajudar a melhorar a convivência e reduzir tensões. 

Minha candidatura foi aprovada por todos, mas fui advertido pelo candidato do grande partido municipal: agora tudo o que você falar ou escrever passará pelo controle de nossa equipe de comunicação.

Começava ali minha saga política de imigrante que um dia achou ser possível lançar-se em política municipal, por um micro-distrito, sem ter patronos poderosos.



Candidatura local anunciada, fui ao trabalho. Suspendi meu doutorado, parei meus trabalhos junto a clientes, e passei a buscar entender como se faz uma campanha.

Meus colegas locais de partido, para Outremont, salvo a candidata Marie Podvin (sempre atuante na política local, integrante da nata social do Québec) eram também neófitos da política. 

Caroline Braun tem verve política e conta com grande apoio e experiência de sua mãe, que foi prefeita de Outremont por 10 anos. Isso lhe rendeu ser vitoriosa na primeira campanha que a elegeu vereadora. Eu já conhecia e admirava Caroline, pois na questão das regras de estacionamento ela liderou protestos, sendo muito articulada e boa conhecedora da sociedade local. Assim como Marie, é integrante da sociedade tradicional do Québec (ou como se diz localmente: pure laine). Ela não havia integrado o partido fundado em 2020 por mim, Marc Poulin e outros, pois é provável que já estava negociando algo com o partido de Coderre.

O candidato Philippe Guertin é também um tradicional integrante da sociedade do Québec. Bom conhecedor do bairro e dos seus problemas, sobretudo comunitários, é  um renomado profissional do marketing. Sua campanha política teria tido êxito, não houvesse uma antiga amiga de sua família, ex-vereadora, se apresentado e dividido os votos, assim garantindo a desastrosa reeleição de Valérie Patreau (minha antiga colega de conselho de administração de Outremont en Famille) e a continuidade de pessoas ruins na política, como explicarei mais adiante.

O candidato a prefeito Laurent Desbois era para mim total desconhecido até o início da campanha eleitoral. Residente do bairro desde quase sempre, de família tradicional do Quebec, ele não havia participado em nenhuma ação comunitária local até virar candidato. Apresentado por Marc Poulin ao partido, Laurent não foi escolhido por ser o preferido, mas por ser o único que ousou apresentar-se a enfrentar o prefeito local nas eleições de 2021 e a máquina política do partido que domina a cena em Montreal desde 2017, Projet Montreal.

Ato 3 - Assassinato de reputações #1

Romeu Tuma Júnior escreveu livro com esse título em 2013. Nele, demonstra em detalhes como a esquerda moderna, inspirada por políticas trotskistas e stanilistas, ao invés de eliminar fisicamente dissidentes e inimigos políticos (o que em algo que se chama "estado de direito" seria condenável, diferentemente da época da ditadura bolchevique), utiliza amigos na mídia tradicional e nas mídias sociais para tentar destruir candidatos ou governantes, impossibilitando a continuidade de suas carreiras políticas (muitas vezes sua própria subsistência). 


Ou seja, é uma estratégia política destruir a reputação dos opositores, já que normalmente estes não seriam derrotados na urna, no voto. 

O conceito se aplica como uma luva à eleição municipal de Montreal em 2021. Veremos...

Em 2019, quando cidadãos de Outremont passaram a denunciar os administradores públicos locais pelo desrespeito a um referendo proibindo a instalação de locais de culto em artérias comerciais e o plano de circulação e estacionamento como uma grande mentira, a máquina de destruição de reputações no bairro se pôs em marcha.

Ainda em 2019, a partir das manifestações de rua e nas mídias sociais denunciando que a justificativa ecológica do novo estacionamento era apenas uma desculpa para arrecadar mais impostos, ativistas odiosos locais passaram a se revelar.

Uma certa professora-PhD que mora no distrito onde resolvi me apresentar como candidato em 2021 é uma super-ativista climática do tipo que doutrina os próprios filhos para a guerra dos povos, chamada Sarah Dorner. Em 2019 essa cidadã passou a ameaçar membros da comunidade local caso se insurgissem contra a salvação ecológica do planeta que passava pela reforma do estacionamento do seu partido Projet Montréal. Essa pessoa integrava o grupo facebook privado (já citado) Diálogo Cidadão de Outremont, mas foi por mim excluída, pois utilizou aquele espaço para ameaçar uma das integrantes que era do conselho de administração de uma ONG dizendo que a denunciaria por ser contra a salvação do planeta. 

Diante dos absurdos propostos em Outremont vinculando estacionamento e salvação do planeta, denotando o caráter dogmático de seus apoiadores, na mesma época em 2019, a residente Laura di Lorio perguntava no Facebook por quê a administração local não salvava os parques do bairro, ao invés de falar em manifestação global sobre o clima de 2019. Sobre tal comentário, dei minha contribuição convidando membros do grupo a conhecerem documentário premiado sobre o clima e a polêmica dos experts. Essa tal Sarah pegou meu post e denunciou, à época, que eu era negacionista... Não houve efeitos, mas ela voltaria ao tema durante minha campanha política, mais feroz, mais mordaz, autorizada pelo seu partido a promover o assassinato da minha reputação.

Adiantando 2 anos, vejamo-nos em 2021. Estou em plena campanha eleitoral, o partido ao qual havia me associado, Ensemble Montreal, conseguia projetar razoavelmente seus candidatos e seu chefe Denis Coderre com reais chances de eleição. O otimismo durou pouco.

Foi a partir daí que a estratégia do partido no poder, Projet Montreal e de seus militantes de assassinar reputações em Montreal foi posta em marcha.

Eu realmente não esperava por tanta agressividade... tanta maldade e tanta mentira bem coordenada ao ponto de destruir as chances do Denis Coderre em ser eleito (não que ele fosse o candidato ideal, pois no contato com eleitores ficava clara sua elevada rejeição, promovida exponencialmente por uma mídia alinhada com Projet Montréal e o que muitas pessoas chamam de progressismo... como se destruir a democracia pudesse ter algo de progressista...).

Ato 4 - Assassinato de reputações #2

Como não havia candidatos da aliança do meu partido no distrito Claude-Ryan, lancei-me de corpo e alma numa campanha difícil.

A partir daquele momento fui advertido pelo partido que não teria direito a me declarar isoladamente, nem expor minhas idéias, justificativas ou ter contato com a imprensa (de qualquer tipo ou forma): tudo seria centralizado na pessoa do Denis Coderre e na "equipe de comunicação do partido". A partir dali eu deveria me auto-censurar. Tudo poderia ser utilizado contra mim na política... indicando a toxicidade à qual deveria me preparar... só que eu não sabia que deveria temer muito mais o fogo-amigo.

Como já disse, Denis Coderre eu não conhecia. Jamais me pareceu ser má pessoa, a despeito do culto à personalidade já demonstrado no passado e nas reuniões de partido às quais compareci. Eu achava graça e me era indiferente, desde que eu pudesse apresentar minhas idéias pessoalmente aos meus eleitores.

Já a tal "equipe de comunicação do partido" foi um caso à parte. Pessoas muito jovens - talvez custavam mais barato que grandes nomes do marketing político do Québec, não tenho idéia do critério de contratação  - estariam responsáveis em monopolizar as palavras e as idéias dos candidatos que se apresentariam sob a bandeira do partido do Denis. Aí está meu primeiro ERRO ao entrar na política com ESSE partido.

Não se ganha uma eleição sem uma super-equipe de marketing e planejamento. Os bebês em marketing de Ensemble Montréal, desde o início, demonstraram ser reativos, despreparados a enfrentar a máquina de um partido de esquerda que utiliza estratégias trotskistas como Projet Montréal. O preço que não apenas eu, mas outros candidatos pagaríamos, seria elevadíssimo.

Para fazer uma longa história curta, na noite do dia 5-6 de outubro de 2021, ou seja, mais de dois meses depois de iniciada minha jornada de candidato buscando 1.400 votos no meu distrito para tentar ser eleito vereador numa candidatura-kamikaze, recebo um telefonema da chefe da equipe de comunicação: "não atenda seu telefone!", "apague posts do Twitter!", "estamos com um problema enorme com algo que você postou!" 

Um tal reporter climático de um grande meio de comunicação local, ligado à tal ativista Sarah, iria publicar uma BOMBA sobre mim e eu deveria estar preparado.

Eu pedi explicações à tal chefe de comunicação, mas ela não detalhou, apenas dizendo que estariam administrando a crise para "salvar minha candidatura"...

Ficava óbvio para mim que certamente eu seria apenas a ponte para atingir-se o candidato a prefeito de Montreal, Denis Coderre...

No dia seguinte, eu finalmente viria a saber a razão do fuzuê em torno da minha pessoa:

a - Em comentário meu a uma reportagem do National Post no Twitter, de setembro de 2020, apontei interesse de auto-promoção por um cidadão de Ottawa em aproveitar-se da onda norte-americana de ativismo para desfinanciar a polícia em plena pandemia resultando do movimento BLM, criticando a abordagem policial por uma pretensa placa vencida. Segundo me disseram, o tal reporter climático, havia "descoberto" o fatídico Twitter e induziria leitores à conclusão de que eu teria sido racista justamente porque o cidadão em questão era negro. Ignorantes e pessoas de má-fé poderiam chegar a tal conclusão, sobretudo se não tivessem contextualizado o assunto à época. 

A equipe de comunicação do partido deveria ter contextualizado e explicado ser eu mesmo imigrante latino-americano e ativista contra discriminação havia mais de 20 anos, amante da lei e da ordem e crítico de Projet Montreal nos últimos 2 anos apenas. Eu estaria sendo já naquele momento objeto de um ataque covarde e difamação, mas foi-me proibido - caso quisesse manter-me candidato - defender-me diante das câmeras.

b - O tal documentário climático de 2019 que a ativista Sarah tinha utilizado contra opositores ao plano de estacionamento do seu Projet Montreal veio novamente à tona, agora sob as lentes do tal repórter amigo da professora radical. Eu seria, além de racista, negacionista, inimigo da humanidade. Enfim, eu seria uma pessoa abominável... algo altamente conveniente eleitoralmente tanto no meu bairro, quanto para a sucessão metropolitana.

O posicionamento de Denis Coderre a meu respeito, piorado por sua equipe de comunicação, não poderia ter sido mais desastroso para mim e para sua própria campanha. Ele tentaria se redimir parcialmente 20 dias depois, mas seria tarde demais para mim.

No dia 8 de outubro, o reporter ativista publica o "furo de reportagem" e o dissemina para seus colegas, amigos em outros meios de comunicação, criando o efeito-onda do assassinato de reputações. Interessantemente, o post climático de 2019 passou a constar como se tivesse sido feito em 2021, para piorar minha situação, numa sequência de mentiras e manipulações desconectadas de fatos e contextos. 

Em resumo, os jornais diziam que o tal Tweet e o convite a assistir o documentário climático me tornavam incapaz de ser candidato a um posto eletivo e que Denis Coderre não sabia com quem andava...

À mentirada de ativistas travestidos de jornalistas somou-se a incompetência da equipe de comunicação de Denis Coderre não entender o que estava acontecendo e ele vir a público dizer que não concordava com meus comentários. Ora, ele nem sabia do que se tratava!

Se desejavam criar confusão, então tiveram êxito total. Ao invés de denunciar o absurdo, o complô organizado por simpatizantes do partido Projet Montréal e seus amigos ativistas-jornalistas, a equipe Coderre jogou lenha ao fogo.

E Projet Montreal começou, certamente, a comemorar a incompetência eleitoral de Ensemble Montreal e a débâcle anunciada de Denis Coderre, pois se o candidato majoritário não sabia nem mesmo do que estava falando ou como defender algo legítimo, seria alvo fácil da estratégia do assassinato de reputações

Sim, caro leitor, hoje isso tudo parece ridículo. É kafkiano, mas é o que aconteceu  e lamentavelmente ainda persistem matérias irresponsáveis, sujas e difamatórias a meu respeito.  

Quando vi o desastre de comunicação e a lesão à minha reputação, acusando-me de algo contrário ao que fui e sou, avisei ao diretor de campanha: vou cair fora pois é um absurdo e não concordo como vocês estão lidando com o assunto

Ele me sugeriu: isso é a política, aguente firme pois daqui a 2 dias todo mundo esqueceu o assunto.

Eu aceitei o conselho, mas naquele momento já deveria ter pulado fora, pois ficava evidente a incompetência da equipe de comunicação em lidar com a guerra de desinformação e a campanha de sujar candidatos promovida por Projet Montreal, como foi se comprovando a cada semana.

Finalmente, 20 dias depois daqueles dias terríveis, esse blog foi "descoberto" pela ativista Sarah e seu comparsa em métodos bolcheviques, o também professor-ativista-radical Ted da universidade Concordia. Encontraram um brasileiro simpatizante do método do assassinato de reputações e vasculharam todo o meu blog escrito para brasileiros visando descobrir algo que reforçaria a tese mentirosa lançada dias antes. 

Mal e porcamente, isolaram uma frase desse post dizendo que eu denegria a memória da vítima do assassinato policial e reativaram sua rede de divulgação de mentiras jornalísticas.

Já tendo perdido importante contrato perante uma instituição financeira em decorrência da difamação iniciada em 6-7 de outubro, e reconhecendo a incompetência da infantil equipe de comunicação de Ensemble Montreal em enfrentar ataques mentirosos contra candidatos, decidi abandonar essa pantomima e cuidar de mim, da minha família e do meu futuro.

O desastre já se anunciava e Denis Coderre submeteu-se ao linchamento público  promovido por Projet Montreal como um carneiro que vai ao próprio sacrifício. Sua campanha foi marcada pelo medo, sempre na defensiva e ignorou o que enfrentaria, os instrumentos covardes da sua oponente e dos militantes inescrupulosos aliados a uma pseudo-imprensa.

Ele perdeu a eleição de forma absolutamente vexatória e saiu da vida política para sempre.

Eu estou colhendo os cacos do que restou e buscando conforto emocional e psicológico nos amigos verdadeiros, já que de amizades-utilitárias a vida de bairro está repleta.

Epílogo

Desisti de minha candidatura menos de 2 semanas antes das eleições.

Os amigos verdadeiros e familiares rapidamente me ligaram realçando o sentimento que política é suja, é horrível e que eu deveria ter-me mantido distante.

Ao desistir, recebi também vários emails e telefonemas de apoiadores, simpatizantes, militantes, contribuintes, furiosos com o que aconteceu e se oferecendo para pagar honorários de advogados para eu processar a mentirosa da prefeita e outros eleitos, os ativistas, os jornais, o partido da prefeita, etc.

Entendi a revolta dos meus eleitores, frustrados diante da violência, força e impunidade concedida aos meus algozes.

Processo judicial custa caro e demanda tempo, dedicação.

O sistema é desenhado para beneficiar os que querem a guerra, não os que prezam a paz e o jogo leal.

A tal vereadora, Valérie Patreau, cuja filha eu acolhi diversas vezes em minha casa e que apoiei na eleição de 2017, publicou tweets me chamando nomes... reproduzindo o lixo que sua colega de militância Sarah vinha produzindo, inventando e postando desde 2019 e que foi colocado em tantos jornais e blogs.  Arrependo de ter dado a ela o benefício da dúvida, mas deveria eu ter descido ao seu nível, ao esgoto em que rasteja e os membros do seu partido, para sentir o ódio que sentem e destilam, para buscar o poder? Ou estar próximo de quem detém o poder? 

O ato de votar é facultativo no Canadá.

Meu testemunho comprova que atos como aqueles que sofri estão destruindo essa democracia, pois os cidadãos estão se mantendo longe da política, seja não se candidatando, seja deixando de votar.

A participação do eleitorado nas eleições municipais de Montreal está caindo vertiginosamente. Em 2021, apenas 38% dos eleitores foram às urnas... (43% em 2013, 42% em 2017...)

Fui (e continuo sendo, já que pesquisas google e outro remetem à campanha de difamação continuada, o cyberbullying que não se apaga facilmente) vítima de métodos de supressão de opositores de um partido político dogmático, composto de eleitos e militantes dogmáticos, perigosos, agressivos, com amigos na poderosa mídia. 

Eles não são o maior problema. Eles são identificáveis.

O problema é o silêncio dos moderados. É a ausência de auto-controle da mídia, que destrói reputações impunemente. E o poder sem responsabilidade é o primeito passo à tirania.

Não restam dúvidas sobre a origem da cultura de cancelamento ("cancel culture"): é uma invenção totalitária. Silenciar dissidentes, dissidências, opiniões dissonantes compensa não apenas na Rússia de Putin, na Turquia de Erdogan, na Belarus de Lukashenka... Montreal se mostrou campo propício a tal ação política por quem está no poder também.


NOTA 1 - reservo-me o direito de editar esse post e suas versões. Esse blog é pessoal - reflete minhas percepções, opiniões e não devo nada a ninguém sobre o exercício de minha liberdade de expressão e opinião. Sou um ser pensante e livre e não posso me responsabilizar por quem se nega a exercer rigorosamente seu direito de informar-se antes de opinar ou criticar. Não posso responsabilizar-me por pessoas acéfalas, que compram notícias fabricadas e acham que as mídias sociais podem continuar sendo a latrina onde o ódio é livremente destilado e linchamentos coletivos contra inocentes devem passar impunes.

NOTA 2 - se você não é brasileiro, certamente não vai entender uma boa parte desses escritos, pois google translate não tem qualquer valor em interpretar textos.

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