O Brasil atrás das grades

Palocci, preso. Mantega, preso. Diretores da Petrobrás, presos. Outros mais petistas, presos ou sob risco de serem presos. Políticos do PMDB, presos ou sob risco de serem presos. Políticos do PSDB investigados. Acionistas e diretores da OAS, Odebrecht, Mendes Junior, Andrade Gutierrez, presos.

Eles se juntam aos brasileiros, que estão presos há décadas.

Como assim?



A violência brasileira atinge a todos, por todos os ângulos.

Resolvi hoje explorar um pouco essa violência brasileira que a todos afeta e incomoda.

É a violência urbana que ceifa vidas por meio da absoluta ausência de confiança e funcionalidade do aparato de segurança do estado, exigindo que cidadãos escondam-se atrás das grades para fugir da bandidagem armada. Como um amigo indicou, não se trata de Guerra Civil (onde todos os lados tem acesso a armas e as usam), mas de Massacre (pois o cidadão é indefeso) que faz 60 mil mortos por ano no país, como indica o estudo do Instituto Sangari, que você pode ler clicando nesse link, que cita textualmente:

A questão das armas de fogo, sua origem, comercialização, circulação, uso e posse vêm recebendo crescente atenção na mídia e na produção intelectual do País. Contamos com um certo número de estudos que tentam quantificar ou qualificar esse fenômeno, ainda assim as carências na área são enormes. As estatísticas existentes sobre o tema são consideradas incompletas e pouco confiáveis por especialistas das áreas de criminalidade e segurança pública. Não há sequer um balanço formal do número de armas existentes no País, temos apenas estimativas extraoficiais. Os grandes produtores de armas, amparando-se em princípios muito questionáveis relativos à segurança do País, fornecem escassas informações sobre suas transações nacionais ou internacionais.

A magnitude do arsenal guarda estreita correspondência com a mortalidade que essas armas originam. Os registros do SIM permitem verificar que, entre 1980 e 2014, morreram perto de 1 milhão de pessoas (967.851), vítimas de disparo de algum tipo de arma de fogo. Nesse período, as vítimas passam de 8.710, no ano de 1980, para 44.861, em 2014, o que representa um crescimento de 415,1%. Temos de considerar que, nesse intervalo, a população do país cresceu em torno de 65%. Mesmo assim, o saldo líquido do crescimento da mortalidade por armas de fogo, já descontado o aumento populacional, ainda impressiona pela magnitude. Essa eclosão das mortes foi alavancada, de forma quase exclusiva, pelos Homicídios por Arma de Fogo (HAF), que cresceram 592,8%, setuplicando, em 2014, o volume de 1980; enquanto os suicídios com AF aumentaram 44,8%, menor que o crescimento populacional, e as mortes acidentais caíram 3,6%.

Assim, enquanto os administradores públicos estão mais preocupados em manter suas esferas de poder do que em proteger os cidadãos em seu direito mais fundamental, que é o direito à vida, bandidos agem soltos matando gente que chega em casa para abrir o portão da garagem e entrar com seu carrinho comprado a duras penas, gente que sai para fazer compras e é esfaqueado por um celular, cidadãos que vão estudar e são violentados no campus da universidade, professoras que tentam manter a disciplina em sala de aula e são ameaçadas por alunos armados, etc. etc. etc..

É a violência verbal e do agir, nas relações de trabalho e de consumo, onde o respeito à pessoa não existe, impondo uma selvageria raramente vista em qualquer lugar onde se deseje mínima harmonia social.

É a violência sindical, que impõe uma política débil e obtusa ao sindicalizado, utilizado como massa de manobra para garantir privilégios a donos de sindicatos que a todo momento chantageiam empresários, empregados, administradores públicos e a sociedade como um todo, mantendo estruturas inadequadas à modernidade à qual resistem com violência brutal.

É a violência empresarial, onde passou a ser comumente aceito que grandes contratos são ganhos apenas por meio da corrupção e tráfico de influências, onde a proximidade social ultrapassou em muito qualquer limite ético e onde empresários (maus, é claro), líderes de empresas multibilionárias, aceitam como normal esquemas com políticos eleitos para enriquecerem-se e se esquecerem de que integram uma sociedade que fazem doente.

É a violência política, onde a quase totalidade dos eleitos considera que recebeu um cheque em branco para roubar e beneficiar-se e aos seus próximos a despeito de tratar-se de dinheiro que não é seu, gerado pelo cidadão oprimido.

É a violência do serviço público, que pouco serve e muito exige, como os órgãos de fiscalização que impõem regras estritas sem qualquer senso de realidade e perspectiva aos cidadãos e micro-empresários já deprimidos pelo volume de contribuições e exigências documentais que lhes inferniza uma vida já sacrificada pelas limitações dos "esquemas" que enfrentam diuturnamente.

Eu poderia seguir adiante com várias outras violências, como a doméstica, contra a mulher, homossexuais, diferentes, etc. mas o leitor entendeu que o modelo brasileiro tem que mudar.

Mas... mudar como?

Antes de falar em como mudar, talvez seja melhor passarmos à etapa seguinte à da reclamação generalizada sobre os vários modos de violência que sufocam, aprisionam o brasileiro, e que o força a fazer como fiz: emigrar e sair para um país onde dê para respirar em paz, sem ser oprimido por suas ações, idéias ou ativismo (político, religioso, social, sexual, qualquer coisa...).

Mais do que falar como mudar é importante falar sobre CAUSA. Da mesma forma que o Instituto Sangari indica não saber de onde vem as armas que trucidam o brasileiro, temos que entender de onde vem tanta corrupção generalizada.

É fundamental identificar os algozes, os causadores principais de tal violência.

A sociedade brasileira tem várias doenças crônicas, mas já escrevi que acho serem os DONOS DO PODER ECONÔMICO E POLÍTICO os grandes responsáveis pelo enorme atraso social do país.

Quem são eles? Ora, tem os caras que foram presos, citados no início desse post. Mas há e haverá muitos outros com quem você se relaciona, pois você, leitor, não é aquele proletário que pega o ônibus às 4 da matina para depois de 3h no trânsito bater ponto.

Você é qualificado, educado, tem acesso à informação e integra a elite brasileira (residente ou não no Brasil) que tem absoluta consciência (ou poderia ter, se quisesse) de quem são os Donos do Brasil (os que possuem poder para melhorar, transformar, renunciar aos interesses puramente egoísticos e pessoais e dar algo à sociedade que lhes sustenta, de forma direta - se funcionário público - ou indiretamente - se prestador de serviço ao estado, como um construtor).

Se você mudar algum dos seus hábitos, passar a virar a cara ou recusar-se a fazer reverências ou salamaleques a gente importante (caso queira manter-se polido e "acima das baixarias" que a gente vê no Youtube como brigas contra LindFaria, EdCunha e outros políticos e empresários acusados de tudo de ruim que negam em admitir), estará mandando uma mensagem importante.

No momento em que o Movimento Pacífico de Resistência à Ladroagem e à Impunidade ganhar corpo, acho que muita coisa pode mudar.

Isso porque o Brasil não é desses caras. O Brasil não pode mais suportar tanta violência, tanta corrupção, manter-se refém de gente inescrupulosa, de ladrões. Eles são poucos, muito poucos, mas atrapalham o país todo.

O modus operandi dessas empresas que pagaram propina (e ainda pagam... porque nesse sistema, político algum ousa lhes enfrentar) e corromperam a todos que foram ao poder continuará, se você não fizer sua parte.

Sua contribuição ao movimento de RESISTÊNCIA PACÍFICA pode ser pequena ou grande, mas VOCÊ é ATOR dessa trama.

No que te tocar, AJA. Não baixe a cabeça e desconverse.

Não perca a oportunidade de demonstrar de que lado estás...e que sua opinião, não só para reclamar, mas também para agir, deve contar, pois você tem o mesmo poder que aqueles que estão te explorando e destruindo o meio em que você vive. Eles o fazem em toda ocasião em que sentem-se superiores.

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