Virtude e coragem

Em um mundo com muito barulho, em que maciça presença dos meios de comunicação transformaram o próprio meio em mensagem, pode faltar clareza sobre os valores que importam à sociedade para que se mantenha funcional, harmônica.



TRANSTORNO DISSOCIATIVO PATOLÓGICO

Ouvi recentemente a belíssima peça teatral Dr. Jekyl and Mr. Hyde, inspirada no Médico e o Monstro (1886) de Robert Stevenson, narrada no link acima por nada menos que o magnífico Sir Laurence Olivier, retratando a dicotomia entre o lado bom e o lado malévolo dos seres humanos.

Como na peça, a dissociação da personalidade constitui curiosidade geral. Não se limita apenas às ciências psiquiátricas, criminal ou jurídica. 

Imputar responsabilidade a pessoas por atos horríveis que cometeram ou que continuam cometendo crimes exige compreender o nível de consciência que as levou ou continua a levar a cometer tais atos horríveis.

Transpondo a questão aos dias atuais, mediante maior desenvolvimento da compreensão da psyché humana, ficou mais acessível dar nuances a situações traumáticas que causam a não responsabilização de pessoas por seus atos abomináveis. 

Longe de banalizar o crime, ou normalizá-lo (tornando-o aceitável), o melhor conhecimento da causa do problema não deveria induzir à não responsabilidade, mas a um melhor tratamento e, talvez, se houver recursos humanos e materiais, a transformar a realidade que as tiver induzido ao caminho do crime. 

Caso contrário, arrisca-se cair na armadilha comumente abusada, em verso e trova, de que enquanto prevalecer a má-distribuição de riqueza, o crime se justificará...

Por essa razão, pessoas com transtorno dissociativo, alternando entre pessoas bondosas e pessoas horríveis, cometendo crimes (alguns de crueldade indizível), devem receber tratamento psiquiátrico, não bastando apenas colocá-las em prisão comum, para que seu afastamento social proteja a sociedade.

TRANSTORNO DISSOCIATIVO INTENCIONAL (para proveito próprio ou do grupo)

Qualquer criança que quebra algo durante uma inocente corrida em casa terá tendência a dizer: 

- não fui eu!

Ou ainda dizer: 

- caiu sozinho

Isso ocorrerá sobretudo em lares onde há certo pavor a pais minimamente zelosos, rigorosos ou disciplinadores (atualmente fora de moda).

Quando transposta a adolescência, adultos percebem serem responsáveis por seus atos não apenas para si, mas especialmente perante outras pessoas: se acelero demais o carro posso acidentar-me, machucando-me, mas também posso matar alguém

Alegar irresponsabilidade ou estado psiquiátrico para fugir às consequências de um ato pode até ser estratégia de advogados de defesa, mas mediante exame profissional, em um meio judicial honesto, é provável que se consiga distinguir entre a má intenção e a falta de consciência de quem cometeu um crime, assim identificando qual a melhor medida protetiva tanto para o criminoso, quanto especialmente para a sociedade.

Tenho notado, sobretudo em países muito desenvolvidos e ricos, políticas visando normalizar o convívio com doentes mentais, pessoas na rua necessitadas de tratamento psiquiátrico e acolhimento. A montanha de impostos pagos poderia proporcionar seu acolhimento em casas organizadas para isso, não os antigos hospícios, mas lobbies poderosos de cientistas sociais transformados em ativistas impõe forçar a convivência com essas pessoas como forma de uma sensibilização forçada (tratamento de choque).

Em política e nas mídias (sobretudo tradicionais, caixas de ressonância financiadas por governos e poderosos), como costumo explorar nesse blog, a dissociação da personalidade parece coisa normal, aplicada para fins escusos e que não poderiam retirar responsabilidade (pelo contrário, em virtude do motivo vil e mal-intencionado).

Assistimos constante e consistentemente a políticos que tomam decisões equivocadas intencionalmente, algumas dessas constituindo crime (por ação ou omissão), alegando ignorância e por cima de tudo difamando outras pessoas (sobretudo opositores, ou quem se poste em seu caminho de conquista do adorado poder absoluto).

Defletir ou fugir à responsabilidade é uma ciência humana, mas parece ter-se normalizado (há aceitação generalizada, ou ao menos, não contestada vigorosamente pela maioria) que qualquer crime é justificável se houver explicação de cunho socialmente privilegiado na narrativa corrente.

Ainda que caricatural ou alegórico, para ajudar a entender o ponto parece ser mais ou menos assim:

O pobre poderia roubar ou mesmo matar, porque vive em situação de estresse ou carestia...

O rico não seria vítima de nada, nem mesmo de um crime, porque ele possui tudo, tem poder e riqueza, devendo sentir na pele a violência que todo pobre experimenta todo dia...

O crime por razão social é aceitável... tudo é "por necessidade"...

A justiça deve vingar injustiças sobretudo sociais, por isso a justiça deve ser social e não apenas ética ou baseada na lei apenas... nem todos são iguais perante a lei e perante o exercício da lei...

Isso tem levado a absurdos como a prisão de uma religiosa que rezava em silêncio diante de uma clínica abortiva na Escócia. Indica o desvio que o poder absoluto tanto na interpretação de normas, quanto em sua aplicação, podem causar a uma sociedade.

Há os amorais, aqueles a quem a lei e os guardiães da lei teimam em não se aplicar, via de regra, como versado e cantado em vários posts desse blog, cujos nomes e posições o meu leitor já está cansado de saber.

A manipulação de instituições transformando virtude em defeito, coragem em ato condenável por líderes corruptos e massa manipulada, faz com que a dissociação da personalidade eleve o monstruoso, o bandido, o criminoso, ao contrário da virtude, do bom exemplo... 

Parece que hoje, sobretudo em meios ditos progressistas, o monstro é preferível ao virtuoso e Mr. Hyde terá prevalecido, não mais sendo necessário que Dr. Jekyl se suicide para encerrar o ciclo que seu lado odioso causou.

Aos cinéfilos, eis versão cinematográfica CULT da peça citada:



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