Minas, de A a Z

Depois de desbancar o PT em Minas, rejeitando o atual desgovernador Fernando Pimentel e tudo o que representa de ruim para a política, gestão pública e combate à corrupção, bem como sua comparsa, Dilma, o estado se vê diante de uma definição no segundo turno entre Antônio Augusto Anastasia e Romeu Zema.

Há um certo dilema na escolha e dedico essas linhas a esquadrinhar a correta, sob minha perspectiva.


Informo: não sou filiado a nenhum partido brasileiro, portanto minha opinião advém do fato de estar muito aliviado em ter afastado o PT da gestão do estado e sua representação em Brasília, mas ainda preocupado, como verás nas linhas que se seguem.

Primeiramente, os partidos

O NOVO tem uma proposta disruptiva de fazer diferente na política e sobretudo na gestão pública. O NOVO tem um dono cujas idéias são coerentes e sedutoras a quem não tem medo de trabalho e risco nos negócios, mas como já analisei nesse post de 2 anos e meio atrás sobre o NOVO e nesse mais recente sobre o Amoedo, existem vários problemas fundamentais quanto à estrutura e modo decisório do partido que me incomodam profundamente.

Nem por isso acho que o NOVO deve ser descartado como agremiação, especialmente porque permite a expressão de parte da população contra o que está aí, contra a tradição política arcaica, oligárquica.

O fato de Amoedo ter determinado, unilateralmente, o não-apoio de seu partido a Jair Bolsonaro no segundo turno é um sinal de fraqueza, mediocridade e covardia. Alguns integrantes do NOVO abandonaram o barco, deixando o partido. Eu já esperava algo assim. Riquíssimo, com ilimitado poder econômico e amicíssimo dos donos do Brasil, Amoedo guarda sua posição - ou segundo jargão financeiro, trava posição - para relançar-se em 2022. Seu propósito é, utilizando uma massa de manobra esclarecida, mas que adere a uma proposta sedutora como patinhos, deter o poder. Esse indício abominável deveria ser criticado abertamente pelos membros do NOVO e, em não o sendo, confirmará todas as minhas hipóteses de que o partido é um quintal de Amoedo e de seus amigos bilionários.

O candidato Romeu Zema declarou apoio a Bolsonaro, por falta de opção e sensível ao momento que atravessa o Brasil - que clama a expulsão definitiva do PT e de tudo o que represente sua máquina e a fraude eleitoral deslavada. Como confirma a foto abaixo, ele disse inequivocamente ter escolhido o expurgo do PT declarando apoio a Bolsonaro.

Romeu Zema poderá ficar no Partido Novo, mas se eleito, terá que impor a democratização do seu partido ou deixá-lo, migrando para o PSL ou fundando outro, caso contrário terá muita dificuldade em se identificar com seu eleitorado, que não escolheu o NOVO, mas a ruptura.

 Agora vamos ao PSDB... seria preciso dizer alguma coisa a gente bem informada?

Costela do MDB, o PSDB foi criado para ocupar o espaço social-democrata que faltava à oposição ao regime militar na década de 80. Era para ser pró-negócios, a favor de um capitalismo inclusivo e responsável, respondendo aos anseios de um povo que desejava retomar a soberania com liberdade, mas estimulando a economia e aplicando o princípio da eficiência.

Note-se que a Emenda Constitucional 19, inserida por iniciativa do governo do PSDB enquanto Fernando Henrique Cardoso presidia a nação, é pura expressão do que prega a Escola de Chicago (liberal, onde Paulo Guedes, economista-chefe do time Bolsonaro, cursou seu PhD). A emenda determina que o estado deve ser racional e eficiente, atuando o mínimo possível na economia e focando nos pilares fundamentais justificadores da existência do estado: educação, saúde e segurança. Ou seja, se tivessem se mantido nessa linha, certamente o PT não teria desvirtuado o estado, pois haveria gente defendendo a emenda...

Fui ativo seguidor inicial (jamais filiado) do PSDB, mas este se desvirtuou, aliou-se aos donos econômicos e políticos do Brasil, ao protecionismo das indústrias e vários setores econômicos nacionais, gerando oligopólios e paralisando sua evolução. Além disso, o partido sempre abafou qualquer expressão de independência ou oxigenação. O que não viesse da cúpula e dos poderosos era descartado. Conheço vários bons nomes da nova linhagem política que tentaram, sem êxito, prosperar naquela agremiação e se sentiram totalmente alijados. E esses alijados serão os grandes nomes da política local ou mesmo nacional.

O PSDB, portanto, afastou-se dos seus propósitos iniciais, tendo em seus líderes pessoas inebriadas pelo poder e pelo dinheiro (obtido por meio da corrupção ou da colusão com poderosos, mediante estratagemas como consultorias milionárias e outras enganações). 

A totalidade dos membros do partido que passou pela administração federal enriqueceu loucamente na era das privatizações e muitos viraram sumidades (diretores, conselheiros, consultores) nos bancos que compraram tais ativos. 

Hoje, essas instituições dominam o setor de forma artificial e em absoluto alinhamento a políticos ligados ao mecanismo.

Ou seja, Antonio Anastasia optou por uma agremiação apodrecida. Pior: é o o partido das oligarquias tradicionais mineiras, como descrevi nesse post há 2 anos.

Além disso, o PSDB tem outra mancha idelével em seu currículo, que lhe condena - talvez mortalmente. Ao surgir em 2005, o Mensalão causou a demissão repentina do Ministro-Presidente Joaquim Barbosa, do STF (revelada posteriormente como resultante de ameaças à sua integridade e de sua família), já que não havia apoio político algum para que se encerrasse naquele momento o mecanismo de troca de favores por meio do assalto ao contribuinte brasileiro e às empresas públicas.

A razão pela qual o PSDB não insistiu na denúncia e no Impeachment do Lula - perdendo a oportunidade histórica de declarar-se pela moralidade na política -  nada tem a ver com a tal estabilidade institucional que o cacique FHC declarou. A verdade tornou-se nua e crua pouco depois, quando o Mensalão Mineiro foi revelado ao mundo (e causou a prisão do ex-governador do estado), com modus operandi muito similar ao dos petistas. O PSDB de Minas fez escola, tendo inclusive vários elos comuns ao PT (como alguém da classe política, ex-ministro de Lula e muito ativo na área da educação e seus esquemas de financiamento público ou luminares da equipe econômica de Pimentel).

A cereja no bolo do PSDB veio na primeira eleição de Dilma, a quem Anastasia se uniu, cunhando o bordão DILMASIA:


Vê-se, na campanha do segundo-turno que o PSDB está aliado ao PT. Já está falando intensamente com os sindicados, prometendo poucas mudanças no estado, para obter o apoio de quem vota Haddad (o poste do Lula), quem votou em Dilma e Pimentel, a despeito das fake news que circulam (e nisso o PT é ótimo, já que sempre operou no subterrâneo da ética, da política e dos propósitos).

Agora, as pessoas

O Prof. Anastasia é conhecido e respeitado por todos os que militam no Direito. E tem uma reputação técnica inabalável.

Subiu na vida pública por ser cordato, gentil, elegante e excelente professor de Direito Administrativo. Entre manter uma vida discreta de militante do direito e professor, conselheiro de poderosos, e ir para a ribalta, acabou optando pela segunda opção.

Muito bem escolhido por Aécio Neves para - depois de ter passado um tempo em Brasília auxiliando a administração pública federal da era Fernando Henrique - coordenar o Planejamento do Estado de Minas Gerais, demonstrou ter espírito público, servindo ao povo do estado, mas cedeu à nova tentação e virou político.


Convocado por Aécio, Anastasia fraquejou, cedeu e colocou-se a dispor de um mecanismo que tudo faz para segurar o poder, inclusive a gente que abre mão de fundamentos éticos e morais mais caros àquele tão admirado pelos colegas de profissão.

De profissional comprometido a instrumento de poder, Anastasia fez vários trabalhos bons e significativos ao estado de Minas Gerais, mas com uma agenda que não determinava, pois sabe-se estar para Aécio assim como Haddad está para Lula.

É claro que Anastasia possui brilho próprio, é um profissional de grande envergadura, coisa que Haddad não é, nem nunca será.

Assim sendo, Anastasia servirá bem aos mineiros ao voltar para o Senado Federal, concluindo seu mandato com o brilhantismo com que relatou o processo de Impeachment de Dilma

Espero que ele um dia retome sua prática de escritório e de magistério, uma contribuição que lhe será certamente mais gratificante que a que está oferecendo ao dar sobrevida a seu partido que, admitamos, caiu de podre.

Caso não estivesse ligado a tal partido, nem fosse candidato contra Romeu Zema, Anastasia seria um nome festejado para integrar a equipe da administração do candidato do NOVO ao estado, contribuindo com seu profundo conhecimento sobre as entranhas da gestão pública (coisa que Zema tem em seu vice).

O Romeu Zema é pouco conhecido de todos.

Além de ser um empresário de sucesso, que prega o liberalismo e a eficiência, segundo dizem meus amigos tem valores éticos e morais parecidos com os meus e não tem medo de trabalhar para prosperar, valorizando o mérito e abominando apadrinhamentos e oligarcas.

É claro que Zema tem uma visão parcial do mundo gerencial público. Jamais trabalhou na administração pública, acha que a técnica privada se transplanta automaticamente ao estado e caso não admita isso, terá muita dificuldade para implementar e legitimar suas idéias as quais compartilho quase totalmente (com a ressalva a seu partido, como mencionei antes nesse post).

Zema vem do interior, fala mineirês e talvez por isso se identifique com 80% da população do estado, que diferentemente de RJ e SP, não está localizada na capital.

Isso faz dele um sujeito muito sensível à realidade do interior, coisa que nenhum governador recente foi. Dizem que Aécio era de Cláudio, MG, mas na realidade todos sabem que o ex-governador cresceu e viveu na orla do Rio de Janeiro, inclusive na época em que governou o estado...

Zema é a valorização do interior e se posiciona. Não tem medo de falar. Não mede palavras - o que lhe causa alguns inconvenientes de campanha - e não negocia por debaixo dos panos.

Todo apoio que puder receber é importante, necessário. Ele sabe disso e ao alinhar-se com Bolsonaro desde já, 3 semanas antes do segundo turno, traduz o sentimento do mineiro que expulsou Pimentel, Dilma e a corja petista.

Depois das eleições, certamente Anastasia será um grande aliado no Senado Federal.

Minas está em um bom caminho, espero que o 30 tenha êxito no estado e que o primeiro governador desse partido, de um estado com tal envergadura, mude o partido ou de partido, já que sabe-se defensor de algo muito maior do que o projeto de um bilionário que sonha em deter, além do poder econômico, o poder político.

Romeu Zema pode ser ainda muito maior do que pensou.

Ao sagrar-se governador, poderá liderar um processo regional, pode comandar a reforma da federação, a libertação dos estados e municípios da humilhante via sacra de pedir dinheiro em Brasília, devolvendo o poder político e de gestão às populações que hoje tem seu destino definido por quem não lhes conhece, não lhes ouve, nem nunca visita (exceto para uma ou outra inauguração de obra superfaturada).

Zema poderá liderar a reforma constitucional, desinchando a capital federal.

Enfim, acho que você, eleitor mineiro, possui motivos de sobra para terminar a limpeza, votando 30 nesse dia 28.

Caso você não faça isso e vote no Anastasia (individualmente um grande nome, mas para o que representa, algo de ruim para o estado), estará ajudando a atrasar mais ainda a modernização política e gerencial do Brasil, que tornou-se tão necessária e urgente!





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