Minas Gerais: o coronelismo tradicional impedindo a democracia

Os brasileiros que me desculpem, mas a mineiridade é fundamental.



O jeito mineiro de ser, da discrição, da conversa fiada, da voltinha para chegar ao ponto, auxiliou esse povo a montar barreiras contra a invasão de costumes alheios, visando proteger não apenas seu ouro e suas filhas contra os estrangeiros e ladrões, mas também seu modo de vida.

A grande influência de sociedades ocultas no funcionamento do estado - como os maçons - permitiu com que conjurações ocorressem (como a do Tiradentes) contra os abusos do império, mas acabou sedimentando-se e transformando o estado mineiro em um foco de incerteza, já que o que se diz não corresponde ao que se faz.

Foi-se a ameaça estrangeira e imperial, permaneceu o modo de fazer oculto, dissimulado, que precisa ser revisitado.

Minas Gerais primou pela proteção do seu queijo, que ninguém poderia tocar sem ser convidado, mas por outro lado assustou a todos que desejavam conhecer as regras do jogo e aventurar-se por essas paragens.

Empresários e banqueiros foram embora... Minas chegou a ser um centro decisório econômico e político no país, mas essa forma retrógrada de fazer expulsou gente boa, empresários de estirpe, que foram extremamente vitoriosos em outras paragens, em todos os setores da indústria, comércio e serviço.

A existência do São Pedro Valley, as expressões mineiras da moda e tantos outros avanços artísticos, inclusive a aceitação do homossexualismo denotam que Minas Gerais evoluiu em diversas frentes, mas no campo empresarial e especialmente no campo político, o mineiro acha que o mundo precisa entender seu jeito de fazer... e assim está-se isolando. Pior do que isso: está impedindo o progresso.

A indicação de Pimenta da Veiga para candidatura à sucessão do Gov. Anastasia em Minas Gerais foi um exemplo típico de coronelismo, sem consulta às bases. Aécio Neves escolheu Pimenta, impondo-o ao partido mineiro, a despeito de considerações pertinentes contrárias à sua candidatura. Havia gente que estava semeando há anos o caminho da sucessão vitoriosa, como Marcus Pestana, mas esses trocaram o coerente pela coesão partidária, que custou caríssimo não apenas a eles mesmos, mas ao estado, que se vê prisioneiro de um governador manchado pela corrupção e acuado pelas denúncias.

A formação das chapas eleitorais na sucessão municipal de Belo Horizonte integra mais um capítulo horrendo na política coronelista mineira, ainda conduzida de forma imperial por Aécio e seu núcleo duro, que parecem estar vendendo o estado para tentar comprar apoio do partido de Marcio Lacerda na eleição presidencial de 2018.

O melhor exemplo da denúncia do atraso está na nota abaixo, publicada essa semana nos maiores jornais do estado:





Aécio, como cidadão, tem todo o direito de sonhar com a presidência se nada de desabonador o retirar da disputa.

Só que, ao sabotar o debate aberto, a democracia partidária (de outro partido, inclusive, ao se aliar à sua cria política, Márcio Lacerda) e a oxigenação do partido ao qual pertence (e não o partido do qual é dono), Aécio condena a si mesmo e à população que lhe tem alguma simpatia, ao atraso. A manobra descrita acima, em um país mais comprometido com a democracia, seria fatal a Aécio, que cairia totalmente no descrédito. Ele se inabilitaria a disputar qualquer cargo eletivo, em vista da demonstração do egoísmo e no modo de fazer de sua intervenção, em detrimento de interesses maiores.

O próprio prefeito havia feito uma promessa ao seu vice, o antigo defensor dos consumidores, o advogado  Délio Malheiros, de apoiar-lhe na sucessão, mas decidiu fazer idas e vindas, para angariar algum capital - que se desconhece na origem e no conteúdo. A notícia mais recente é que, depois de muitas voltas, Márcio Lacerda apoiará Délio...

Esse absurdo não é um privilégio de Minas Gerais, mas o Estado sofre com isso mais que qualquer outro.

As vitórias sucessivas do PT, em níveis tanto municipal quanto estadual, são o reflexo indubitável que o coronelismo não é bem visto pelos mineiros, mesmo quando tidos como tradicionalistas.

Os mineiros, em essência, são progressistas: buscam libertar-se das amarras que lhes oprimem, sufocam, como as práticas acima citadas.

A militância petista em Minas Gerais sempre teve maior importância do que em qualquer outro estado federativo. Como MG é dominada por igrejinhas de coronéis em quase todas as localidades - é possível chegar a qualquer cidade e perguntar o nome da família que lá manda - a maioria da população, que não integra tais famílias, sensibiliza-se com o aspecto democrático petista. Sem entrar no mérito da péssima proposta programática do PT, o povo acaba votando em candidatos daquele partido. Tudo isso devido ao fato de a democracia se impor acima das idéias. Assim o PT domina - e ao que parece, continuará dominando - a cena regional.

O PSDB (dos quais Pimenta da Veiga e Aécio Neves fazem parte) certamente possui propostas mais simpáticas aos mineiros do que o fisiológico petismo, mas como aquele partido tem a péssima prática de tomar decisões e beneficiar apenas seus caciques, está condenado ao fracasso (ainda que ganhe em algumas urnas).

Eu já escrevi longamente sobre o coronelismo brasileiro nesse post e sobre os absurdos que o PSDB vem cometendo na condução - no que lhe toca - da democracia, como dito nesse post.

O esvaziamento do PSDB é progressivo e, ao que parece, pelas práticas acima relatadas e divulgadas aos quatro ventos, esse partido tem sido percebido como uma grande pantomima onde as decisões sérias e importantes são tomadas por 3 ou 4 pessoas, de sangue azul e inatingíveis. Inatingíveis inclusive por investigações de caráter extremamente sério, como Mensalão Mineiro, Metrô de SP e etc.

Esse não é o Brasil com que meus antepassados sonharam quando decidiram, com uma mão na frente e outra atrás, aqui aportar.

Espero que surjam lideranças para desbancar os coronéis mineiros, que há muito deveriam ter ido tratar de suas fazendas, deixando a política para quem realmente tem compromisso com a participação, a democracia e a renovação constante dos gestores do interesse público.

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