O quê e a quem temes?

Chegamos a uma encruzilhada, como era previsível para mim e alguns milhões de atentos observadores (tipo uns 50 milhões). No Brasil e pelo mundo afora.

Reflito sobre o Day After, tentando entender o que motiva pessoas a votarem, daqui a 20 dias, em Haddad, ao invés de Bolsonaro.




Escrevo esse post motivado sobretudo pelo fato de ter pessoas próximas e queridas - como você, que me lê, também deve ter - que se negam a votar em Bolsonaro.

Elas acham que Bolsonaro representa tudo de ruim sobre a face da terra, mesmo sabendo que Haddad é um incapaz (julgado como tal por nada menos que a população paulistana, em um só turno ao tentar sua reeleição, o que não é pouco) e que o partido dele, o PT, é uma quadrilha de assaltantes cuja maioria da cúpula responde a processos cabeludos ou está presa.

Meu objetivo não é convertê-las a votar no 17 contra o PT e corruptos.

Meu objetivo é refletir junto com elas, municiar-lhes para discussões e provocar a reflexão sobre o que está aí, possivelmente permitindo uma melhor compreensão dos fatos e certa gestão de medos e mitos. Ao saber-me lido, quem sabe consigo fazer acender alguma luz em suas mentes?...

Deparei-me, ao refletir, com as seguintes perguntas sem resposta: O que temem? E... a quem temem?

Só consigo julgar quem e o quê enxergo.

Não consigo julgar o sujeito que mora na PQP, no sertão nordestino, que leva uma vida miserável e vazia, cercado de violência e carestia. Posso imaginá-lo, mas não o julgo. Não tenho elementos suficientes para partilhar a sua dor e a humilhação do determinismo que lhe torna eterna massa de manobra de poderosos políticos, independentemente do lado do espectro político em que estejam: manipuladores não tem cor, nem credo.

Minha perspectiva será partilhada por quem me lê e por quem tento entender... democraticamente (como diria a criatura da floresta).

Bicho-papão

Em nosso subconsciente, em alguns dias da vida convivemos com o fantasma terrível do animal perigoso que, à noite, enquanto dormimos, nos surpreende e arrasta para debaixo da cama, nos levando a um mundo imaginário de sofrimentos e privações horríveis.

O subconsciente é povoado por crenças, preconceitos inerentes a qualquer ser humano e nos leva a reações raramente situadas no campo da racionalidade.

Enfrentar crenças é possível, mas exige força de vontade e real interesse em enxergar o que é, ao invés do que pensa ser. Enseja auto-conhecimento, conhecimento histórico, do contexto e disposição em enfrentar até mesmo pessoas queridas, modelos de conduta, construções éticas recebidas e mitos.

O subconsciente de boa parte dos jovens brasileiros é povoado pela crença de que o regime militar foi um período de trevas absolutas, como descrito em filmes reproduzindo a época, livros e documentários moldados por narradores fiéis a uma visão altamente convincente do grupo que efetuou a "leitura posterior" de eventos históricos. É também composto por histórias e estórias contadas por quem viveu a época e que, sob sua própria ótica, deseja dar testemunho com base na importância que deseja se imputar aos olhos dos ouvintes, que por deferência pouco duvidam de relatos libertários.

Visualmente atrativas, narrativas literárias e poéticas encantaram multidões, formataram uma geração na defesa do sentimento genuíno de liberdade. Criaram-se mitos, que se incorporaram ao folclore nacional, pois aliaram fatos terríveis e isolados de graves violações de direitos humanos e abuso de poder de polícia a um período de alienação política pouco visto.

O subconsciente mistura realidade e crenças, sombras e luz, faz aflorar o inconsciente de emoções automáticas. Essas reações sentimentais passam a responder a estímulos povoados por uma realidade consciente e crenças profundas.

Tudo fica confuso e, além disso, o sentimento natural de pertencimento, que mantém vivo qualquer ser gregário - como seres humanos - obriga aos membros de uma comunidade a, além de identificarem-se com seus valores e história, querer crer no que foi descrito e relatado, com absoluta empatia à narrativa oferecida (não reconhecida como exagerada ou tendenciosa).

A época do regime militar no Brasil é um patinho horrível.

Negar que houve abusos e violências feitos em nome da lei e da ordem, por certos seres abjetos trajados em fardas que não honraram, seria negar parte da nossa história. Só que resumir o período ao que houve de pior seria generalizar o terror que, efetivamente, não se equipara ao genocídio nazista, nem mesmo ao controle atualmente exercido e sofrimento impostos pelo Partido Comunista da China, ou por Nicolás Maduro, ou por Vladimir Putin sobre seus cidadãos. Ou ainda ao Chile de Pinochet e à guerra das Malvinas, aventura dos militares criminosos argentinos para ganharem sobrevida política.

A época não é, nem foi, estudada a fundo nas escolas e por quase nenhum brasileiro. A razão é clara: à classe política e ideólogos que vieram com a abertura democrática era bem melhor manter o mito da opressão aceso, para lhes valorizar na ignorância, do que examinar detalhadamente o que houve de ruim e de bom no período.

Sim, houve vários pontos extremamente positivos. Foi uma época em que a economia cresceu como nunca antes na história nacional, em que o orgulho de ser brasileiro atingiu o auge e em que o país entrou na era da tecnologia aeroespacial, criou escolas-modelo e se lançou ao século 20, mediante uma urbanização e industrialização ímpares, permitindo uma mobilidade social raramente vista em países latino-americanos.

A época militar brasileira é narrada apenas por saudosistas que por vezes se portam como avestruzes, ou por intelectualóides que por meio de hipérboles tornam-se apóstolos da virtude (a seus olhos e de alguns crentes sem crítica), heróis auto-declarados.

Como a essa altura da vida não acredito em Bicho-Papão, sabendo serem criados por quem quer pôr medo em incautos, em fracos, frágeis e desinformados, acho uma bobagem trocar Bolsonaro - que viveu residualmente a ditadura militar, conhecendo seu lado positivo, que o brasileiro se nega a ver - por representante de uma esquerda de enriqueceu e prosperou na mentira, na narrativa tendenciosa de que o Brasil, até eles chegarem ao poder, era um país à deriva.

Até para crentes, com forte subconsciente humanista, o lero-lero da esquerda liderada por Lula, PT e Haddad, soa uma manipulação rasa, que deturpa fatos históricos em favor próprio, para financiar seu próprio triunfo político. E para mim, isso é um crime grave. É uma enganação. É falseamento e merece desprezo absoluto.

O Bicho-Papão criado por Lula, Miriam Leitão, Reinaldo Azevedo, Pedro Cardoso e narradores charmosos do cataclisma, tem em Fernando Gabeira seu melhor desmistificador. O ex-guerrilheiro superou sua fase infantil, para atingir a maioridade entendendo que o período exigia posicionamentos e que eles foram necessários, condenando justamente os abusos, que não poderiam ter sido esquecidos. Gabeira tem lucidez. Os outros, da mesma época, especialmente os que foram milionariamente indenizados pela Comissão da Verdade, aceitam a condição conveniente de vítimas em um país que vitima tantos, todos os dias, mas cujo destino não lhes diz respeito, pois se autodenominaram heróis (que lixo!).

Assim, a despeito do que cassandras desejam fazer crer, Bolsonaro não é um bicho-papão, um fascista que vai tornar o Brasil uma Alemanha Nazista, uma Turquia sem liberdades políticas ou uma China que espia e controla seus cidadãos sem observância alguma do estado de direito.

Longe disso.

Ele será, sim, um bicho-papão, aos que plantam o caos, que dividem o país, traficam drogas e influências, corrompem e aceitam-se corromperem, roubando o Brasil do seu presente e do seu futuro.

Assim, eleitor indeciso ou haddadista, se você não teme a lei e o esforço para construir um país do qual seus filhos e netos terão orgulho, não lhe resta outra alternativa que votar Bolsonaro e iniciar um processo de erradicação do errado, participando de uma construção em que sua voz, moderada, terá que ser ouvida para não haver abusos.

Ao se alijar do processo e enterrar a cabeça na areia, você estará autorizando o unilateralismo, o radicalismo, a falta de diálogo.

A culpa será exclusivamente SUA... sim, sei que às vezes você não é bem chegado a assumir responsabilidades, como talvez um sujeito que você até admira, o tal do Lula, um preso que sempre tenta se esconder por detrás de alguém, vivo ou morto, de algum fato, para justificar nada saber...

Ora, rapaz ou moça... é hora de crescer e virar adulto!

Rentistas (ou a esquerda-caviar, como diz Constantino): acabar a mamata

Outra coisa que os eleitores contra Bolsonaro têm de paradoxal é seu amor pela renda proveniente do capital, que desejam sempre esconder. Buscam o conforto no auto-engano...

Vários são aposentados com pensões da função pública, vivendo com muito mais conforto e dignidade do que a totalidade daqueles que dizem defender (ou acreditam que seus candidatos de esquerda dizem querer defender). Seus proventos são ajustados acima da inflação, possuem diversos privilégios e jamais sofrem as intempéries afetando aos demais mortais que laboraram como a maioria: no setor privado. Sua estabilidade lhes torna inatingíveis, daí simpatizarem tanto com que se façam atos generosos com dinheiro oriundo da atividade privada, representado por impostos.

Tem ainda os que são mais hipócritas ainda, beneficiários de bela renda oriunda de aluguéis e dividendos de riqueza construída por si ou, sobretudo, herdada de gerações anteriores. Contanto que não lhes seja comprometida a renda - que por vezes se esquecem, reflete o ambiente econômico nacional - adoram a idéia de que o alheio (do outro, claro, tipo fazendeiro) seja compartilhado por quem fala bonito em igualdade e fraternidade...

Todos esses anti-Bolsonaro buscam esconder, alguns envergonhadamente, que são beneficiários do capitalismo que adoram abominar. Se auto-odeiam, por serem tão bem-aventurados, mas encontram no voto à esquerda o conforto da comodidade, que inclusive permite com que pretensos esquerdistas, como foram Lula e Dilma, exerçam o poder apenas na base de retórica, pois se sabe que os anos petistas foram os melhores anos para bancos e rentistas na história brasileira...

O que lhes distingue, geralmente, de seus amigos e conhecidos é também sua incapacidade em construírem empresas com muitos empregados, muitos colaboradores. Geralmente mantêm-se tímidos em seus empreendimentos, caseiros, vangloriando-se em ter algum ou outro empregado que, orgulhosamente batem no peito dizendo: pago "observando estritamente todos os direitos"! São incapazes de fazerem crescer organizações que demandam investimento diuturno, desprendimento e ambição em um ambiente concorrencial mundial.

Esses rentistas tem até ações da Petrobrás, mas entendem que ambição empresarial é sinônimo de ganância, algo ignóbil (ou não nobre como defender os "trabalhadores).

Por desconhecerem a realidade de empregadores, que tomam o risco inerente ao capitalismo, que enfrentam diariamente desafios de uma legislação maluca e um ambiente hostil de governo e fiscais abusivos acham que - como na Inglaterra da Primeira Revolução Industrial - patrão é opressor e mal. Ainda que possuam empregados, acham-se santos e arvoram-se entender tudo do mundo empresarial.

Esses rentistas de araque recusam-se a reconhecer que seus candidatos esquerdistas destróem  a unidade social, semeando divisão e locupletando-se do dinheiro público. E ainda adoram cantar o sofrimento dos outros, sob o som de Chico Buarque, melancolicamente achando bonito dizerem-se generosos, desde que mantenham os olhos cerrados aos abusos, crimes e furtos de seus ídolos falastrões, apóiadores de regimes de esquerda, ditatoriais e violentos...

Bolsonaro prometeu acabar com algumas farras, mas o rentista nada terá a temer em seu governo. Pelo contrário, o candidato entende que proteger a propriedade é fundamento básico de uma democracia, coisa que Haddad menospreza ao desafiar as instituições, a começar pela Justiça (afinal são 32 ou mais processos por improbidade administrativa...). Só que a renda deverá ser justa, o juro razoável... etc. etc...

A solidão do vazio

Quem quer acreditar ou fazer crer ser Bolsonaro um bicho-papão, pintando-o para si e seu círculo como um monstro desalmado, está com medo de ficar falando sozinho e dirige-se a tolos.

É o pessoal que adora um grupo, que acredita que é melhor estar mal acompanhado do que só.

É a melancolia da pobreza de espírito, que abre mão de valores fundamentais.

Sim, Bolsonaro tem cores fortes, pode falar grosso e soar desagradável, não chegando perto de Trump, que é soberbo.

Só que condenar Bolsonaro pelo que não fez é raso demais.

Condenar Bolsonaro pela forma da limpeza do crime e da política à qual se propõe fazer, mesmo depois de ter sofrido um atentado hediondo que ninguém comenta, é fácil demais e errado.

O atentado, aliás, foi encomendado talvez anos atrás, mas perpetrado agora, com precisão quase cirúrgica. Ele o deixou fora da campanha em um período crucial, mas mesmo assim o candidato teve quase a maioria dos votos para levar a presidência no segundo turno, pois 50 milhões de pessoas reconheceram que ele está no momento certo, na hora certa e o saneamento exige pulso. Ainda que combalido, fragilizado, como se vê na TV, o candidato não cede, nem fraqueja...

Sim, disciplina, ordem e pulso, são coisas desagradáveis.

Ser avaliado, ser criticado, exigir resultados, é algo desagradável.

Petista não gosta disso. Psolista não gosta disso, nem pcdobista.

Eles gostam, como muitos da esquerda filosófica, da vida mansa, dos dividendos e da renda, sobretudo da boquinha pública e da corrupção, que garanta a vida eterna aos amigos, cumpádis, que pouco se lixam para o brasileiro.

Enfim, fui apresentado a um vídeo de um jovem não sonhador, fantasiador ou lunático sobre o que é o Brasil. É um jovem ambicioso para seu país, sentimento que não vejo em ninguém de esquerda no país hoje.

Esse jovem resolveu se aliar a um partido e disputar um cargo eletivo no RS. Ele fala sobre São Paulo, cidade desgovernada pelo candidato Haddad.

Nada melhor então do que alguém, jovem e informado, sem minhocas na cabeça, sem ideologias fracassadas, nem medo de abordar a mediocridade da esquerda e dos mentirosos, nos falar sobre quem é esse candidato que gente próxima e querida ainda tem a coragem de, talvez, tentar eleger só por odiar Bolsonaro:


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