Não voto em Amoedo

Gosto do discurso do Amoedo.

Simpatizo com a proposta genérica do seu partido, de libertar a economia das amarras de um estado pesado, ineficiente, perdulário e corrupto.

Admiro a energia, certo desprendimento e engajamento do Amoedo.

Só que não me identifico com ele, apesar de compartilharmos idéias.

E por quê?

Por preconceito. Por observação. Por experiência de vida. Isso tudo junto.

Meu preconceito advém do fato que alguém com a fortuna imensa que ele tem não consegue - por mais sincero que seja em suas declarações, aparições públicas, etc. - sentir como um cidadão normal, médio... nem digo do povão (porque não precisamos exagerar).

Amoedo é uma personalidade notável, com IMENSO VALOR, mas não tem as antenas de alguém com sensibilidade para problemas da média da população brasileira.

Ele simplesmente não tem essa sensibilidade. E, note bem, não é por maldade. É a realidade dele. Ela é diferente demais da minha, da sua.

Consigo provar isso? Claro que não.

Então é preconceito mesmo. Advém do pré-conceito de que um bilionário, por mais seguidores que consiga, jamais falará de igual para igual com seus auxiliares, seus colaboradores, muito menos com seus eleitores, conhecidos ou não.

O Amoedo não passou, ou se passou, já tem muito tempo, pelas dificuldades, privações e ansiedades que 99,9999% da população passa. Ele tem conforto e segurança materiais que são uma dádiva, uma sorte - bom prá ele - mas isso o desqualifica para sentir e agir como alguém que precisa de respostas fundamentais.

Minha observação advém da proposta do NOVO, elaborada sob inspiração e direção do Amoedo, que já examinei em outros posts, como o leitor pode constatar se averiguar quais os posts mais lidos desse blog.

O Amoedo e seus auxiliares, na maior boa-fé, criaram um Brasil mitológico, o Brasil da propaganda de dentifrício, que não existe. A eficiência pregada por eles, com a liberalização da economia (visão do estado como empresa), serve para sociedades avançadas, com níveis de educação elevados, reunificadas pela tragédia da guerra, sendo totalmente artificial a um país com os problemas sociais e policiais profundos como o Brasil. Aliás, tanto isso é verdade que não há nenhum país latino, asiático ou africano que aplicou as políticas liberais pregadas pelo NOVO com pleno êxito.

Isso bastaria para constatar, por mera observação, que se trata de uma projeção de país que passa pela cabeça de quem o vê do jatinho, do carpete e do ar condicionado. O número majoritário de gatunos no Congresso Nacional é apenas a prova de que comeram pão que o diabo amassou com o rabo e se apropriam do que podem, pois acham ter esse direito divino. Eles representam o pior do brasileiro comum, mas não deixa de haver essa identidade, que para o Amoedo inexiste (ponto prá ele!).

E por fim, minha experiência de vida indica que o brasileiro votará - em tempos do fim do voto de cabresto, onde o coronel dava um pé de sapato para completar o par depois da eleição, se eleito - em gente com quem se identifique.

Daí eu estar convicto que não basta falar para o povo, com o povo, mas viver como o povo. Caso contrário - a despeito da enorme desconfiança que temos nas pesquisas DataFolha, Ibope e as outras - o que explicaria um ser ignóbil, falso, mentiroso e corrupto como Lula ter ainda tanta popularidade?

A razão é que Lula, gostando-se ou não, é o proletário do ideal leninista, aquele que messianicamente tiraria o pobre da miséria e o transformaria em cidadão... (ninguém melhor do que o FHC para personificar essa ilusão, pois olha para o Lula languidamente, adorando-o como a um deus... o bom-selvagem... enxergando nele o homem-do-povo que veio para nos salvar... e FHC não resiste a essa tentação, nunca conseguiu resistir... caso contrário teria ajudado a decapitar a jararaca quando do Mensalão, mas achou que faria mal à imagem do Brasil... aqui-ó!)

Parcela do povo se identifica com gente tipo Lula. 1/3 ou mais do Brasil acha que apenas um brasileiro ignorante, abusado e cachaceiro tem condição de liderar-lhes de igual para igual. É isso mesmo. Eles não tem estudo, não lêem manchetes de jornais, nem acham que os ministros do STF são a nova casta nobre do Brasil. Eles acreditam em tudo o que Lula e seguidores falam, porque o Lula é parte deles, tem o DNA deles, fala olhando nos olhos deles, é da turma. A mortadela traduz tudo. Que presunto, que nada!

Será que alguém acha que num país como o Brasil um banqueiro, um bilionário, tipo Trump, ganharia uma eleição? Nos EUA o sistema eleitoral permitiu esse fenômeno por diversos fatores, inclusive o fato de ele ter tido menos votos que sua oponente do partido Democrata.

O brasileiro quer alguém que fale dos seus problemas, com conhecimento de causa. Bradar o liberalismo, criticar o fundo partidário, a corrupção, sem identificação fundamental com o eleitor não passa de um exercício de vaidade. É só assim que consigo enxergar o Amoedo; e o Meirelles cai na mesma categoria.

Ou será que alguém, próximo a qualquer um dos dois, teria a coragem de dizer: rapaz, fica no seu canto, usa sua fortuna para financiar o projeto, a idéia, você vira conselheiro, eminência parda, mas deixa a gente pegar alguém que trabalha duro, que vive perto do povo, da realidade, das dificuldades cotidianas, para falar de igual para igual e concorrer como líder desse mesmo povo?

Claro que não!

Não conheço o Amoedo. Nem o Meirelles. Nunca estive com eles pessoalmente (gostaria muito de conhecê-los e confrontar meus preconceitos, sem medo de errar).

Mas acho dificílimo eles aceitarem ouvir críticas dessa natureza, baixarem a cabeça e dizerem: você tem razão, num país como o Brasil não tem prá nós, pois realmente somos de outra estirpe. O país tem miserável demais para aceitar um magnata liderá-lo.

A fábula do rei que andou nú por entre seu povo, pois ninguém ousava dizer a ele que o vagabundo do alfaiate era um estelionatário e não existia tecido algum, parece não ter constado das leituras infantis dos candidatos abonados.



Ao se apresentar como candidato a presidente da república, vai muito além do razoável e (parece que) ninguém disse a ele isso. E se disse, ele desprezou uma opinião baseada na realidade do país que talvez ele não conheça tão bem assim.

É inclusive um dos diversos itens que o diferenciam de candidatos populares como Bolsonaro, Marina... 

Bolsonaro consegue se aproximar do cidadão comum exasperado, irritado com um estado que não funciona, que deixa bandido matar e roubar sem punição proporcional, violentando costumes, religião, união nacional e outros valores que lhes são caros. Isso sim é discurso que cola no povo... demonstrando que a "qualidade" do candidato é relacionada ao apelo que ele tem junto ao povo.

A Marina Silva também fala de perto, inclui-se bem na noção de "população geral" ou "gente como a gente". E ela ainda tem pedigree: é cria do PT, estudou superbem o brasileiro, a política de guerrilha, para entender como se inebria o coração popular... e numa eleição sem o líder-maior, ela arrisca até chegar ao segundo turno.

Candidato das elites (sim, usando os termos petistas, pois às vezes eles funcionam para explicar raciocínios) não tem vez no Brasil, mesmo comprando votos e bancando 20 ou mais milhões de reais em campanha com o próprio bolso...

Já tinham dito que brasileiro não sabe votar.

Tenho lá minhas dúvidas, pois ele vota em quem se identifica. E eu não me identifico com o Amoedo... Nem sonharia ter a fortuna que ele tem, porque se tivesse, jamais me lançaria numa candidatura presidencial... Faltam-me vaidade, sede de poder, dinheiro, cumpadres e disposição de chafurdar nesse ambiente de bajuladores...

Finalizando, o melhor exemplo da inteligência em usar fortunas para influenciar politicamente é o George Soros. Abomino o que ele faz e as causas que apóia, pois é um bilionário subversivo que atrapalha demais, mas é o que Amoedo e Meirelles parece deveriam fazer (se já não fazem): bancar gente que quer fazer, sem querer ser os porta-estandartes. Mas talvez seria melhor mesmo é se recolherem e curtirem uma ilha privativa...

De pavão e carnavalesco, a política brasileira está cheia!



Palavra final aos simpatizantes do NOVO: continuem na empreitada. Vocês são importantes! Esse texto não é para desanimá-los. 

Pelo contrário: acordem, chacoalhem e avancem as idéias de modernidade, sem perder de vista a realidade que lhes cerca, que é mais forte que palavras, conspirações ou sonhos e precisa ser conhecida, vivida e tratada.

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