O Tao da política

Compaixão, moderação e humildade.

Êita conjunto de qualidades ("tesouros") difícil de se reunir em um ser humano!

Pois esses são os pilares do Taoísmo, uma corrente filosófica que influenciou e influencia enormemente a organização dos povos da Ásia. Nós a conhecemos pouco. A respeitamos pouco. Praticamos quase nada. O Ocidente sempre teve como tônica mudar tudo, mudar a natureza, mudar pessoas, arrumar o mundo de acordo com sua visão, seu humor, pouco se lixando para o dano causado.

Valores como simplicidade e espontaneidade residem no alto da escala ética. Elas permitem uma existência digna para si e diante da comunidade.

O Tao ensina a ação através da contemplação, da não-ação.

Não se confunda com omissão... que por vezes significa não-ação. Da mesma forma que, às vezes, calar é melhor que falar...

Eu já tinha falado um pouco sobre isso nesse post, mas hoje fico mais específico, ajudando o leitor a achar fontes. Afinal, hoje é um dia especial de reflexão, de iluminação, de jejum e de busca da pureza...

Longe de mim achar que posso ensinar algo a respeito do Tao.

Mas penso que nós, seres humanos, podemos lançar luz sobre alguns pontos obscuros de nossa existência.

Gosto de pensar que sirvo para alguma coisa também em uma coletividade que é aquela que não posso tocar com as mãos, que está longe de meus olhos, mas que sei existir.

Nesse caso, penso ser útil despertar o interesse do leitor para o conceito de Tao.

As qualidades lá encima são difíceis para um ser normal... e no político então? Rapaz... complica, né?

Espontaneidade? Esqueça.

O político pode achar uma coisa certa ou errada, mas calcula tanto, mas tanto, o que vai falar, que a espontaneidade é a primeira virtude condenada à morte, para os que entram na política.

 Outra coisa é a não-ação. O político que quer crescer em popularidade (pois é isso que busca, para ter o poder da representação coletiva) precisa (ou acha que precisa) sempre AGIR. Falar, gritar, contrariar, xingar, espizinhar... Inadmissível a um político calar, pois é interpretado como covarde ou sem personalidade.

Pelo contrário, o político acha que precisa guerrear. Assim, ataca. Ou contra-ataca, mas sempre AGE. Não dá tempo aos outros para pensarem. Não admite a harmonia exposta, a não-ação.

Alguns exercem a moderação. Acho que prefiro esses, mas hoje em dia andam em falta pelo mundo. No Brasil então... a radicalização anda solta, o que faz com que a moderação ande em falta... Na mesa, nas ruas, nas casas...

Em matéria de compaixão, acho desnecessário comentar, né? Quando um político tiver real compaixão por todos (e não apenas pelos filiados de seu partido, que jura ajudar acima de qualquer valor), ele estará criando uma sociedade mais harmônica. Dirão: utopia... Digo: o que seria de nós sem sonhos?

Deixei por último a humildade.

Quando na vida devemos ter humildade? O que é isso?

O momento da humildade vem com a maturidade. Acho realmente difícil um adolescente bombado em academia ser humilde com o físico que constrói todos os dias. Ele quer ser reconhecido como melhor que os demais... tanto esforço precisa de gratificação...

O intelectual também, o acadêmico, meio no qual me inseri há vários anos com espírito crítico, pode ter prejudicada a escolha pela humildade. O intelectual pode abrir mão das coisas materiais, reclamar de dinheiro em geral, buscando a glória nos olhos de admiração de seus alunos. A sala de aula não pode tornar-se altar da vaidade.

O político humilde existe, mas é pouco visto. É cabeça de bacalhau.

Vejo como humildade, salvo melhor definição, a consciência da finitude do próprio saber.

Lembro de professores que me disseram que quanto mais eu estudasse, mais eu teria consciência da infinitude da minha tarefa. E mais eu tomaria consciência do quão pouco sei ou conseguirei saber nessa "encardernação".

E talvez essa consciência de finitude do saber seja um presente muito melhor do que a pretensão do conhecimento enciclopédico.

Enfim, a discussão continua, mas que o Tao é bem legal e inspirador, para mim é sim.

Praticá-lo é o grande desafio, especialmente se convivemos em um meio adverso à sua prática, em toda a dimensão.





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