Gerações

Não somos os primeiros e não seremos os últimos a administrar a humanidade. Somos seres do nosso tempo, agimos conforme os valores vigentes e certamente erramos muito mais que acertamos.

As intenções são importantes, mas a preocupação com o resultado, para a coletividade, além do indivíduo (que precisa ser atendido minimamente), tem feito com que boas intenções tenham gerado resultados horríveis.

Qual o motivo de tal reflexão?

Ora, hoje é um dia especial. Preciso refletir o passado, o presente e vislumbrar o que nos guarda o futuro, que construo hoje.

Falar que administramos o mundo é redundância no dia de hoje, pois por absoluta coincidência, 09 de setembro de 1965 foi o dia da regulamentação da profissão de administrador de empresas... comemorado no Brasil como uma conquista na criação da nova profissão tão útil e tão emblemática, pois a empresa pode ser entendida como nós, nosso núcleo, nosso mundo.

Se expressar idéias, apontar problemas e direções, indignar-me e sucitar o debate, a criatividade, junto aos que resolvem compartilhar minha existência, é a idéia desse lugar (acho o nome blog bem feio), por detrás de tudo está a esperança de indicar caminhos que poderão tornar, para futuras gerações, melhor esse mundo e, de acordo com meu propósito inicial por aqui, o Brasil.

Daí envolver-se em política ser algo muito importante. Por isso me envolvo e me cobro por isso.

Não precisa virar político. Basta tentar compreender o jogo de forças que tanto influencia nossas escolhas imediatas. Compreender o quanto, talvez por uma força irresistível, como a gravidade, no final das contas, tudo recai no indivíduo, para o indivíduo, pelo indivíduo.

As instituições são ficções, criadas por grupos ciosos de seu compromisso com gerações futuras; gente que abriu mão de seu egoísmo para criar algo em favor do coletivo, em um tempo que não é o seu.

Ocorre que o indivíduo prima em tudo. Não esqueço disso.

Somos individualistas, e se vivemos em sociedade, acredito eu (após percorrer alguns km filosóficos), é por que nos sentimos melhor, mais protegidos, ainda que, no íntimo, primemos pela individualidade. Tivemos e temos que aprender a ser solitários, ainda que tenhamos tantas boas e más companhias.

O que vejo no reflexo do governo brasileiro hoje, infelizmente em instâncias não apenas dominadas pelo PT (ainda que esse partido, para mim, continue agindo, por vários de seus luminares, e talvez sob silêncio criminoso dos demais integrantes silenciosos, mas beneficiados), é o primado do individualismo sob as escusas da defesa do coletivo. Essa hipocrisia é cruel, pois ela arruina a capacidade de argumentação contrária, ela mina qualquer disposição em se criticar até mesmo algo que, na aparência, parece bom, como o Bolsa Família.

Para conhecer isso, é preciso participar. Conhecer. Criticar. Divulgar fatos ruins e bons, e promover a alternância do poder.

Para concluir a reflexão, envio semanalmente ao jornal Estado de Minas um artigo. Criei esse blog para ter certeza que a publicação acontece, seja lá ou aqui.

Essa semana o artigo sai publicado aqui... (nota: artigo publicado no jornal Estado de Minas no dia 20/09/13).

Lá vai:



Sociedade polaroid


Saciar a fome e a sede, quando aparecem, é muito bom. É impossível evitar que elas surjam, mas o diferencial de nossa espécie perante as demais é a capacidade de prevermos que sentiremos fome e sede, obrigando-nos a preparar provisões.
Arqueólogos são convictos da hipótese que uma das razões pelas quais o homem de Neanderthal desapareceu se deve à sua corpulência e insaciável fome. Eles dependiam de comer constantemente para sobreviverem. Por essa razão, ao que parece, os homo sapiens, mais leves e resistentes a longos períodos sem se alimentar, os sobrevieram e povoaram a terra.
A migração para climas temperados fez com que a humanidade, antes nômade, se fixasse e passasse a entender os desafios da perenidade e do sedentarismo, administrando variáveis como clima e trato do solo. Preparar-se para entressafras, obrigando comunidades a deixarem de consumir para terem o que comer durante o frio, é uma característica própria do ser humano. Isso sempre exigiu certa renúncia ao imediatismo.
Ocorre que hoje, com o distanciamento das pessoas do campo e a impressão de que o clima não nos impede de fazer nada, em especial em regiões tropicais como o Brasil, a noção de preparo para o futuro torna-se vaga e remota. A geração atual, com acesso a meios de comunicação avançados, valoriza em excesso as experiências do presente. Forma-se uma sociedade do instantâneo, dos que apertam um botão e desejam ver o resultado já, no momento, sem qualquer atraso ou espera.
Saciar a fome e a sede no momento em que surgem é algo prazeiroso, mas pode significar a penúria de amanhã. O país passa por um momento fantasioso de prosperidade, inebriado pela saciedade de demandas imediatas, sem projeção da sociedade no futuro.
Tal constatação decorre da análise do consumo desenfreado e do descontrolado acesso ao crédito. A pessoa endivida-se hoje, para consumir e realizar seus sonhos hoje, pouco se importando com o amanhã. A questão fundamental é: o futuro virá, mesmo para uma sociedade, como a brasileira, que se acha eternamente jovem e renovável, crendo que períodos de entressafra jamais serão vivenciados. A história não é nada generosa com os imprevidentes.
Aprender um instrumento musical, um idioma, são esforços de progressão. Abrir mão do tambor, que faz som e anima uma batucada, trocando-o por algo mais elaborado, demanda força de vontade. Tal troca será justificável se buscado um som mais elaborado, para acompanhar os que tocam tambor. No mundo real, é assim que funciona e isso explica um pouco porque o Brasil é tão dependente de tecnologia externa.
A assistência imediata (por vezes necessária e inevitável) tem falseado a realidade. O planejamento para o futuro não é papel apenas do governo, mas do povo. A economia e uso racional dos meios se faz urgente. O país ainda prima pelo desperdício, pelas iniciativas engavetadas e refazimento de obras. A perenidade própria das boas fundações não se constrói de um dia para o outro. Estará o país, por seus líderes, pensando nisso?





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