Estultices petistas

A liberalidade em falar e propor bobagens não é exclusividade de líderes populistas de esquerda. 

Estes, entretanto, flertam sempre com platéias cativas incapazes de contestarem ou indignarem-se com devaneios delirantes e absurdos, a despeito da presença invariável dos inúmeros diplomados, laureados e frequentadores de colóquios acadêmicos globais que dizem ser de alto nível.

O fenômeno contagioso não apenas ocorre com o coronavirus: a estultice - ou imbecilidade, estupidez, falta de inteligência e preparo - impregna as mais altas rodas intelectuais e elitistas sobretudo quando tudo se justifica pelo bem coletivo e, mais recentemente, pela suposta luta pela democracia, ainda que signifique a implantação do estado-policial e da censura, inclusive prévia.

O Brasil de L(202)3 revive a tragicomédia dos anúncios absurdos midiáticos, como aquele bem recente de que o país estaria negociando com Argentina - um país com várias modalidades de câmbio e uma inflação superior a 100% ao ano - a unificação de suas moedas.

A internet já ofereceu diversos nomes à nova moeda, como Sur-Real ou MerDol (Dólar do Mercosul), etc.

Brasileiros são engraçados e acostumaram-se a rir da própria desgraça - o que apenas a faz aumentar, a despeito da risada para não perder a piada, e sim amigos - que minimizam sob crenças primitivas e messiânicas

Rir da própria desgraça, esporte tupiniquim preferido, mantém brasileiros em constante estado de torpor, facilitando seu domínio e ignorância, honrando a tradição do refrão-profecia: deitados em berço (que crêem) esplêndido, mas na verdade é fétido, pútrido, típico daqueles oferecidos pelos medíocres.


(cena do filme Brazil, de 1985, estrelando Jonathan Price)

A composição acabada da administração L(202)3, com seus ministros que somam longas fichas corridas policiais (diretamente ou por associação), nada mais faz que confirmar o que já se esperava depois do longo processo de legitimação do crime contra a administração pública quando praticado por populista carismático.

A alta administração brasileira espelha, em todo o seu espectro, a mediocridade da vitória da ideologia e do aparelhamento sobre o mérito.

A despeito de esforços hercúleos de pessoas que tentam afirmar-se como neutras, buscando virtudes em parte dos indicados para primeiro e segundo escalão, turma que recebeu apelido de NEM-NEM na eleição de 2022, não consegue nominar nenhuma iniciativa positiva já anunciada nessas 3 semanas de posse de um presidente que conhece o posto desde 2003.

Pelo contrário. 

A obsessão em potencializar atos de vandalismo rebatizados como anti-democráticos, fruto da associação incestuosa e inaceitável do poder executivo com a mais alta corte, combinada à submissão vassala do Congresso, desprezando a separação dos poderes, indica a opção por se rumar ao passado, ao atraso (sobretudo institucional).

Estultices são produzidas a cada minuto por essa administração, como o discurso da nova presidente do Banco do Brasil, que primou pelo sentimentalismo e ausência de indicativos de melhor governança e alocação de recursos de uma enorme instituição com papéis negociados em bolsa. O ritmo e a produtividade de estutices só são comparáveis aos discursos do ditador Castro, em tempos de platéia obrigatória,  subordinada e escravizada.

A campeã da idiotice, entretanto, e nas últimas 24 horas, foi estampada no jornal mais influente no mundo financeiro europeu, o Financial Times: Brasil negocia com Argentina moeda comum.

O estrago que essa manchete fará é incomensurável.

Ao abraçar seus vizinhos em pleno naufrágio após a década perdida de 1980, o Brasil criou o Mercosul, uma cópia ruim e porca da idéia européia. A diplomacia presidencial dos proto-ditadores do Mercosul jamais fez avançar realmente o bloco do ponto de vista cultural e humano. Alguns setores foram beneficiados, mas a iniciativa nunca refletiu sentimento comunitário espontâneo.

O Mercosul, para os leigos entenderem melhor, é classificado cientificamente como iniciativa comunitária baseada em "desvio de comércio". 

Isso consiste na tentativa de substituir importações de países que vendem apenas com divisas fortes (dólar ou moedas européias, à época em que não havia o Euro) para importar-se de vizinhos também deficientes em moeda forte. Certos autores defendem que o desvio de comércio do bloco acabou por criar um mercado positivo, mas tal conclusão serve mais aos financiadores de pesquisas do que efetivamente às economias em questão.

A década perdida de 1980 exauriu as reservas internacionais dos países vizinhos,  que precisavam se unir, como náufragos que se abraçam como se bóias fossem, diante da morte certa.

Uma das resultantes (pouquíssimas, aliás) monetárias úteis do desastre da crise da dívida foi o convênio de créditos recíprocos, originado na ALADI. Foi e continua sendo um instrumento excelente, consistindo em simples mecanismo de compensação de pagamentos, evitando fluxos e saques desnecessários de moeda. Apenas isso. Nada mais é preciso.

Já propor-se uma moeda única no Mercosul é de uma estultice e despreparo criminosos.

Diante de um fato positivo - a independência do Banco Central do Brasil - o despautério da moeda única será dificultado, mas não encontra-se totalmente afastado. E uma idéia em meio medíocre, se bem embalada, faz estrago antes de encontrar o caminho do lixo (lugar ao qual pertence).

O Ministro da Fazenda do Brasil tornou-se o melhor exemplo da reflexão de Albert Einstein sobre o universo e a estupidez humana. Afirmava ele ambos serem infinitos, tendo Einstein claramente expressado hesitação em relação ao universo.




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