Por quê não ao Brasil

Indagam-me frequentemente a razão de ter saído do Brasil em 2009, ainda que eu seja apaixonado pelo país, saudoso dos amigos, família e conhecidos, além do clima, frutas, culinária e praias...

Eu teria várias razões a listar, mas o motivo fulcral é um só apenas.

Quando do segundo mandato do ladrão que todos conhecem, eu sentia que ele e seus esquemas e comparsas aprisionariam gradualmente o país. O discurso em marcha era praticamente impossível de ser dissolvido, desmontado, eu sabia e via ser tudo pura mentira. E eu pertencia a um grupo que seria segregado: não-fisiológico, não-tribal, agente do capitalismo responsável, ambicioso pelo país em matéria intelectual e comercial, avesso a ideologias totalitárias e sobretudo à manipulação popular por espertalhões e ignorantes sem limite.

Observador atento e perspicaz, sem preconceito para frequentar todo o espectro ideológico político brasileiro buscando conhecer propostas, deparei-me com uma corrupção sistêmica crescente, desonestidade e cinismo em níveis tão elevados que dava ânsia de vômito. Um mal-estar absoluto, em todo o espectro político, mas sobretudo da esquerda-política, pois eu, em certo momento da vida, a identifiquei como caminho pelo bem da coletividade, jamais negando a livre iniciativa e as liberdades individuais. A criminalização da prosperidade promovida por aqueles com poder e voz me causava arrepios, pois agravar a clivagem social manteria campo fértil para desonestos manterem-se no poder.

Fui convidado a dançar várias vezes, por várias pessoas e de vários espectros em vista da minha absoluta não-discriminação e não-preconceito quanto a quem quer que seja, mas a música nunca me agradava e certamente perdi oportunidades de associar-me a pessoas que viriam a ser muito poderosas...

Vi vários tornarem-se adeptos do discurso salvacionista, gente bem próxima a mim e de todas as classes sociais, posto que brasileiro não é cego e enxerga a desigualdade gritante que lhe rodeia, indignando-se em algum grau. Ele se preocupa, mas sua capacidade de diagnóstico e sobretudo de cura não poderia ser mais distorcida... mais falseada.

O bom sentimento de buscar minimizar a dor dos desatendidos pelo próprio povo e, em última instância, pelo estado, criou um ambiente propício aos populistas.

Diante da constatação de que a federação brasileira inexiste, que tudo se concentra em Brasília, por sua vez grande parasita do país, concluí: esses caras vão manipular sempre muito bem o estado, as mentes e corações de gente bem intencionada, mas alheia às engrenagens políticas e aversa a uma realidade que descobrirão horrível. Muitas vezes, não enxergar é a melhor opção... para não se desesperar.

Um país que sofre sistematicamente da Síndrome de Estocolmo, como é o caso do Brasil, em que as vítimas mostram simpatia pelo algoz, torna-as tão vulneráveis e cegas que o fracasso coletivo é inescapável.

Esse é o Brasil que esboço: um grande culto comparável àquele fundado por Jim Jones.


Quando, em 2007, decidi partir do país, Lula tinha altíssima popularidade, tendo sobrevivido de forma magnânima ao escândalo do Mensalão revelado por Marcos Valério e tantos outros. Lula, naquele momento, foi blindado pelo poderoso establishment (e pelo príncipe FHC, cujo partido gestou o esquema para alterar a Constituição e garantir seu segundo mandato). O líder que comandou e se beneficiou diretamente da mecânica do Mensalão deveria ter sofrido processo de Impeachment e sido excluído da política nacional.

Só que a ética perdeu. O bandido venceu. Seu esquema se fortaleceu. 

E concluí: acabou. Um país assim não tem futuro algum tanto para mim, quanto para minha família. Que coisa horrível de se dizer! Sim, a realidade pode ser brutal. Aceitá-la como é permite se passar a outro capítulo da vida...

A economia ainda brilhava no boom das commodities e no crescimento de dois dígitos da China... Houve ano em que a Vale aumentou em 100% o preço do minério de ferro! A bonanza era total e o populista perfeito estava no comando... 



Eu imaginei à época: não tem saída, esse pessoal nunca vai cumprir o que promete, mas seu projeto de poder tem elementos indestrutíveis, é muito sedutor para integrantes de quase todo o espectro da sociedade e fará tudo (legal e sobretudo ilegal, antiético) para angariar adeptos. O desmonte do esquema será impossível.

A eleição de 2022 provou que eu estava certo em minha avaliação, para mim mesmo, claro (caso contrário o bandido não teria tido tanto voto).

Meu desejo continua sendo que o país não piore demais, que a coletivização (que nunca chega no andar de cima, onde bandidos inatingíveis articulam seu domínio eterno, inclusive regional, com donos do poder, como bem ensinou Raymundo Faoro e que serviu de bússola ao pelego) seja lenta e reversível, pois um dia, forças coletivas conscientes e eficazes prevalecerão promovendo a real inclusão.

O problema é: conheço cada dia mais e mais pessoas de valor que deixam o país, assim como houve em Cuba, na Venezuela, na Rússia, na Argentina, no Burkina Faso... e tantos outros estados falidos por líderes populistas (que se cheiram, se unem e eternizam), seus arroubos totalitários e a mentira constante do socialismo messiânico em que gaiatos caem.

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