Conversão forçada

DAS TREVAS À LUZ

Na Era das Trevas (Idade Média), a Europa havia mergulhado em crise, esfacelada após a queda do Império Romano ocidental. Insegurança, violência, fragmentação política e crise econômica levaram o continente a um período de desagregação e desconfiança. Apenas a Igreja Católica permaneceu como elemento unificador sucedendo ao defunto Império, influenciando a nobreza e os soberanos no controle social, mas com divisões e má qualidade de vida.

A partir do século 11, a Europa partiu em Cruzadas visando a expulsão dos bárbaros invasores da Península Ibérica e da Terra Santa. Isso apenas serviu para aumentar ainda mais o poder papal e a mão pesada e poderosa da Igreja sobre aquele povo. À desislamização européia seguiu-se a perseguição religiosa, o antisemitismo sanguinário, impondo-se o catolicismo a ferro e fogo: fogueiras queimaram não-católicos que se recusaram a converter. 



Monarcas e a Igreja Católica se fundiam, naquele período feudal. A ficção do estado ainda não existia, algo surgido apenas no século 19. As trevas ainda se manteriam sobretudo pela crise representada pela Peste Negra (eclodida em 1347). Mais perseguições aconteceram, buscando-se culpados pela péssima situação sanitária resultando em contágio e infestação de ratos em centros urbanos lotados. O cenário era desolador: alguém tinha que ser o culpado... e ninguém tinha a coragem de dizer que a peste era o ódio divino à humanidade...

Ainda assim, acho que a epidemia bubônica germinou o questionamento da divindade, abrindo caminho ao conflito entre ciência e religião, para buscar-se explicar a causa da erradicação de 1/3 da população européia em apenas quatro anos. 

A época que se seguiu foi chamada de Renascimento, ocorrendo marcada e popularmente no século 17.

Deveríamos ser muito felizes como herdeiros do Iluminismo, da Era das Luzes

Ela marcou a história como a revolução intelectual em que razão, ciência e individualismo passaram a se sobrepor sobre o ocultismo. 

Os dogmas religiosos, inexplicáveis quando confrontados a fatos provados pela ciência e a racionalidade, passaram a ser questionados.

Abriu-se caminho à progressiva separação entre religião e estado que, ainda hoje, a maioria do ocidente comemora.

A Independência dos EUA em 1776 e depois a Revolução Francesa, em 1789, demonstraram como a idéia da república livre, sem monarcas ou o clero dominando o povo, ganhou adeptos, abrindo espaço ao secularismo.

Toda essa evolução merece festejo. Conversão forçada a religiões ou dogmas passaram a ser capítulos menores, sobretudo nos últimos 100 anos do Ocidente. Como abordarei em seguida, hoje a conversão é forçada... mas para ideologias destrutivas...

Claro que existem exceções cruéis recentes, como a conversão dos povos originários canadenses ao cristianismo até a década de 1990, com internatos desumanos em que crianças eram arrancadas de suas famílias. Só que são uma exceção numérica, parte da história oculta do Canadá.

Após a Segunda Grande Guerra (1939-1945), o mundo passou a valorizar a liberdade individual, a ciência, abominando dogmas, buscando sermos livres, tocando em especial povos da América do Norte e da Europa, que aboliram leis religiosas e o totalitarismo (diferente dos países que ficaram por detrás da Cortina de Ferro ou da Ditadura genocida de Mao ou aqueles que sucumbiram à ignorância assassina do fundamentalismo islâmico em número muito grande para serem listados aqui).

SENSIBILIDADE HUMANA SELETIVA

É interessante notarmos que, na década de 1990, a Europa assistiu passivamente à tragédia que se desenrolava a 1h e pouco de vôo da charmosa Paris. 

Enquanto a Bósnia-Herzegovina de 1992 a 1995 afundava em matança, poucos europeus se sensibilizaram com os sofrimentos dos croatas, bósnios e sérvios. As nações reagiram tardiamente para evitar assassinatos. O mundo assistia ao vivo os confrontos, todos os dias. Pouco antes, na Guerra do Golfo, a CNN passou a usar satélites e transmitir confrontos ao vivo... ajudando a espetaculizar a matança e a destruição, desumanizando mais ainda conflitos. 

O Massacre de Srebrenica data de julho de 1995. A covardia dos assassinatos sobretudo de homens e meninos, cujos corpos depois foram encontrados em valas comuns, foi interpretada como genocídio por tribunais internacionais. A clara intenção e metódica execução dos atos visava erradicar bósnios tendo grande êxito, sob espanto daqueles que valorizam qualquer vida. 

Apenas em 1995, forças da OTAN interviram, depois que mais de 100 mil pessoas tenham sido assassinadas sob olhos curiosos do Ocidente. Mais de 2 milhões foram obrigadas a emigrarem. 

O mais absurdo, ao meu ver? Tudo isso ocorreu muito próximo aos centros europeus cheios de riqueza, abundância e turistas... Famílias desorientadas andavam a pé até fronteira de países europeus ricos. A crise humanitária foi uma antecipação do que se tornaria a Síria uma década depois. 

Nada ou pouco sensibilizou os europeus, que não agiram para salvar povos de seus próprios tiranos,  baseando-se na Carta da ONU e julgados da Corte Internacional de Justiça de que assuntos internos devem ser tratados pelos próprios países, ainda que crimes contra a humanidade estejam sendo cometidos por nacionais.

O mundo continua assistindo impassível a esse espetáculo de horrores da opressão e assassinato perpetrados pelos cidadãos contra seu próprio povo, como Síria, Irã, Venezuela, Sudão, Coréia do Norte, Rússia, Belarus, Nicarágua, Gaza, Guiné Oriental, Burkina Faso e mais outros condenados à morte, ao atraso de suas elites armadas e poderosas.

RETORNO AS TREVAS, AGORA VOLUNTÁRIO

Diante desse cenário humano desolador, vários passaram a dizer que a sociedade ocidental faliu, não presta. 

Sempre há falsos profetas e a abundância ocidental, combinada a certa indiferença ao sofrimento alheio, foram o estopim de um ambiente em que floresceram idéias auto-destrutivas.

Os marxistas reformularam suas estratégias. Revisaram seus livros, sonhando agora a revolução de forma diferenciada. Passaram a traçar planos e entender que uma infecção causada por bactéria oportunista pode ser melhor que um tiro, facada ou sabotagem (apesar de estas continuarem na lista de preferências de atuação, especialmente diante de personalidades que possam ameaçar planos de poder bem desenhados). 

Ao invés de buscarem militantes dispostos a pegarem em armas como ocorreu nas revoltas latino-americanas da década de 1950 e 1960, ou na África descolonizada, tomaram decisão estratégica: disseram serem "defensores da democracia".

Passaram a "tomar o poder" por meio de estratagemas falseadores das instituições, com seus grupos pequenos, mas bastante barulhentos e bem organizados, parecerendo mais numerosos do que são - ou eram já que o poder é magnético, atrai parasitas e aproveitadores que bem servem a quem seja que lhes pague mais. 

Logo os revolucionários encontraram financiadores (atualmente vários deles com petrodólares) dispostos a garantirem influência e poder, conquistando-o finalmente, a despeito de nenhuma vocação para a função pública ou acadêmica. 

E diante do vácuo religioso conquistado no Iluminismo, causa do nosso incrível avanço e prosperidade, deparamo-nos hoje com um dogmatismo destrutivo, similar ao religioso da época da Inquisição.

Até a pandemia do coronavirus parece ter coincidido com a Peste Negra, numa reedição vagabunda do que aconteceu séculos atrás. Ao invés de nos ajudarmos, nos dividimos. Ao invés de debatermos a melhor abordagem, foram impostas medidas ditatoriais, autocráticas, excluindo parcelas importantes da população na tomada de decisão. 

Foram jogadas por terra todas as proteções à individualidade. Foram perseguidos os opositores às absurdas medidas sanitárias hoje comprovadamente equivocadas, como a máscara ou certas vacinas obrigatórias. 

Grupos no poder utilizaram-se da força para coagir e prender, como foi o desastroso caso das medidas de emergência canadenses, página negra da democracia e respeito às liberdades individuais de um país que sempre acolheu a diversidade de povos e idéias, sucumbindo à truculência dos acadêmicos pretensiosos com poder quase ilimitado e absoluta impunidade.

Esse dogmatismo não-religioso, mas tão intenso e violento como qualquer fundamentalismo, está à nossa porta.

Jovens motivados por valores distorcidos impostos por mestres desonestos tomam as ruas para defenderem assassinos, terroristas, pregando pela abolição da polícia e da ordem. Desejam destruir a economia, a propriedade privada, criminalizando o lucro e a acumulação de capital, desconhecendo em absoluto a dinâmica dos mercados optando pela ignorância ao invés de perseguirem o saber e a pesquisa.

Também, pudera: veja os números da ocupação da universidade pelos ativistas destrutivos no berço do conhecimento moderno, os Estados Unidos:

Atualmente, jovens tem sido obrigados a se converterem para pertencerem aos grupos.

São obrigados a negarem a herança de seus antepassados, herança cultural, de valores.

Engolem sem digerir mentidas mediatizadas, discursos de líderes covardes que se alinham a terroristas ou financiadores de terroristas.

DESNAZIFICAÇÃO

A desnazificação da Alemanha foi fundamental para não haver mais uma geração lavada cerebralmente com antisemitismo, fundamentalismo nacionalista destrutivo. Foram reformados os currículos, introduzidas humanidades, criados estímulos à vida familiar, tentando superar o legado destrutivo daqueles que ainda viveriam anos e que tinham auxiliado nas brutalidades da guerra.

O mesmo ocorreu no Japão.

O ocidente precisa de uma reforma educacional urgentemente. 

Jovens precisam de propósito positivo de vida, para não sucumbirem ao culto do ódio ao que têm sido obrigados a aderir para pertencerem a esse novo mundo ocidental distópico que lhes ensinam mestres desonestos e tresloucados.

Para salvar essa juventude e, sobretudo as novas gerações, conhecer o legado iluminista é fundamental, negando o dogmatismo, as idéias fundamentalistas que o marxismo aliado ao fundamentalismo religioso tem fomentado.

Espero que ainda haja tempo de salvar muitas pessoas da doença infecciosa que é o ódio empacotado em ideologias que, no fundo, pregam destruição, controle absoluto, caos e morte.

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