A contínua decadência inglesa
O PASSADO, meu passado
Tive o privilégio de, em minha infância e pré-adolescência, viver e estudar no Reino Unido, mais especificamente em Londres.
Anos mais tarde, passei meses estudando em Cambridge, ainda na tenra juventude.
Mais de dez anos depois, fui agraciado com uma bolsa Chevening para cursar mestrado em Londres. Tudo foi extremamente útil, abrindo-me os olhos para novas realidades e oportunidades profissionais que palpitavam no meio dos anos 1990.
Assim vi, no início da década de 70, surgir o movimento Punk, em que jovens excêntricos, com cabelos em pé em forma de estrela, andavam sobre sapatos de plataforma, demonstrando sua originalidade, sem ameaçar qualquer pessoa. Aqueles jovens representavam certa contra-cultura, escolhendo como se expressarem ao mundo. As bandas de rock criavam tendências e experimentos com equipamentos eletrônicos, o grupo Genesis sendo bastante popular.
Compartilhei ainda com o povo inglês o medo dos atentados do IRA, iniciados sobretudo em 1974. Aqueles terroristas plantavam bombas em centros comerciais e ruas movimentadas buscando causar medo e ferir inocentes, como foi o caso de explosões diante da loja Selfridges, na Oxford Street, com várias vítimas. Lembro que, em 1975, houve um grande atentado pouco depois que estive lá.
Em 1985, o ótimo filme Brazil!, de Terry Gilliam, inspirado em 1984 de George Orwell, retratou os tempos das bombas do IRA na distopia imaginada pelos autores, magistralmente executada.
Assisti à invasão dos petrodólares em Londres e o início da mudança populacional, fomentada pela maior liberdade de movimentação dos povos decorrente da popularização das viagens aéreas. O aumento exponencial do preço do barril de petróleo ocorreu em 1973, quando países da Liga Árabe fizeram mais uma tentativa genocida visando extirpar Israel - milenar lar judaico - do mapa. Isso causou empobrecimento dos países do terceiro mundo, resultando inclusive na Década Perdida da América Latina, afundada em dívidas em dólares.
As dinastias árabes passariam a frequentar ou mudarem-se para a capital inglesa. Eles esbanjavam dinheiro, circulando em seus Rolls Royces e outros carros de luxo muito antes que se vissem, com a regularidade atual, muçulmanos não milionários em Londres. No início avistar árabes era avistar Sheiks. Eram extravagantes, andavam em comitivas e tinham vários serviçais para carregarem suas sacolas saindo, sobretudo, de lojas de luxo como a Harrod's.
Na escola que frequentei ainda adolescente, passei a ter colegas iranianos. Eram exilados, filhos de pais que fugiram da Pérsia já que o regime dos aiatolás lá tinha tomado o poder, impondo o regime islâmico estrito e assassino que infelizmente persiste até hoje e que é uma das maiores causas de instabilidade na região, financiando o terror global antisemita.
Quando cursava o mestrado, presenciei a eleição do simpático e jovem Tony Blair pelo Partido Trabalhista Inglês. Tony renomeou seu partido de New Labour, oferecendo-lhe novo rosto, que inspiraria o petismo brasileiro a cortejar uma classe média desconfiada dos socialistas e suas sanhas arrecadatórias (lobos em pele de cordeiro, sempre).
Assim, o velho Partido (marxista) Trabalhista, inimigo do capitalismo, colocou sobre si uma camada de açúcar, coloriu-se de rosa, tendo êxito eleitoral e conquistando o voto da desconfiada classe média que não aguentava mais a austeridade, a disciplina de mercado herdada dos anos Thatcher (e seus sucessores muito fracos).
Tony inaugurou o longo processo de decadência econômica, cultural e moral dos ingleses, abrindo as portas à imigração descontrolada, ao inchaço do estado e ao projeto europeu, contrariando a histórica independência inglesa de modismos continentais.
Somando-se a isso, o Atentado das Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, acelerou o processo de transformação de Londres de um centro cosmopolita multicultural tolerante e diverso, rico em cultura britânica em um antro entrevado, marcado em seguida pelo atentado de 2005.
(fonte: BBC)
É natural eu ter nostalgia de uma época em que o britânico prevalecia em sua própria terra. Naquele tempo, valorizava-se a autoridade constituída, sem o autoritarismo que eu conhecia da ditadura militar brasileira. A polícia andava desarmada, jamais sendo desrespeitada pelo cidadão comum, tendo em vista a plena aceitação social de sua autoridade.
PASSADO INGLÊS PARA NÃO SE ORGULHAR
A Inglaterra sanguinária, que lançou sua conquista colonial violenta mundo afora, destruindo e dividindo povos, causando horríveis genocídios, guerras, pilhando terras, felizmente não existe mais.
A Inglaterra foi rechaçada pelos americanos há mais de 250 anos. Declararam sua independência depois de confrontos com os ingleses.
A Índia declarou sua independência também depois de abusos horríveis dos ingleses, inspirada por Mahatma Gandhi, ao preço da divisão daquele grande país para criar-se o Paquistão, semeando um cisma que gera atritos até os dias atuais na região.
A Austrália transformou-se em um país próspero, a despeito de ter sido originalmente populada por criminosos, prisioneiros ingleses que para lá eram degredados no século 18, enviados como uma alternativa à pena de prisão, séculos atrás.
O Oriente Médio foi fatiado, artificialmente dividido. Tribos foram colocadas umas contra as outras, no melhor estilo colonialista de "dividir para conquistar". Isso serviu bem aos britânicos - e aos europeus colonialistas em geral - permitindo-lhes extrair o tão-precioso petróleo por meio da criação de laços incestuosos entre o capital e petróleo árabe das dinastias autocráticas. Tudo está bem representado no épico filme Lawrence of Arabia, magnificamente estrelado por Peter O'Toole (que você pode assistir gratuitamente clicando aqui).
NOVO CAPÍTULO
É certo que quando pus os pés a primeira vez em Londres, eu jamais imaginaria que um dia tornar-me-ia súdito da coroa britânica. Quando optei pela cidadania canadense, achei que minha Londres conhecida até meados dos anos 1990 ficaria mais próxima... só que me enganei. Aquilo virou um imaginário nostálgico inexistente na prática.
A Inglaterra de Churchill, da defesa de valores sólidos, criadora da Magna Carta (limitadora dos poderes de tributar ao monarca), que promoveu a Revolução Industrial e modernizou o capitalismo, pensando a economia de mercado, não existe mais.
Só que ela não melhorou. Pelo contrário.
Sua economia murchou, atrofiou, decaiu.
A maioria de suas indústrias não existe mais. Suas universidades sobrevivem praticamente dos estudantes estrangeiros. O ethos inglês esvai-se a cada dia, com a perda progressiva da civilidade, das liberdades individuais, culminando na recente aceitação de imposição da Sharia (lei religiosa islâmica) à lei inglesa em diversas regiões.
Andar em Londres hoje é um desafio: ruas amontoadas de lixo, guetos de grupos étnicos hostis a estrangeiros ou mesmo aos próprios britânicos, mulheres amedrontadas de saírem às ruas após o entardecer e forças policiais proibidas de imporem a lei e a ordem.
A recente eleição do Partido Trabalhista após péssimas gestões dos conservadores ainda acrescenta ao cenário desastroso da decadência cultural e política, com perseguição a dissidentes, sucumbindo à violência de grupos sectários, dogmáticos.
Recentes decisões governamentais condenando ações de Israel na defesa de seu povo e integridade territorial diante de inimigos bárbaros e bem financiados pelo petróleo, suspendendo venda de certos armamentos indicam a decadência moral, gerencial. A porta-voz inglesa, a historicamente festejada BBC, passou a ser uma câmara de eco de libelos antisemitas, sem qualquer conexão com o verdadeiro jornalismo que tanto lhe marcou...
FUTURO
A empáfia da família real tenta modular um discurso, evadindo a constatação de sua absoluta imprestabilidade, apenas para tentar manter sua existência diversamente de tantas outras famílias reais que já foram abolidas, como no Brasil, Grécia, Portugal, França e outras paragens. A tradição real é um retrocesso, é um desserviço à cidadania, mas ainda assim parece que o desejo da ilusão impede cidadãos ingleses e canadenses a virarem a página dessa pantomima ridícula e cara aos contribuintes.
Caso existisse um movimento republicano sério no Canadá, eu gostaria de conhecer, talvez auxiliar no esforço do convencimento dos meus concidadãos do quão ridículo é nosso chefe de estado residir em Londres, vindo aqui uma vez a cada 5 anos (se tanto).
A decadência britânica é um fenômeno recente, imagino haver resistência interna, alguns têm sido perseguidos já que taxados de extrema-direita ou revoltosos, enquanto eu ache vários que tenho lido apenas nacionalistas, preocupados com a diluição de sua cultura aos poucos substituída pelo ódio, pela divisão e por culturas antagônicas à visão ocidental libertária.
Como dito por um grande político norte-americano, sem dúvida alguma a Inglaterra caminha a passos rápidos a ser um país islamita e com bomba atômica... destruindo séculos de avanços culturais e sociais.