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Mostrando postagens de 2017

Jerus-Além 2, a decantação e a geopolítica

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Vários dias após o "anúncio da autorização da transferência da Embaixada dos EUA para Jerusalém" pela administração Trump, já é possível ver a decantação da areia misturada à água. A água está mais translúcida, a areia começa a descer e conseguimos ver melhor o que é a notícia. Ao dar efeito jurídico a um fato ocorrido há quase 70 anos (decisão de o estado judaico em estabelecer em Jerusalém como sua capital), os EUA desafiaram muita gente. Teria então sido um ato impensado da administração norte-americana? Claro que não. Ela é um divisor de água com algum efeito para israelenses e palestinos, mas o efeito fundamental diz respeito à geopolítica e a uma guerra comercial. Ao final desse post tem um vídeo para aqueles que desejam entender a briga geopolítica entre Irã, Arábia Saudita e Turquia, que no passado transformava a causa palestina em uma bandeira importante, mas essa causa perdeu importância, como se verá. A reação do presidente francês , Manoel Macron, foi e...

Jerus - Além

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Tem muita gente que acha que Budapeste é uma só cidade. É o que eu achava, até ler o livro com mesmo nome, escrito por Chico Buarque. Quando fui visitar essa cidade maravilhosa materializei a coisa: ela é dividida pelo Danúbio e na realidade ainda permanece duas cidades, pela barreira fluvial e certa mentalidade reinante. Descobri que havia uma cidade chamada Buda, e outra chamada Peste, fundadas no ano 600 a.C. Só em 1872 d.C. é que as duas cidades foram unificadas, como se pode confirmar nesse site . Tem também muita gente que acha que Berlim é uma só cidade, mas ela foi dividida entre Oriental e Ocidental por vários anos, durante a Guerra Fria, já que o lado oriental era comunista e o ocidental capitalista. O muro caiu, a cidade (e a Alemanha) foi unificada, mas permanece o sentimento divisivo. Basta conversar com motoristas de taxi ou habitantes de um lado, para perceber que mantêm certo grau de antipatia ou desconfiança sobre quem habita o outro lado... O sucesso de Angela Merke...

América Latina: influência externa e desonestidade intelectual a serviço da revolução

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Desde fins dos anos 1980, com o desvio da influência norte-americana para a recém-libertada Europa do Leste, quando da queda do Muro de Berlim, a América Latina é palco de luta por poder. A luta se dá entre oligarcas (novos e velhos, com formatos e origens variadas), representando elites capitalistas de um lado e o povo de outro. Os novos oligarcas são representados algumas vezes por sindicalistas, bons aprendizes de técnicas militares ou de guerrilha, aprendidos em Cuba ou mesmo a defunta URSS. Vários líderes populares e populistas surgiram na região, dentre os quais se destacou Hugo Chávez, que teve a ousadia de progressivamente subverter a ordem constitucional venezuelana visando tornar-se ditador eterno. O câncer matou o ditador, mas ele estabeleceu um formato de exercício de poder absoluto que ainda beneficia a casta que criou, atualmente liderada pelo alucinado Nicolás Maduro. Outros países, como Bolívia, Equador, Paraguai, Brasil e Argentina seguiram na mesma linha, alguns...

Sucessão presidencial brasileira: o drama de um país

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Tensão em alta, num lugar já em alta-tensão. Daqui a 1 ano os brasileiros saberão quem lhes governará pelos 4 anos seguintes. Ou desgovernará (como foi o caso da Dilma). A demografia demonstra que os brasileiros não são mais tão jovens, havendo mais gente que já votou e viveu a democracia do que quem votou 27 anos atrás, quando das primeiras eleições diretas presidenciais. Há certa voz da experiência, da vivência, mas ela conta? Em que sentido? Essa é a pergunta que vale 10 milhões de dólares... O brasileiro um pouco mais vivido tem razões para ficar apreensivo, pois sabe que não elege uma pessoa, uma idéia, mas uma coalizão que tornará ou não o país governável. Por governável, entenda-se: interesses setoriais serão sempre privilegiados em detrimento do interesse coletivo. A estrutura administrativa e de poder brasileira, de tão concentrada, não permite uma real e efetiva representação da coletividade. Sem novo pacto federativo, desfazendo o que Getúlio e os milicos fizeram...

Caciques social-democratas: meros oligarcas

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Ontem a novela de auto-destruição do PSDB teve mais um capítulo quixotesco. Aécio Neves - o acuado sob graves denúncias que deveriam lhe convidar à profunda e silenciosa reserva - destituiu o atual presidente do PSDB, Tasso Jereissati. É lastimável assistir a essa pantomima grotesca, para aqueles que algum dia - como eu - tiveram alguma simpatia pela agremiação... a quem se interessar por análises a respeito, convido a ler isso  e isso . Esses senhores rastejaram para disputar a sucessão no partido que administra o estado de São Paulo e que ainda mantém alguns centros de poder, mas esquecem-se - como sempre fizeram - do voto popular e da necessidade de existir no país alguma oposição inteligente (em contraponto ao que Bolsonaro ou PT fazem nos dias atuais). O baixo nível da discussão, a ausência de oxigenação das agremiações, a péssima envergadura moral dos que as lideram, tudo isso deixou de causar espanto e ajuda a entender para onde irá o país em 2018. Começo a cons...

Soviéticos: 100 anos de fracasso

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Acima: Stálin, Lenin e Kalinin, fundadores (dentre outros) do império soviético. Nos últimos dias, muito se tem falado do que foi e é a Rússia.  O projeto soviético visou impor o Materialismo Dialético a milhões de pessoas. O que efetivamente fez foi criar uma máquina industrial de matança e sofrimento, mais perversa que aquela denunciada por Marx e Engels, bons observadores das agruras da Revolução Industrial. Os anos de 1921 e 1922 marcaram para sempre o fracasso da União Soviética. A poderosa propaganda totalitarista - denunciada por Hannah Arendt e Arthur Koestler - tentou fazer o mundo esquecer que nesse período entre 5 e  10 milhões de ucranianos e soviéticos de outras regiões (os números nunca foram calculados com certeza, seriedade, mas relatos são inúmeros) pereceram de fome. O canibalismo, nessa época, tornou-se praticamente comum naquela terra que passou a ser amaldiçoada desde que a era dos czares acabou, em 1917. Koestler conta muito bem em sua obra ...

Novas dimensões internacionais

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Definitivamente, o mundo atual é bilateral. O multilateralismo representado pelas instituições originadas em Bretton Woods e a ONU estão em franca decadência aos olhos dos países mais influentes do mundo. Aí se inclui a tardia OMC, que desde 2001 patina em busca de prestígio e exclusividade para questões ligadas à governança comercial global. O mundo em desenvolvimento pugna pelo multilateralismo. O problema é que, ao terem obtido voz e dominarem razoavelmente os métodos de diálogo, seu peso majoritário nas instituições multilaterais tem servido não apenas ao benéfico movimento de nações pobres ou em desenvolvimento se fazerem ouvidas. Elas tem adotado políticas ideológicas e, como seria natural, trazem consigo, ao assumirem maior responsabilidade na cena internacional, sua própria cultura que é marcada pelo autoritarismo, descuido com o interesse coletivo e insensibilidade para questões diplomáticas. O leitor está bastante familiarizado com Trump, que mais parece um elefante na ...

Educação continuada entre fundamentos e técnica

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O mercado de trabalho pode ser extremamente cruel, especialmente para com desatentos e acomodados (mas não exclusivamente para estes), independentemente de sua idade. O modelo antigo e antiquado de aprendizado visava a obtenção de um diploma, pelo qual o ofício aprendido era atestado por algum tipo de entidade certificadora. A profissionalização tem origem nas corporações de ofício, organizadas sob autorização imperial em que a reserva de mercado era garantida e sua violação punida com extremo rigor. A diplomação é um resquício das corporações de ofício, pois se por um lado atesta que uma pessoa cumpriu créditos e teve notas suficientes confirmando ter aprendido algo, por outro lado é uma barreira diferenciando quem tem formação formal daquele que conhece o ofício na prática. Seria uma falácia dizer que uma profissão se reduz a um diploma. Talento, vocação, sensibilidade e tantos outros atributos fazem um (bom) profissional. Imigrantes qualificados sofrem muito com o formalismo...

Já que o Rio não reage, reagem por ele?

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A situação dramática pela qual passa o Estado do Rio de Janeiro demanda intervenção externa, mas não é por aí... O Rio é o que se chama de estado falido, tradução literal do FAILED STATE. Não diz respeito apenas a dinheiro, pois o termo FALÊNCIA, nesse caso, cobre todos os aspectos da vida carioca e não apenas o financeiro (um dos pilares do problema). A violência havia falido o Rio muitos anos atrás, mas como o dinheiro do petróleo e os investimentos com jogo isso, jogo aquilo (Panamericanos, Olimpíadas, Copa do Mundo...) faziam a economia girar, os bandidos tinham renda certa. Com a quebradeira econômica, o bolo ficou muito pequeno para bancar a bandidagem, esta acuada com as ações pacificadoras em favelas. Como bandidagem incluo parcela da polícia, como aquela que matou a juíza que havia descoberto o esquema de um grupo e os perseguiu à letra da lei. Resultado: mais violência, muita pressão sobre todo mundo. Bandido passou a ser exigido a produzir mais lucro aos chefões,...

Um lesa-pátria que não prestou contas de seus atos

Quem opta pela função pública deve responder por seus atos.  Quem comete atos de má-fé, cruéis, subversivos, desagregadores, assume o peso das consequências. Não iria publicar mais hoje, devido a afazeres profissionais e acadêmicos, mas a notícia me veio expedita e preciso lembrar algo, antes que esfrie. Hoje morreu Marco Aurélio Garcia. O ideólogo por trás do Foro de São Paulo, melhor expressão do mau-caratismo da esquerda ditatorial latino-americana, partiu sem pagar a conta. Ele deslocou o Brasil para se alinhar a revolucionários islâmicos visando destruir o modelo de sociedade ocidental, onde estivesse. Sujeito inteligente, altamente manipulador, teve razoável êxito em suas iniciativas, além de fiéis macacos de auditório. Eu escrevi esse post sobre esse sujeito, que merecia ter sido estudado e julgado pelos seus crimes de lesa-pátria, junto com seus parceiros no crime: Lula, Dilma e outros que ainda estão vivinhos da silva, articulando a desarmonia na região, que...

O homem com H

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Sou fã desse cantor, não apenas pela sua belíssima voz, presença de palco e escolha de músicas, mas também por sua auto-afirmação, sua relação bem resolvida consigo mesmo, a sociedade e a política. Daí, eu achar adequado transcrever entrevista em que diz tudo o que precisa ser dito sobre vários temas.  De uma lucidez magistral, inspiradora. Homenageado do 28º Prêmio da Música Brasileira, em meio à turnê mais bem-sucedida de sua carreira ("Atento aos Sinais", iniciada em 2013) e com inúmeros projetos paralelos, tanto na música quanto no cinema, Ney Matogrosso, 75, está claramente numa fase luminosa. Em momentos como este, é fácil esquecer que o cantor trilhou um caminho pedregoso até se estabelecer no cânone da MPB. Se teve sucesso imediato com o grupo no qual estreou, o Secos e Molhados (em 1973), quando partiu para a carreira solo, dois anos depois, Ney apanhou. Da direita "careta", da esquerda "machista pra caralho", dos críticos "impla...