Jerus-Além 2, a decantação e a geopolítica

Vários dias após o "anúncio da autorização da transferência da Embaixada dos EUA para Jerusalém" pela administração Trump, já é possível ver a decantação da areia misturada à água. A água está mais translúcida, a areia começa a descer e conseguimos ver melhor o que é a notícia.



Ao dar efeito jurídico a um fato ocorrido há quase 70 anos (decisão de o estado judaico em estabelecer em Jerusalém como sua capital), os EUA desafiaram muita gente. Teria então sido um ato impensado da administração norte-americana?

Claro que não.

Ela é um divisor de água com algum efeito para israelenses e palestinos, mas o efeito fundamental diz respeito à geopolítica e a uma guerra comercial. Ao final desse post tem um vídeo para aqueles que desejam entender a briga geopolítica entre Irã, Arábia Saudita e Turquia, que no passado transformava a causa palestina em uma bandeira importante, mas essa causa perdeu importância, como se verá.

A reação do presidente francês, Manoel Macron, foi emblemática. Ele repetiu o discurso dos negociadores palestinos: os EUA não serão mais capazes de intermediar qualquer solução ao Conflito Palestino-Israelense. Jogou para a platéia (a França teme árabes radicais justificadamente, em vista dos inúmeros atentados mortais em seu território).

Na verdade, Macron busca um protagonismo na região. Ele tem dois motivos para isso:

1.  parceria com o Irã, com quem multinacionais francesas como Airbus, e do setor petrolífero, passaram a fazer negócios intensos e bilionários à luz do dia (pois faziam via intermediários), a partir do momento que Obama abrandou as sanções contra o país semi-nuclearizado; e

2. busca de influência européia militar e política na região, para contrapor os EUA (lembremo-nos que, assim como Inglaterra e EUA, a França é um dos maiores exportadores de material bélico do planeta).

Os interesses em jogo, portanto, pouco tem a ver com Jerusalém, recém anunciada como sede de uma futura embaixada.

Essa é a razão desse post.

Uma palavra introdutória final: ativistas e opinadores são barulhentos e ficam abusando das bandeiras humanitárias para sempre condenarem Israel pelos males na região, estendendo a mão até mesmo a terroristas. Alguns gestos revoltosos são compreensíveis. Há colonização ilegal, baseada em dogmas de algumas seitas judaicas, que não tem sido gerida adequadamente pelas partes. Só que isso é muito pontual e idiotas-úteis examinam fatos isolados e fora de contexto, falsificando o resto, a realidade. Eles se auto-convencem de que Israel é, como um todo, uma força maligna na região, o que naturalmente é falso (bem como é absolutamente falso eu dizer que todo palestino é canalha ou terrorista). Garotos da foto abaixo são manipulados por lideranças que lucram com o conflito e pretendo dar aos ativistas estrangeiros (dispersos mundo afora) razões para pensarem um pouco melhor em suas posições, não para lhes pedir para deixarem de enxergar desastres humanitários, mas para verem a big picture, o todo. Só sob essa perspectiva compreender-se-ão como ser pensantes e não apenas autômatos, programados por lideranças ilegítimas ou grupos sectários a odiar, já que o ódio tem sido internalizado em diversos países. A ignorância semeia ódio e medo.



Jerusalém é mais um capítulo na geopolítica do Oriente Médio, que cada dia mais esquenta.

O Irã, com seu sonho de levar a revolução islâmica à região, e depois ao mundo, desde 1979 está engajado em sua tarefa e encontrou na Arábia Saudita um forte opositor. Os sauditas se posicionaram contra o Irã já na guerra Irã-Iraque, alinhando-se com os EUA, pois o jogo real era EUA versus a defunta União Soviética.

O fim da Guerra Fria em 1990 ocasionou um reposicionamento na região, em que Irã, Arábia Saudita e Turquia brigam pela hegemonia na região. E a única forma de ganharem popularidade à sua causa é envolver religião no meio.

O Irã é uma república de aiatolás, na verdade uma ditadura em que qualquer oposição verdadeira é massacrada e as execuções públicas são a norma. Diariamente há enforcamentos em praça pública. Riquíssimo em petróleo, usa isso para exportar sua revolução e impôr o medo interno e o terror internacional.

A Arábia Saudita é uma monarquia familiar e qualquer dissenso é massacrado por serviços secretos altamente eficientes, utilizando tecnologia de ponta.

A Arábia Saudita financia mesquitas e movimentos salafistas mundo afora, para aumentar sua influência política e, ao incluir religiosos no arranjo interno de poder, garante estabilidade à família Faysal. Os terroristas de 11 de setembro eram majoritariamente sauditas, mas não parece que eram ligados ao governo. Eles, incluindo Bin Laden, haviam sido treinados pelos EUA para matarem soviéticos na guerra Irã-Iraque... depois acabaram montando seu próprio esquadrão odioso, concorrente aos movimentos terroristas iranianos como Hezbolá. Recentemente, a Arábia Saudita fez um jogo arriscado aprisionando o primeiro-ministro libanês Hariri, para exigir-lhe dar menos poder ao Hezbolá e, assim, reduzir a esfera de influência iraniana naquela porta de entrada do Oriente Médio via Mediterrâneo (o Irã sonha em ter esse acesso livre...).

A Turquia viveu dias melhores de democracia, mas Erdogan é um autocrata que esmaga opositores. Ano passado eliminou parte de opositores no exército e na intelectualidade, no que denominou contra-golpe. Muita gente foi morta, silenciada, e nada mais se fala, pois a Turquia integra a OTAN e a geopolítica, como sempre, fala mais alto que direitos humanos e liberdades individuais. Erdogan quer estender seu poderio na região e para isso alia-se aos russos, sendo parceiro de outro autocrata, Vladimir Putin.

O Irã está presente na Síria, ajudando Assad a eliminar opositores pelos meios brutais... assim como a Rússia. O Irã agora tem acesso a muito dinheiro e a fornecedores de armas, tecnologia, etc. O regime dos Aiatolás adoraria massacrar a Arábia Saudita e dominar a região, razão pela qual busca a bomba nuclear a qualquer preço (e que Obama lhe colocou mais perto de alcançar ao relaxar sanções). O que acontece agora?

O Irã infiltra-se mais densamente na Síria, chegando perto do seu objetivo final: ter parte do seu território ou base militar no Mar Mediterrâneo.

Qual é a via mais fácil para o Irã conseguir isso?

Dou um doce se o leitor adivinhar....

Sim! ISRAEL!

Sem Israel no mapa, que palestino o quê! Palestino deixaria de existir no momento seguinte, pois o território se tornaria iraniano!

A quem interessa isso?

A Arábia Saudita corre contra o relógio, pois quando o Irã tiver a bomba atômica, inflará o peito. Turquia não tem a bomba... nem Arábia Saudita...

Os palestinos, pobres palestinos, demonstram ser apenas massa de manobra para deslegitimizar a presença de Israel naquele território. Israel é um entrave desagradável. A desculpa religiosa para conflito econômico e territorial vem pela história desde que se inventou religião...

Os palestinos são talvez um povo - tenho sérias dúvidas disso, mas isso é prá outro post - que poderia viver tranquilamente junto a israelenses, só que não são donos de seu destino. E não é Israel que lhes impede de serem autônomos. São seus "amigos" árabes.

As guerras enfrentadas por Israel desde 1948 foram engendradas por árabes, não por palestinos. Quem acha que Israel incomoda palestinos está sendo muito bobinho, inocente ou desinformado. Árabe só ajuda palestino se for prá premiar atos terroristas... porque ajuda internacional vem é do Ocidente, da União Européia, dos norte-americanos.... dos contribuintes desses países...

Os EUA buscam prestígio e o governo de Trump é um governo de generais. A administração Trump entendeu que precisa marcar posição na região e que um conflito de grandes proporções entre Irã e Arábia Saudita, e talvez Turquia, tem chance iminente de acontecer, pois a Rússia de Putin também está envolvida. Sem Israel forte, os EUA se enfraquecem demais. A Europa toma o lado dos palestinos por pena, moralmente ouve Israel (pois foram os europeus que perpetraram o holocausto) e econômica e militarmente joga jogo duplo com todo mundo na região (suas ex-colônias, lembrem-se bem).

Após lerem esse post, talvez entendam melhor a coisa.

Talvez entendam que Jerus-Além é uma jogada em um tabuleiro gigante.

Talvez entendam porque alguns líderes árabes ligaram para Abbas (o moribundo líder palestino) para dizer: nada de Intifada agora, porque estamos diante de um momento muito maior para haver um confronto de enormes proporções na região.

As consequências econômicas de tal conflito seriam desastrosas, com o barril do petróleo subindo várias vezes... o que beneficiaria do Brasil e... a Venezuela (razão pela qual Maduro e Irã possuem uma aliança profunda, que vai bem além da Revolución, sendo inclusive o vice-presidente venezuelano nada mais que um... iraniano!).

Para finalizar, assista ao vídeo abaixo, para entender o que está acontecendo no terreno...










Mais lidos

Mentiras de Estado

A democracia-ditadura: o poder sem representação

Um texto magistral para a magistratura brasileira

Com ou sem máscara?

Ditadura do Judiciário exposta: Congresso Norte-Americano

Manipule e influencie os jovens: eles poderão ajudar no esforço destrutivo de amanhã