Já que o Rio não reage, reagem por ele?

A situação dramática pela qual passa o Estado do Rio de Janeiro demanda intervenção externa, mas não é por aí...

O Rio é o que se chama de estado falido, tradução literal do FAILED STATE.

Não diz respeito apenas a dinheiro, pois o termo FALÊNCIA, nesse caso, cobre todos os aspectos da vida carioca e não apenas o financeiro (um dos pilares do problema).

A violência havia falido o Rio muitos anos atrás, mas como o dinheiro do petróleo e os investimentos com jogo isso, jogo aquilo (Panamericanos, Olimpíadas, Copa do Mundo...) faziam a economia girar, os bandidos tinham renda certa.

Com a quebradeira econômica, o bolo ficou muito pequeno para bancar a bandidagem, esta acuada com as ações pacificadoras em favelas. Como bandidagem incluo parcela da polícia, como aquela que matou a juíza que havia descoberto o esquema de um grupo e os perseguiu à letra da lei.

Resultado: mais violência, muita pressão sobre todo mundo.

Bandido passou a ser exigido a produzir mais lucro aos chefões, num ambiente de maior escassez de recursos, fazendo a violência piorar ainda mais...

A governança vem falindo no Rio há anos, desde Brizola. Garotinho inaugurou uma nova era, a do deboche com ladroagem, mas Cabral pode ser eleito o campeão olímpico da ladroagem, da esculhambação e da despriorização das necessidades do seu povo.

A desarticulação da administração pública do Rio fez com que a bandidagem assumisse mais ainda assuntos coletivos, pois é onde o estado falhou.

Hoje, no Rio de Janeiro, vários bairros, regiões, quase-cidades, são totalmente administrados por facções criminosas que impõem sua visão de lei e ordem, que nada tem a ver com o que lemos nos livros e nas leis publicadas no Diário Oficial.

Boa parte da população carioca hoje é regida por leis que não são produzidas na Assembléia Legislativa do estado, nem no Congresso Nacional.

Essa população é julgada por tribunais populares, tem seu destino decidido pelos chefes da criminalidade e do tráfico, não contando com o Poder Judiciário, que há muito tempo deixou de ser o real lugar de solução dos conflitos da sociedade.

Quem manda no Rio não é a caneta, mas a bala.

O carioca sabe sofridamente como tudo tem funcionado e muita gente, quem pode, caiu fora.

Financeiramente, o Estado do Rio faliu.

O Rio é o exemplo da má-gestão associada à desgraçada fama de ser um lugar legal, bonito, agradável.

A hipocrisia fez com que o mundo se comportasse como um avestruz, ao não querer enxergar a metástase que atingiu o Rio de Janeiro - o estado todo e não apenas a capital - e cuja doença o matou.

Anuncia-se que o BNDES está montando um plano financeiro para salvar o Rio, mas será um tratamento paliativo. Muito insuficiente diante do que mereceria ser feito.

O Rio é, assim, o melhor exemplo do Brasil. A cara do Brasil, nua e crua, está no Rio.



O Rio tornou-se o exemplo do cinismo, da ladroagem, da falta de vontade de se encararem os problemas para se gerar uma solução socialmente aceitável.

Lembra muito a Máfia na Rússia: o estado acabou, com o fim do comunismo, e quem estava melhor organizado era apenas a Máfia e os antigos oligarcas do regime comunista. A população trocou comunismo por outro totalitarismo, o dos oligarcas e mafiosos... Jamais houve e não se vislumbra democracia na Rússia tão cedo... Esse "case" de mudança política ocorreu também em outros países da Europa do Leste e o Rio de Janeiro é outro exemplo similar: quando o estado sai, a bandidagem se organiza, pois não tem lei e visa apenas um objetivo: O PODER pela arma.

O Rio precisa de um acerto institucional, de um grande pacto entre as nações que ali habitam. Elas são muitas.

O tráfico hoje, juntamente com outras expressões de criminalidade, como o Jogo do Bicho, precisam se sentar à mesa de negociações com cidadãos, para que a matança diminua ou quase-acabe. É preciso um pacto social que não passa apenas por políticos, como muita gente deseja se iludir.

Achar que o poder público constituído na forma de estado dará jeito na situação, é jogar lenha na fogueira ou tapar o sol com a peneira.

Achar que resolver as contas do estado por meio de estratégias financeiras será uma solução duradoura é fazer muito pouco do que realmente deve ser feito.

Um novo modelo de governança, envolvendo cidadãos e a bandidagem, precisa ser construído.

Um armistício tem que acontecer.

Passou da hora de líderes públicos e comunitários construírem uma grande concertação e diálogo para dizerem: "ninguém consegue viver num caos assim; vamos mudar a história, pois só cabe a nós resolver. Não deleguemos cegamente a um governo as soluções pois ele não conhece nem consegue impor após 30 anos de história desagregadora. Gente demais está sofrendo".

Isso será feito?

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