Governantes em Brasília e hesitação mineira

Dr. Anastasia é um grande profissional, professor de Direito Administrativo. Sua carreira sempre foi dedicada ao engrandecimento dessa disciplina e soube dar uma imensa contribuição à melhor organização do Estado.

Ocorre que todos nós sabemos que ele não é político. Ele virou político por opção de Aécio Neves e de seu entourage. Ele é a alternativa mais fiel para a continuidade de um projeto de ascenção ao poder e da manutenção dos ganhos e eficiências que o PSDB fez em Minas Gerais. A briga de Aécio com seu vice passado tornou Anastasia a única opção viável para uma concertação de poder que dá certo.

Entretanto, os pontos positivos não blindam ninguém de críticas. Minha admiração pela capacidade intelectual do atual governador mineiro não pode impedir que eu, bem como pessoas próximas, que gravitam em seu círculo, por vínculos de amizade ou profissionais, abra meus olhos e de meus amigos leitores para o que está acontecendo em meu estado natal.

Minas Gerais é uma preciosidade. Humanamente, o mineiro reúne qualidades ímpares, sendo muito tradicional, mas responsável, ciente de seu compromisso com valores lançados desde a Inconfidência, e que lhe são enraizados na alma. Economicamente, o estado não cede à loucura paulista de prosperidade a qualquer preço, havendo uma relação mais harmônica entre trabalho e natureza, gente e coisa.

A ida do Governador Anastasia a Brasília para pedir pinico a Dilma vai contra tudo o que seu mentor político, Aécio, e o PSDB mineiro vêm falando, em matéria de federalismo.

A diminuição de Minas continua. Seu apequenamento, como alguns gostam de dizer.

O Governador, e seu mentor, perdem uma chance histórica de reafirmar os valores do Estado, misturando tudo e se curvando à fórmula ditatorial de Vargas, dos militares e do PT, que tudo fizeram para concentrar renda e poder em Brasília.

Anastasia não tem que ir a Brasília. Tem que ir às redes de televisão, usar a máquina gigantesca de propaganda que o Governo do Estado criou, para gritar:

- Chega de concentrar poder em Brasília!

- Minas é um estado rico, mas a riqueza tem sido usurpada para ser levada a Brasília e financiar a concentração de poder de um partido, de uma ideologia, para financiar as bondades do PT na África e em Cuba!

- Minas estará parando de efetuar repasses ao Governo Federal, propondo uma emenda constitucional permitindo o endividamento do Estado sem necessidade de consulta ou autorização do Senado, até o limite de sua arrecadação líquida, para financiar seu desenvolvimento e mobilidade urbana!

- Minas não aceita que os problemas de suas cidades sejam resolvidos em Brasília. É hora de rever o federalismo!

Mas não. Anastasia não fez e não fará isso.

O PT conseguiu se entranhar em todas as instâncias institucionais do país, em todos os níveis de governo. Os caras são extremamente competentes. Aliás, os mais competentes do Brasil.

E sabemos que isso é como um jogo: o que importa é o placar, não como a bola entra no gol (nesses tempos, impossível deixar de usar analogias futebolísticas)...

O método petista é altamente eficaz, posto que estudado, praticado à exaustão, imposto e comprado. Os caras, repito, são feras! Mas não são o melhor que o país pode gerar.

Anastasia perde, assim, liderança. Perde em envergadura. Perde a oportunidade.

O PSDB mineiro, que possui pessoas que admirei em certa época, não consegue alterar a percepção de ser um partido tímido, oligárquico, fechado, que impede a ascenção de novos valores, que não permite oxigenação de idéias e métodos. Parece um partido que não quer que lhe mexam nas entranhas, como que temerosos que um cheiro pútrido virá a exalar.

Ocorre que o PSDB governou o país por 8 anos, com alguns avanços positivos. O PSDB colocou o país em outro patamar, no âmbito interno e internacional. O capital histórico do PSDB é inegável. E o PSDB, em contraponto natural ao PT, tem menos sectarismos e seria conceitualmente mais aberto.

O PSDB de hoje, entretanto, é sombra do passado... Anastasia, portanto, não possui coragem ou mandato de seu partido para enfrentar Dilma.

Crê-se fraco. Pode ser que esteja ou seja fraco. Não sei ao certo e não é possível avaliar sem conhecer minúcias do processo administrativo do partido e do Estado (que sabidamente está com as finanças bem ruins).

O  novo pacto federativo perde oportunidade imensa de ser relançado.

Será que, em uma oportunidade histórica como esta, o PSDB não vê que o momento é agora?

Será que estão rolando a bola para Eduardo Campos, Marina Silva (irc!), ou qualquer outro?

Bom seria termos Brizola vivo (não que eu gostasse demais dele), pois ele se elevaria, criaria um circo e...BOTARIA O DEDO NO NARIZ DE DILMA DIZENDO:  

CHEGA DE CONCENTRAÇÃO DE PODER EM BRASILIA, DE PETISMO, DE CONDUTA ELEITOREIRA. BAIXE UMA MEDIDA PROVISÓRIA E REPASSE TUDO PARA MUNICÍPIOS E ESTADOS GARANTIREM MELHORES SERVIÇOS AOS CIDADÃOS.

Ah... Brizola tinha coragem. Era destemido. Fez besteiras, mas não se curvava a esses desafios. Pena que sua ideologia era um lixo. Coragem, tinha.

Essa turma de hoje parece pendurada em interesses ocultos, parece preocupadíssima NO QUE PODEM PERDER, e assim deixam o país se confundir, o grito falar mais forte que a razão.

No final das contas, estão facilitando (sim, Anastasia incluído) a sucessão controlada pelo PT. Dilma tem a caneta. Alguém tem dúvida que continuará a utilizando para benefício único do seu próprio grupelho?

Há anos escrevo sobre isso.

Desde o sufrágio de 2002 pus fé em mudanças sociais positivas que o PT poderia ter implementado com tanto apoio popular, mesmo sob imensas críticas pelo seu projeto soviético/cubano de poder.

As manifestações farão isso. Fortalecer o PT como voz das massas, detonar mais ainda a classe média, e fazer com que gente como eu e você, que temos estudo e crítica, concluamos que não possuímos representantes dignos.

Não temos representantes que realmente se arrisquem por nós, que empunhem bandeiras sabemos conhecidas e necessárias. Parece que os representantes atuais, da oposição, apenas medem índices e constatam sua insignificância e sua militância, diante da poderosa máquina petista.

Tenho fé em mudanças, elas um dia chegam, mas liberdade tardia era o que Tiradentes e os Inconfidentes mais odiavam. O quadro dele esquartejado, seus pedaços rodando pelas ruas, é um sinal de que justiça tardia não é justiça.

Governador: o momento é agora. Arrisque.

PSDB, se quiser algum dia voltar a ser algo para a coletividade nacional, mexa-se, oxigene-se, coloque à sua frente gente que nada teme, que tem coragem de falar e inteligência para articular!








Mais lidos

Mentiras de Estado

Com ou sem máscara?

Ditadura do Judiciário exposta: Congresso Norte-Americano

A democracia-ditadura: o poder sem representação

Manipule e influencie os jovens: eles poderão ajudar no esforço destrutivo de amanhã

Um texto magistral para a magistratura brasileira