Toxicidade política: um plano dos maus

Constatar uma realidade ou algo não implica em utilizar a imaginação, mas apenas somar fatos numa sequência lógica mensurada no tempo. Ainda que se diga o contrário, acredite no que você vê e ouve à sua volta, antes de concluir algo.

A política, na era do mundo hiperconectado e das mídias sociais, atualmente representa o tóxico, o perigoso, o desagregador

Em 2018 já estava claro para onde se caminhava. 2022 está sendo um ano extremamente desagradável para aqueles que, como eu, se interessam e desejam ter algum engajamento político moderado, racional e ético.

E assim constato: a política tem sido o inverso do que se espera de sua função

A política deveria ser o meio em que diversas expressões e idéias são expostas e se chocam, produzindo um ambiente onde valores e objetivos minimamente partilhados reforçarão o elo necessário para que a sociedade se desenvolva, prospere e perpetue-se.



A política precisa, entretanto, de uma base sólida para ser funcional. É como um edifício: se construirmos um prédio alto sem fundação sólida, sabemos que ele vai desmoronar, hora mais, hora menos. No caso da política, a fundação se constitui de civilidade e ética.

Se é permitido que uma disputa política ocorra baseada na mentira, na usurpação de poderes, na traição a valores insculpidos em uma Constituição observada por quase todos, certamente faltarão requisitos fundamentais para se fazer política produtiva. 

A história dá registros suficientes sobre política feita por e para a oligarquia (veja abaixo). Seu caráter desagregador, destruidor de valores sociais e, obviamente, econômicos, é inquestionável. Uma sociedade funcional demanda elo e confiança mútua entre cidadãos. Mesmo na discórdia, uma sociedade precisa funcionar.

Oportunistas (sobretudo muitos dos políticos e partidos, altos funcionários públicos poderosos, bem como agentes ligados a todo tipo de mídia e máfia) vêem o ambiente desintegrado como proveitoso. Nele prosperam, já que perigoso e tóxico espanta quem teria algo a contribuir com lucidez, moderação e senso ético.

 

Brasília: a distância do povo do centro decisório, ou "O começo do fim"

Juscelino Kubitschek, ou simplesmente JK, em minha constatação histórica, nada mais foi que um fanfarrão, um populista irresponsável. Distribuiu cartórios e benesses a amigos próximos, promoveu o  desmantelamento da malha ferroviária brasileira rendendo-se à indústria automobilística multinacional. Com isso, consolidou a corrupção elevando-a a um patamar nacional.

O pior de tudo: insistiu e criou Brasília, apoiado por parasitas e interesseiros que lucraram colossalmente com tal delírio.

Brasília é um monumento mundial ao déficit democrático e ao endividamento irresponsável de governos. Sua construção foi paga por 3 gerações e está no cerne de diversas crises econômicas nacionais.

Ao colocar o centro do poder distante de toda a população brasileira, virou a ilha artificial da prosperidade em que funcionários públicos empodeirados e endinheirados vivem de intrigas, em bailes bancados por pagadores de impostos. 

O objetivo político teve êxito: ao destruir qualquer proximidade entre representantes do povo e eleitores, Brasília virou o castelo inatingível dos poderosos. Nele, tudo podem fazer. Pouco ou nada se vê ou ouve do que se passa fora dos palácios acarpetados e climatizados do lindo planalto central. 

Se a política de proximidade, sobretudo o voto distrital (que conheço bem no Québec, onde resido desde 2009), permitem participação política melhorzinha, um pouco mais transparente, Brasília é a representação do inverso: tóxica, repleta de mistérios e negócios escusos feitos por gente que desenvolveu linguagem e costumes próprios para usurparem direitos e sugarem dinheiro dos brasileiros incautos. Construída longe de tudo e de todos, Brasília permanece alienada do Brasil e do mundo.

O Anuário Estatístico do Brasil de 1955 (feito pelo IBGE e disponível na internet), primeiro ano de governo de JK, dava conta ter o país 58 milhões de habitantes. Na pág. 28 desse Censo vê-se que 20 milhões residiam na região Sudeste, 19 milhões na região Sul, 14 milhões no Nordeste. Apenas 2 milhões viviam no Centro Oeste (onde escolheu-se construir a nova capital) e o mesmo número no a região Norte. 

O que tais números significam? O brasileiro que desejasse participar de algum evento no centro decisório do país deveria viajar mais de 2 mil km para atingir Brasília, EM MÉDIA. Imagino isso em um país em que viajar era (e ainda é) caro, demorado e perigoso (os acidentes rodoviários eram e continuam elevados).

Abaixo: distribuição populacional recente.




Esvaziando estados de poder (e de receitas tributárias)

Protagonistas atuais não inventaram a toxicidade na política. São apenas criaturas ou herdeiros desta. Ela começou séculos atrás, com os oligarcas fazendo leis e instituições para lhes servirem, colocando apadrinhados no estado, garantindo-se partícipes da roda da fortuna em que tudo é feito por eles mesmo e em favor próprio, inclusive furtar o cidadão sem que este nem mesmo saiba que está sendo furtado. 

Primeiro, era o Imperador isolado em Petrópolis mandando como queria. Depois do golpe de 1889 instaurando a República, houve presidentes no Palácio da Guanabara, a Política do Café com Leite que tanto demorou para acabar.

O Golpe de 1930 mudou as regras do jogo em que Getúlio Vargas, ditador populista, centralizou poderes na Guanabara e reinou até 1945. Em seguida a alternâncias entre normalidade e crise, o regime militar instaurado em 1964 promoveu ainda mais o esvaziamento de poder dos estados. A doutrina da segurança nacional, diante da Guerra Fria, justificou aos poderosos tornar a distante Brasília em umbigo do Brasil.

Em 1968, sepultou-se simbolicamente a moribunda independência dos estados, mudando a denominação de Estados Unidos do Brasil para República Federativa do Brasil. No ano seguinte, o golpe à democracia ocorreu, com o AI-5, instituindo-se o regime de exceção em nível nacional.

Note como era o brasão de armas da República até 1968:


Veja o dinheiro até 1968 como era:


Questionou? Prendo e Arrebento. 

O obtuso regime limitar instituiu a repressão, alimentando o lobo comunista que já rondava a América Latina e contaminou corações de jovens sonhadores esmagados pela carestia e desesperança no sistema. Jovens da época, hoje profissionais e professores letrados, cristalizaram a imagem romanceada de que assassinos eram poetas (como o da foto abaixo), abdicando da capacidade de distinguirem o bem do mal, diante de fidelidade ideológica canina à revolução. E assim, passaram também a propagar a mentira com que se apaixonaram e intoxicaram.


A política econômica equivocada do regime manteve a economia fechada, garantindo benesses aos oligarcas nacionais, representados por famílias, empresários e banqueiros tradicionais. O tal compadrio. Lembro-me bem de ouvir sobre as tenebrosas transações que Delfim, Ueki e outros chefões e seus amigos faziam, no Banco do Brasil, Petrobrás e outras estatais, enriquecendo-se (e colocando suas fortunas na Suíça).

Durante o regime militar, a corrupção já institucionalizada por JK alinhou-se à linha ideológica dos militares, traduzida em obras faraônicas e inúteis. O Êxodo Rural trouxe milhões de imigrantes nordestinos para o Sudeste, fazendo a existência precária, favelas e crime explodirem. Ao mesmo tempo, as manifestações políticas eram abafadas e quem tinha opinião levava pancada, tendo inclusive um presidente militar dito que iria prender e arrebentar quem divergisse da agenda oficial de abertura política (ou seja, o método era fazer tudo, inclusive algo tido como bom, à força).


Diante de tanta incompetência gerencial, os militares deixaram a cena pública pela porta dos fundos. Desprezados por uma população dividida, abriu-se caminho para uma democracia participativa em que novos partidos políticos resgatariam a real representação nacional. Haveria, enfim, respeito a cada grupamento social, região, demanda e sonhos. A Constituição de 1988 concentrou ainda mais poderes sobre políticas públicas e rendas em Brasília... ao ponto em que governadores são obrigados a ir de pires na mão à capital federal para investirem a riqueza gerada por seus próprios estados.

A refundação brasileira visava resgatar o senso de cidadania, mas acabou sendo usurpada pelo outro lado da moeda maldita daqueles que possuem sede por poder, melhor representados hoje pelo PT. Mas antes disso houve um período relativamente neutro, pacífico.

A direita radical representada sobretudo pelos militares de 1964 cedeu espaço ao que seria uma centro-esquerda, melhor representada por Fernando Henrique Cardoso. Naquele momento, parecia que o pêndulo ideológico, das instabilidades regulares, tinha parado. FHC contemplou demandas sociais e econômicas promovendo a alteração da Constituição para incluir a palavra eficiência associada à administração pública.

Parecia que tudo estava indo muito bem, até que a corrupção novamente se revelou, com o segundo mandato de FHC resultando de um esquema de compra de votos no Congresso. Constatou-se: nada (ou pouco) mudou.

Seu partido, o PSDB, desenvolveu nova tecnologia de corrupção já adaptada aos tempos democráticos, passando dinheiro desviado de estatais para bolso de  integrantes e amigos, por intermédio de agências de publicidade e marqueteiros. O tal mensalão foi iniciado em Minas por um governador que esteve preso. 

A privatização - em alguns processos muito questionáveis - beneficiou amigos, inclusive aqueles que a promoveram, como o ex-ministro Pedro Malan, na sequência tendo garantidos empregos poderosos e regiamente pagos pela elite do capital nacional, aquela que nunca largará o osso e os privilégios do oligopólio (essa é a real luta de liberais que, como eu, insistem na livre concorrência, transparente e honesta).

Sedentos por poder, unidos sob o manto da ideologia radical (o totalitarismo revolucionário comunista), partidos de esquerda se uniram pois haviam eleito sua estrela-guia: Lula.

Sabotadores de várias iniciativas pacificadoras e unificadoras do país, como a própria Constituição de 1988 e o Plano Real, Lula e seus comparsas viram a oportunidade surgir e em 2003 iniciaram seu (des)governo do país.

Tendo enganado os indecisos por meio da tal cartinha Paz & Amor, Lula sentiu-se à vontade para novamente dividir os brasileiros, incutindo ódio e discriminação por todos os lugares por onde andou e em todos os apontamentos de cargos importantes que fez

O PT aparelhou o STF, a máquina pública, universidades e escolas, o Itamaraty e organismos internacionais almejando o poder eterno. Assim como Lenin, Hitler e Stalin, Lula e seus comparsas sempre gostaram da idéia totalitária, concebendo seu próprio Reich milenar não apenas no Brasil, mas na América Latina cleptocrata.

Sequência final: votem, mas matem-se antes

Eles X Nós. Quanto mais tóxico, melhor: a democracia brasileira atual está doente.

Ela permite que um bandido condenado em várias instâncias, cujos processos foram elogiados e examinados por vários do STF, possa concorrer à presidência.



Ela permite com que meios de comunicação promovam tal bandido, ocultando fatos fundamentais que em qualquer sociedade melhor orientada eticamente jamais se permitiria tal descalabro.

Ela admite que juízes indicados pelo mesmo bandido o julguem e deliberem em seu favor, perseguindo adversários políticos e críticos, cassando-lhes a voz inclusive por apresentarem fatos sedimentados na história muito recente.

Diante de tal patologia, podemos votar, mas o mero exercício do voto enseja em autofagia, em autodestruição.

Um povo rachado ao meio, que não confia no vizinho, no próximo, tem pouco futuro e continuará a ser explorado por políticos e instituições oportunistas.

Este blog se dedica a explorar fatos e idéias.

Sempre tento, com recuo prudente, apresentar ângulos variados do que vejo e, por vezes, participo. Já escrevi, entretanto, que não consigo, em nenhuma hipótese, votar a favor de um corrupto que adaptou o esquema de corrupção do PSDB e promoveu o maior furto aos brasileiros na história do universo.

Lula, a quem dei o benefício da dúvida durante sua campanha de 2002, mas depois de revelados os seus crimes, nada mais passa do que um bandido oportunista, um ser abjeto que qualquer país minimamente orgulhoso e ético já teria devolvido ao esgoto da história.

O simples fato de um ser assim prosperar institucional e politicamente e possuir chances de voltar a mandar no país é sinal da profunda doença que acomete brasileiros.

Meu esforço nesse blog é tentar promover maior consciência sobre a monstruosidade que poderá ocorrer se metade dos brasileiros conseguir eleger quem faz apologia do crime e da violência todos os dias, em todos os seus discursos.

Após o dia 30 de outubro, estoicamente poderei resignar-me, caso o criminoso saia vitorioso das urnas. Ele terá sido ajudado pelos oligarcas e usurpadores do poder de sempre. Aqueles que deixam rastros de destruição e desagregação por onde passam.

Eu gostaria de ver o Brasil curando-se, não adoecendo mais ainda.

Só que não tenho o poder de, por meu desejo e constatação, mover o mundo.

Apenas torço.



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