Eu fui ver. O governo não viu, não gostou e tem raiva de quem viu.

 




    A Declaração dos caminhoneiros organizadores do Comboio Canadá Livre é muito mais sensata e objetiva do que as manifestações governamentais recentes, que apenas fazem piorar o sentimento de insegurança, tanto em conteúdo, quanto em qualidade. 

    Pode-se dizer que o governo canadense atual não sabe dialogar com a própria população.

    Ontem o governo declarou estado de emergência no país, causando desaprovação imediata. O Primeiro-Ministro dá sinais de delírio. Inebriado em sua torre de marfim, prova estar distante dos fatos, da realidade, da rua e do povo que deveria representar.




    Note-se que Trudeau foi eleito com menos de 1/3 dos votos dos canadenses. Ele se esquece disso com a naturalidade própria aos soberbos.

    Os conservadores tiveram mais votos nas últimas eleições de 2021 (em plena pandemia, o que valeu condenação ao governo atual que achou seria majoritário). Em virtude do sistema eleitoral canadense, os conservadores tiveram mais votos, mas fizeram menos deputados, não podendo formar governo (parlamentar).

    A prova da ignorância do Primeiro-Ministro sobre o que acontece sob seu nariz teve o ápice no Parlamento em Ottawa, no dia de hoje. 

    Ele agressivamente respondeu a uma deputada da oposição, de confissão judaica, dizendo que ela estaria apoiando um movimento de cunho supremacista, que expõe suásticas e bandeiras confederadas (sempre vinculadas a racistas brancos dos estados sulistas norte-americanos).

    Como o descontrole do mandatário ficou patente, a oposição caiu em cima, martelando mazelas da administração. Trudeau saiu do Parlamento quase pela porta dos fundos e enterra-se ainda mais, aos olhos da opinião pública.


    
    

    Jamais pensei vivenciar uma desconexão da realidade tão intensa quanto a atual no Canadá. Seu governo não compreende ou ouve seu próprio povo. 

    A dissonância cognitiva é enorme.

    Fui a Ottawa no dia 4 de fevereiro, prestar meu apoio ao movimento democrático contra a segregação sanitária e testemunhar os eventos. Recuso-me a comprar notícias enlatadas e distorcidas, sobretudo por que a mídia tradicional canadense é altamente subsidiada pelo governo e lhe lambe as botas fielmente, o tempo todo.

    Em Ottawa, vi apenas manifestantes alegres, engajados, pacíficos. Cruzei milhares de pessoas que, como eu, apóiam o fim da segregação entre vacinados e não vacinados, a abolição dos passaportes sanitários e de medidas que restringem o direito de trabalhar e de ir e vir.

    Eis fotos de Ottawa de 4 de fevereiro de 2022. Tinha gente dançando, tomei café e comi TimBits oferecidos pelos diversos acampamentos cidade afora. Fui chamado por todos de bro, pois não manifestei qualquer animosidade aos acampados, essa gente do Canadá inteiro, numa manifestação cultural, étnica e geograficamente variada. Os manifestantes limpavam as ruas, esvaziavam lixos que eles mesmos haviam colocado nas grades do parlamento, cuidando para que tudo fosse extremamente civilizado, calmo e pacífico.






Na foto acima, placa do PPC, Partido Popular do Canadá, nacionalista, mas devidamente registrado segundo a lei, que congrega um pessoal mais radical e que obviamente está pegando carona na absoluta inabilidade e má-vontade do governo Trudeau em negociar com manifestantes, a despeito do imenso apoio popular ao movimento.







Está mais para Woodstock 1969 do que para a Tomada da Bastilha 1789, não é mesmo?


    No dia 12 de fevereiro, fui a uma manifestação organizada pelo movimento de liberação dos mandatos, dessa vez em Montreal. Fui prestar, novamente, apoio e documentar o que estava acontecendo. 

    O que vi: festa de participação popular, expressão da democracia sem violência. Sem palavras de ordem ou discursos radicais. 

    Achei, aliás, bem diferente da revolta, da raiva e do quebra-quebra promovido em outras ocasiões no Canadá, nos EUA e em outras partes do mundo, sobretudo nos anos recentes. E no Canadá teve de tudo na última década, mas nem por isso foi declarada emergência como feito por Justin Trudeau essa semana.

    A repressão atual do governo ao movimento contra a segregação sanitária é fruto da insegurança, do medo e do descontrole dos governantes (que sucumbem ao sonho do poder absoluto). Espero que a situação seja rapidamente resolvida por um governo de coalizão, com um novo Primeiro-Ministro.

    Diferentemente do Brasil, não há Impeachment quando o mandatário é inepto ou corrupto. Há um processo de questionamento de sua capacidade de liderar, uma Moção de Confiança, que precisa ser votada e o Primeiro-Ministro destituído.

    Não sei ao certo, mas imagino que a oposição esteja negociando apoios para acabar com essa fratura causada por um governo inepto.

    O Canadá, quem diria, está com um governo que criminaliza a democracia, a manifestação popular, quando contrária ao partido no poder. Reconheço que havia urgência sanitária, mas atualmente a COVID é uma endemia mundial e todos os governos, inclusive provinciais, estão abandonando todas as discriminações e os passaportes sanitários. Bastava apresentar um plano de flexibilização das regras e deixar o povo trabalhar...

       Realmente, jamais imaginei estar tão próximo de regimes autoritários como hoje. Felizmente meus concidadãos canadenses estão também preocupados, indignados.

  O povo canadense, formado por imigrantes que aqui se refugiaram fugindo de perseguições, genocídio e outras coisas horríveis, como ditaduras, fome e outras penúrias, não aceitam e não aceitarão a inépcia básica em lidar com uma crise facilmente solucionável, localizada.

    Essa época negra da história dos direitos civis canadenses ficará registrada.

    Justin Trudeau e seus colaboradores possuem, assim, espaço reservado nos anais da história como tendo protagonizado momentos profundamente infelizes para essa democracia que representa mais que sua população.

    Em Auschwitz, Campo da Morte nazista onde milhões foram covardemente destituídos de sua identidade, dignidade, para em seguida sadicamente serem mortos em câmaras de gás e seus restos mortais queimados industrialmente, para não deixar provas, os prisioneiros falavam sobre o Canadá. Era o Canadá místico, terra de fartura e de liberdade, onde as diferenças e a diversidade conviviam pacificamente.

    A mensagem do governo atual parece ser: imigrantes, venham para o Canadá, terra da liberdade sem castigo corporal COM CONDIÇÕES. Nós queremos seus cérebros, seus braços e seu dinheiro, mas vejam bem o que vai lhes acontecer se ousarem questionar o governo do partido liberal: você será excluído socialmente e do mercado de trabalho, sua conta bancária será fechada e você sofrerá as maiores violências não-físicas imagináveis.

    Um site radical foi inclusive organizado para perseguir, denegrir e tentar destruir pessoas e negócios que apóiam o Comboio da Liberdade. E o governo não faz nada a respeito desses Justiceiros, a despeito das leis locais e regras internacionais, em especial a Convenção da ONU (1966) sobre Direitos Civis e Políticos...(vejam artigo 17). Não custa perguntar: será que o partido liberal, que governa o país, estaria indiretamente ligado a movimentos de tal natureza? A inação do governo em manter calma e harmonia, partindo para o jogo de força e criminalização da oposição, é um indício para entendermos quem está errado em toda essa estória. Ainda não acredito que haja crime de opinião no Canadá, portanto posso expressar minha consternação sobre tudo o que estou assistindo passar diante de meus olhos...

 Os caprichos dessa gente com poder, mas desconectada da realidade, não matarão o mito, o sonho de liberdade que representa o Canadá. Só que o caminho se mostra árduo. Aqueles que se apegam a cargos e ao poder desmedido nunca terminam bem. Espero que não demore muito para que forças do bem se organizem para desmontar essa tragédia em que se tornou o governo Trudeau.

Mais lidos

Mentiras de Estado

Com ou sem máscara?

Ditadura do Judiciário exposta: Congresso Norte-Americano

A democracia-ditadura: o poder sem representação

Um texto magistral para a magistratura brasileira

Manipule e influencie os jovens: eles poderão ajudar no esforço destrutivo de amanhã