O insustentável peso das restrições sanitárias globais.

 A fadiga pela COVID criou a tempestade perfeita.

Há milhões de descontentes com as limitações impostas ao existir, ir & vir.

É criança jogando fora tempo precioso fazendo aulas por vídeo ou frequentando escolas de máscara. São idosos privados de um abraço. Ou a solidão do trabalho em casa, dos bares fechados e das restrições de viagem.

Diversas medidas sanitárias foram justificadas lá atrás. Só que seguiu-se a vacinação em massa em países ricos e no Brasil, reduzindo enormemente a gravidade da doença. 

Dois anos após pânico, improviso governamental e desorientação médica, as medidas restritivas não mais se sustentam e um plano de abordagem como endemia já deveria existir mundo afora.

O Canadá, após imposição dos mandatos vacinais aos caminhoneiros no início do ano está assistindo a um momento unificador intenso, representado pela conscientização popular a respeito da insustentabilidade das restrições sanitárias.

Vivo no Québec, uma província canadense em que parte razoável da população sonha em separar-se do Canadá por recalques sociais, econômicos e culturais. Têm lá suas razões... Os protestos pelos caminhoneiros causou algo inesperado: uma convergência sobretudo da classe trabalhadora em libertar-se do jugo das medidas restritivas da liberdade e ao ir e vir. E quem mais representativo da liberdade de ir e vir do que aqueles que vivem na estrada, nômades por natureza, que permitem prateleiras cheias em farmácias, supermercados e lojas?

A mídia tradicional está desorientada com tantos fatos reais que diuturnamente se esforça em distorcer. O uso de dois pesos e duas medidas é evidente e escolhi, para comparar, duas grandes manifestações populares (legítimas) do meu Canadá contemporâneo (eventos que vivi de perto).

Quando Montreal ficou ocupada pelo movimento marxista Occupy Wall Street, em 2011, a principal praça no centro de negócios da cidade foi tomada por acampamentos protestando contra o sistema capitalista (muitas das vezes com uso de violência e destruição de estátuas em praças e danos ao patrimônio público e particular). As mídias não ousaram rotular os poucos manifestantes de extremistas. Pelo contrário, aplaudiram enquanto paradoxal e hipocritamente aceitavam anúncios e patrocínios de bancos e multinacionais para bancar seus jornalistas (na realidade, ativistas).






Quando Montreal foi tomada, em 2012, por hordas de professores e seus estudantes manipulados, sob a desculpa do aumento de alguns dólares em suas anuidades (já baratas, posto que altamente subsidiadas pelo estado-gordo), o objetivo claro e real era derrubar o governo do PLQ (partido liberal do Québec). E conseguiram! Tiveram ajuda de uma ação orquestrada pelo partido separatista (Parti Québecois) que acabou sendo eleito no mesmo ano, na esteira de protestos. Houve quebradeira e blackblock, mas nem por isso a mídia lhes condenou, pelo contrário, lembro-me muito bem. Só que tudo foi insustentável, por falta de real legitimidade: o partido separatista não conseguiu manter-se no poder nem mesmo por um mandato de 4 anos... ficando evidente que as manifestações da época tinham cunho meramente golpista.


  


Já o movimento iniciado no Canadá pelos caminhoneiros, proibidos de cruzar a fronteira se não tiverem prova de vacinação, tem sido tratado como atividade terrorista. A província de Ontário declarou estado de emergência e está se preparando para remover manifestantes à força, com tropas de choque e, diz-se, franco-atiradores (a confirmar).

Manifestantes estão, ainda, sendo taxados de extrema-direita, fascistas. Além disso, o governo e as mídias principais dizem tratar-se de gente bancada por interesses estrangeiros influenciando a política canadense, com objetivo único de dar um golpe... coisas risíveis. A grande imprensa, o governo e inúmeros trolls no Twitter e outras mídias sociais passaram a destilar medo, acreditando que o pânico sanitário permite criminalizar a democracia e suas manifestações.

A Ponte do Embaixador, ponto de passagem de grande parte do comércio terrestre entre EUA e Canadá, teve tráfego interrompido pelos caminhoneiros e apoiadores sem-caminhão. Somam-se aos estacionados há semanas diante do Parlamento canadense, em Ottawa. 

Em artigo excelente, Rex Murphy, ex-âncora e comentador da TV pública, cujos serviços foram dispensados no início do governo atual, comenta que realmente é uma dó que alguns residentes de Ottawa estejam sendo privados de consumir croissant fresco em virtude do protesto... Mordaz e objetivo, este jornalista de peso - de envergadura comparável à de um Alexandre Garcia - é comprometido com fatos e a verdade e não com puxasaquismo garantidor de ascendência em carreira, fundada em moralidade seletiva, como acontece com a quase totalidade das mídias atuais. Seu artigo é um primor e dá o tom da realidade canadense.

Vejam como são alguns dos perigosíssimos manifestantes canadenses:


Estive hoje pela manhã, dia 12 de fevereiro, no Parc Jarry. Fui conferir com meus próprios olhos a manifestação em Montreal. Ela era sendo descrita, enquanto tudo se desenrolava, por quase todas as redes de rádio e tv, como sendo fascista, violenta e outras bobagens... Veja por si mesmo a "animosidade", "agressividade" e "altíssimo perigo imposto pela multidão enraivecida" ao povo canadense...

Bd St-Laurent fechado pela polícia e lá ao fundo a manifestação pacífica

Outro ângulo do Boulevard St-Laurent fechado e trânsito caótico desviado

Multidão de todas as idades e etnias, a perder de vista


Equipe de TV discreta, pois tem sido hostilizada pela população em virtude da enorme manipulação de imagens e criação de narrativa falsa

Para padrões canadenses, um mar de gente















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