Brasil: estado falido e a urgente necessidade da descentralização do poder

Enfim os fatos que cercam a morte da vereadora Marielle vêm à tona: ela foi mandada assassinar por um colega de Câmara de Vereadores, de um partido de aluguel, entrando para a estatística dos crimes políticos motivados pela infiltração de bandidos na política.

Ela não foi morta por ser mulher, gay, pró-movimento LGBT, etc.

Ela foi morta porque denunciou a infiltração do crime na política, porque desafiou o status quo político e achava que vivia em um país com governo.

Há muito o Brasil é gerido por bandidos. A Lava-Jato comprovou isso. A marginalidade virou norma.

Sob o manto hipócrita da normalidade aparente, escondem-se esferas ocultas de poder que determinam o futuro de toda uma nação.

As milícias apenas prosperam em estados falidos e o Rio de Janeiro, com vários ex-governadores presos por corrupção, é o melhor exemplo do governo por bandidos, seja no Palácio da Guanabara, seja nos morros, nas ruas, no legislativo municipal.

A intervenção federal nesse estado é um início de reação, mas sem envolvimento da sociedade ou sua reinvenção, sem mudanças legislativas devolvendo poder ao cidadão e criando mecanismos de participação, gestão e punição por qualquer irregularidade, a intervenção terá sido em vão.

A crise de governança sem governo atingiu o Brasil em cheio desde 1967, quando a Constituição Federal da época acabou com o voto distrital e retirou do cidadão comum qualquer perspectiva de participação política.

A centralização de poder iniciada por Getúlio Vargas em sua Revolução de 1930 foi coroada pelos militares estatizantes. A população brasileira foi feita refém dessa arquitetura perversa em 1988, quando da Constituição Federal da tal Nova República - que de nova nada tinha - pois dar peso idêntico à representação das populações de estados tão díspares como São Paulo e Amapá não passa de uma piada que incapacita qualquer governo que saiba priorizar políticas públicas.

A morte de Marielle soma milícias, crime, desgoverno e impunidade.

Assim como ela, dezenas de outros políticos são mortos a cada ano, por contrariarem interesses que na maioria das vezes estão vinculados diretamente ao crime. As ameaças de morte e violências corporais também acontecem com a maior naturalidade e o brasileiro dá de ombros, dizendo: é, realmente o Brasil é um país violento... E fica por isso mesmo na maioria dos casos.

Eu gostaria de ver um movimento cidadão visando devolver o poder político ao cidadão, esvaziando Brasília. Tenho escrito e falado isso nos últimos 15 ou mais anos. Um povo que é apenas vítima da estrutura política que lhe retira poder não pode submeter-se a tal estrutura sem se revoltar.

Não vejo governador algum defendendo seu povo. Na história recente só me lembro do ato de independência e confrontativo à União promovido por Itamar Franco, só que ele não soube montar uma estratégia de sucesso devolvendo aos mineiros o poder que entregam de bandeja e inutilmente a Brasília... Para o Brasil voltar a ser um país decente de se viver, esvaziar Brasília é o caminho do qual não se pode desviar.

Até lá, políticas erradas, criminosos comandando o estado e a política, milícias atuando livremente... se manterão intocados.

Policiais estão sendo chacinados no Brasil. É o outro lado da moeda da violência auto-alimentada. Leia esse editorial muito bem escrito.


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