Resolvedores ou problematizadores

Chacrinha, um antigo comediante da televisão, que minha geração assistiu na infância, disse algo que ficou famoso:

EU NÃO VIM PARA EXPLICAR. EU VIM PARA CONFUNDIR.




Ele era um excelente comediante e comunicador das massas, que visava estimular seu público. Conseguia isso com maestria.

E um governo?

Ora, governos existem para organizar, para explicar. Jamais para confundir.

Posso citar diversos cientistas políticos e filósofos que embasarão seus ditos e escritos em documentos antigos, pesquisas de campo, etc. mas algo é óbvio até para o sujeito mais ignorante da terra: se há Estado, há menor liberdade individual, mas isso se justifica porque tudo fica melhor organizado. A coletividade organizada é melhor que qualquer bagunça, pois ninguém honesto dorme, come, vive, estuda, prospera no caos, na anarquia.

Uso essa analogia cômica apenas para nos trazer à reflexão. À razão.

Anda-se confundindo muito ESTADO com GOVERNO.

E todo populista gosta de fazer isso.

Quem não se lembra da frase do Luiz XIV, o Rei-Sol, que falava: O ESTADO SOU EU?

Felizmente aquele idiota parece que morreu na guilhotina. Vários outros se seguiram, caricaturais, mas também destrutivos, como Mussolini e Hitler.

O pessoal que entrou no governo depois da redemocratização nunca deixou de confundir Estado com Governo. Na época dos militares havia patrimonialismo sim, exacerbado (as empreiteiras floresceram com obras faraônicas e inúteis como Transamazônica e  Ferrovia do Aço, os bancos e indústrias mandavam no governo militar), mas é inegável que a cara-de-pau de muitos dos que assumiram governos em seguida foi não apenas um teste sociológico, mas um experimento de roubalheira em grande escala, com cooptação criminosa.

O primeiro presidente não-militar, José Sarney, era o colaboradorzinho-beneficiário da ditatura que regularizou a esculhambação e a roubalheira civil, lançando sua pedra fundamental na Nova República. Foi olimpicamente sucedido por Fernando Collor, que esqueceu o peso do Congresso na nova Constituição, e fora o hiato de Itamar (que parece ter sido o único a não ter aceito as chantagens e as regras do jogo sujo), os que se sucederam confirmaram seu compromisso com a corrupção como modo de governo.

Governo é temporário, entra e sai, representa interesses pontuais. Governantes são eleitos (idealmente) para gerar alternância de poder e a maior representatividade possível dos extratos sociais, no tempo e no espaço.

Já um Estado é perene, independe de pessoas, pois é baseado em instituições (impessoais).

FHC reformou o estado, para depois constatarmos que muitas das reorganizações produzidas e privatizações serviram TAMBÉM para enriquecer e empoderar seus chegados, seus colaboradores, que promoveram reformas necessárias, mas que "beliscaram" muito mais do que qualquer ser ético aceitaria. Houve corrupção. Houve institucionalização da compra de apoio no Congresso. Houve o desenvolvimento de uma tecnologia do toma-lá-dá-cá (não me venham com a desculpa que a Constituição de 1988 torna o país inadministrável, que só funciona assim... FHC foi o rei das emendas constitucionais!) que o PT apenas sofisticou, cara-de-pauzou, expandiu e por ela naufragou.

Lula virou um tipo Reizinho XIV (será o Luiz do seu nome?...), que manteve poder inclusive quando colocou seu fantoche Dilma lá... usurpou o poder em nome próprio, infectando instituições. Pos Temer no poder pela via indireta, comprando apoio e loteando o país.

Então onde está a separação?

Prá mim, esse é o grande teste brasileiro: será que esse povo (ainda que seja apenas parcela esclarecida, educada, que inclusive me lê) está percebendo que Estado é necessário e fundamental, mas que o tal Governo (de todos recentes) só se legitima se ele ORGANIZA, ORDENA e PACIFICA a sociedade?

Por isso essa minha BIRRA com o PT. E com o Fernando Pimentel e a turma que lhe suporta em Minas Gerais. Esse pessoal, de tão sectário, de tão mesquinho e egoísta, usurpa instituições como a participação trabalhadora, o sindicalismo, usada apenas para servir-lhes de instrumento financeiro, de manobra e manipulação, bem como tantos outros visando desestruturar e dividir a sociedade (que depois conquistam em meio ao caos). O sequestro dos depósitos judiciais promovido pelo petista mineiro é um excelente exemplo desestruturador.

A mesma justificativa se encontra agora na LAVA-JATO.

Ao se usar uma gravação ridícula, tenta-se inviabilizar o governo Temer (já escrevi antes) que possui, sim, legitimidade, pois a chapa Temer-Dilma foi eleita no voto popular. E sim, ela usou centenas de milhões de doações ilegais, DA MESMA FORMA QUE A CHAPA AÉCIO, que quase levou a eleição.

Ou seja, se Temer e sua tropa estão reorganizando e reordenando minimamente o país, estão trabalhando pelo Estado. Sofrem de legitimidade, mas Aécio, como se comprova, também tem culpa no cartório e recebeu a outra metade dos votos.

Assim sendo, a não ser que o brasileiro ache que pode ser freira no prostíbulo, falar que Temer deve sair, ou que uma eleição direta deve ocorrer, é uma besteira colossal.

O Brasil precisa de um mínimo de estabilidade. De harmonia, inclusive para deixar a crise decantar e ver água limpa, preparando-se para a sucessão de 2018 (as eleições estão a quase 1 ano de distância).

Se esse tanto de banda e fanfarra continuar tocando, ensurdecendo o povo, o caos gerará reações e reflexos errados, contaminando escolhas e permitindo, NOVAMENTE, a viabilização de candidaturas e eventual eleição de algum TRASTE. Isso sim perpetuará a desgraçada tarefa de jamais permitir que o Brasil se organize, prospere e as pessoas vivam com um mínimo de previsibilidade.

É como se diz: muita calma nessa hora... prá distinguir água turva de água limpa...

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