Brasilianistas e bobagens fundamentais

Tenho lido vários jornais brasileiros, especialmente o Estadão, trazer opiniões de diretores de institutos de pesquisa estrangeiros focados no Brasil.

São todos gringos que estudam, comparam o Brasil com outros países, alguns viveram um pouco ou ficam viajando ao Brasil. Eles se esforçam para traduzir o que é o país, de forma generalizada e maniqueísta (obviamente pela limitação de seu contato com o país, no tempo e grupos frequentados) a outros gringos.



Conheço vários brasilianistas e acho seu trabalho extremamente útil, só que usar esse pessoal para emitir opinião sobre o que está acontecendo e vai acontecer no Brasil, me parece o fim da picada editorial.

No país administrado a milhares de km da população - Brasília é um erro e a concentração de poderes lá é um absurdo gerencial - a distância entre demanda e gente com poder para agir já é desastrosa. Municípios e estados deveriam, num novo Pacto Federativo, assumir responsabilidade sobre suas populações (política e economicamente).

Imagine então estudiosos, teóricos puros, com conexões intelectuais e acadêmicas limitadas, ficarem, de Londres ou Washington, dando opinião a diários brasileiros sobre o que é o Brasil hoje e o que será amanhã... em pleno cenário de crise onde nem mesmo quem está no umbigo do problema sabe o que acontecerá nas próximas 2 horas?

Eu sou brasileiro nato que viveu mais de 40 anos no país antes de me mudar para o Canadá. Vou ao Brasil várias vezes por ano. Leio jornais e o Diário Oficial todo dia, pois trabalho virtualmente no Brasil, sendo integrante da nova economia dos que trabalham longe dos países onde atuam. Mesmo assim arrisco poucos palpites, ainda que tenha uma sólida formação acadêmica e excelentes contatos em todos os níveis e matizes brasileiros.

Por isso me causa espanto a mídia brasileira ficar pegando palpite (e eles darem) de brasilianistas que devem dedicar-se ao que são realmente bons: teorizar o país e apresentar sugestões de tropicalização de projetos de êxito no exterior, como da OCDE, OMS e outros organismos internacionais... Além disso, o papel melhor desses estudiosos, mais útil, é traduzir razoavelmente o Brasil para os gringos.

O melhor exemplo de inadequação brasilianista para mim é o Mangabeira Unger, que viveu pouquíssimo no Brasil e virou um sábio remoto... quando quis aplicar suas idéias mirabolantes - algumas interessantes, mas absolutamente teóricas ligadas à escola crítica do direito - no Brasil, deu com os burros n'água. Mangabeira não sabia nada de Brasil, seja de sociedade, seja de geografia, nem mesmo de forças e tradições políticas quando foi convidado por Lula prá ser o Ministro de Assuntos Aleatórios... Era prá trazer algum "prestígio intelectual" ao governo petista... Foi um desastre; curto desastre. Para entender a experiência de Mangabeira Unger, leia esse artigo que publicou na Folha em 2005.

Por isso sugiro: deixem os gringos brasilianistas de lado.

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