O momento "11 de setembro" francês

Esta semana a França, que acomoda talvez dez milhões de muçulmanos em seu território, vive a realidade da ameaça radical.

Fruto de suas explorações coloniais na África e Oriente Médio, a França abriu as portas à imigração de hordas de gente com cultura muito diferente daquela que o Iluminismo produziu, separando estado de religião. Muitos buscavam nova vida, outros buscavam assistência sem identidade cultural...

Até agora o "politicamente correto" vinha vencendo a ameaça radical islâmica, mas parece que a maré começa a mudar. Sob vários ângulos.

O ataque ao Charlie Hebdo, seguido de outro ataque promovido por nativos franceses de origem árabe, que deixaram vários mortos, bem como incidentes informados e não-informados na grande mídia, comprovam que há uma clivagem naquela sociedade.

Um temor subterrâneo está aflorando com força. A prova disso é a eleição de partidos nacionalistas e à direita do espectro politicamente correto europeu. A mídia os chama de radicais de direita, mas vários dos itens do discurso versam apenas sobre o resgate de valores nacionais que a globalização e (sim, admitamos) certa islamização colocam em risco.

A comunidade judaica daquele país já está sentindo que a água está esquentando há anos. Em 2005 o país explodiu em bairros majoritariamente muçulmanos, onde o desemprego e o radicalismo vêm aumentando na mesma proporção, em virtude da manutenção de uma cultura de gueto.


A crise financeira européia iniciada em 2008 só fez piorar o contingente de jovens à toa, sendo a mesma geração que agora pega em armas contra a civilização ocidental, seu inimigo interno (os terroristas dessa semana estão nos seus 30).

A emigração judaica francesa pós-guerra e pós-criação de Israel vive seu apogeu nos últimos anos. São dezenas de milhares mudando-se, em resposta a sucessivos ataques no interior e nas ruas de Paris. Os judeus franceses sofrem diretamente com sucessivos governos europeus fracos e populistas, especialmente franceses, que evitaram enfrentar a ameaça real e crescente do radicalismo religioso e da imigração incondicional, sem critérios claros que apenas se exacerbaram por meio de uma porosa União Européia (que inicia sua decadência econômica e social, algo que prenuncia a decadência de valores).



A imigração com desejo de mudança e adaptação, diga-se de passagem, é a regra geral. Os EUA foram construídos assim nos últimos 2 séculos, por quem deixou um passado amargo para criar uma sociedade melhor, sob ideais revolucionários franceses, iluministas, baseada em valores judaico-cristãos. A Europa não viveu bem esse fenômeno, especialmente decorrente da descolonização africana. Uma sociedade dividida passou a ser a regra, que agora conta com um elemento que não quer se misturar, como constata qualquer um que quiser explorar as entranhas do problema.

Assim, a islamofobia parece que veio para ficar. E desde 11 de setembro de 2001.

Ela manifesta-se por diversas formas, umas mais agressivas, mas ainda se contém por palavras ou atos públicos. O que mais conta é a progressiva conscientização daqueles que vivem sob os ideais iluministas e libertários de que há um movimento político-religioso que despreza o modo de vida ocidental, em especial o livre-arbítrio e a livre expressão.

Líderes variados desse movimento que se expressa radical - mas que muita gente entende possa ser apenas a ponta do Iceberg - sonham em erradicar, em solo ocidental, as liberdades que os povos que lhes abriram a porta ainda gozam. E isso é muito grave.

Algumas das comunidades visadas pelo medo "cooperam" com nacionais. O problema é que cooperar não significa abrir mão de dogmas que passamos a conhecer mais através da mídia, uma mídia que querem calar, pois incomoda ao não se curvar ao policiamento religioso. Os jornais em inglês do mundo estão com medo e não publicam nenhuma charge "ofensiva", mesmo que ligada à notícia da chacina Charlie Hebdo. A auto-censura já é uma clara manifestação de preconceito. Pior: é manifestação de MEDO, não de respeito.

Tudo o que não se expõe deseja ser mitificado. Passando a ser temido. Ao final, passa a ser combatido. É da natureza humana...

Outra questão grave tem a ver com o conceito de nacionalidade. Admite-se hoje que ela se expresse também no sentido de mentalidade, e não apenas de passaporte. Estamos vendo essa semana que a idéia de nacionalidade mudou, pois deve ter também vetor subjetivo, de identidade cultural, algo que notadamente falta no caso europeu quando se fala de islamistas que nasceram em um território cuja sociedade desejam eliminar...

Um dos fatos mais impressionantes é que essa religião mitificada não permite conversão ou saída. É raro falar-se de ex-muçulmanos, diferentemente de ex-cristãos ou ex-judeus, que são muitos no mundo e que não se escondem. Aliás, permitem ser conhecidos e falam de sua opção pessoal, não imposta por um grupo ou pelo medo.

Diz-se que o Alcorão pune com a morte quem sai da religião maometana. Diz-se também que seus fiéis devem eliminar fisicamente aqueles que dela não fazem parte...

Ainda que não cedamos a interpretar esse dado ao pé da letra, hoje em dia, diante da constante e crescente violência feita em seu nome (ou em nome de seus líderes malucos, que sonham com a utópica hegemonia e o fim das diferenças) mais vale a percepção que a razão ou fatos, estatísticas.

A percepção anda muito ruim prá esse pessoal... que deveria fazer uma reforma e declarar, por suas comunidades, que não proibirão ninguém, nenhum de seus "membros" de escolher o que quiserem fazer ou deixar de fazer em matéria de crença, culto ou civilização.

Na hora em que isso acontecer, certamente todos vão relaxar e aproveitar a vida sem medo do próximo.

Até lá, rumaremos para um mundo vigilante e com medo, especialmente islamofóbico. Nesse ponto, tem um país que pode dar aula sobre conviver com o inimigo. Quem seria?...




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