Brasil e cinzal

Um amigo meu, que tem parente importante no PT, se nega a ler alguns órgãos de imprensa.

Para ele, esses órgãos são contaminados, existem para difamar, ao invés de informar.

Ele lê e divulga, entretanto, notícias contra opositores do PT. Não importa muito a fonte, o caráter, a moralidade ou exatidão da informação. Se é contra opositores ao PT e ao seu projeto de poder (que alguns acham ser de país), então vale.

Eu continuo sendo seu amigo. Gosto muito dele por diversos atributos que escapam ao que vejo como um equívoco, desvio ideológico ou de percepção. Desconheço se haveria outras razões para que ele apóie o PT. Acho que não. Apenas somos sensíveis a coisas um pouco diferentes.

Na segunda-feira continuaremos sendo amigos. Temos muito em comum, vemos o mundo por prismas diferentes e essa diversidade de opinião, com civilidade, alimenta a amizade.

As brasas, que deram origem ao nome Brasil (madeira parecendo brasa), darão lugar às cinzas. Não será, como no carnaval, uma quarta-feira de cinzas, mas sim uma "segunda-feira de cinzas".



Independentemente de quem ganhar, meu candidato ou o dele, tenho certeza que nossa amizade, respeitosamente, virará a página da eleição e vamos continuar discutindo abertamente política, pois mesmo nesse tema, compartilhamos algumas idéias e valores.

É um contra-senso o que escrevo acima, para o observador distante. 

Só que essa é a realidade brasileira.

Do mesmo jeito que a convivência entre empregada doméstica e patrão são uma realidade brasileira superconfusa ao observador remoto, que não conhece a paradoxal coexistência no país.

Os contrastes convivem. Não explodem. Não há guerra civil. 

Há convivência, pouco dialogada na maioria das vezes, mas ela existe.

Só questiono se na segunda-feira estaremos caminhando para maior ou menor liberdade de podermos ter e externalizar nossas diferenças. Se o PT vencer (na minha opinião não por ter uma boa proposta, mas por ter uma eficiente máquina política, azeitada pelo assalto aos cofres e pelo aparelhamento estatal que lhe dá uma vantagem absurda nessa disputa, "como nunca antes visto na democracia brasileira"), as chances da liberdade de criticar, investigar e eventualmente de tirar um governo corrupto do poder diminuem, pois não os vejo como democratas. Aos meus olhos, possuem tons totalitários, no discurso, no método e nos objetivos (e sobretudo nas amizades e associações internacionais).

Talvez meu amigo torne-se mais amigo desse pessoal no poder, se Dilma ganhar.

Continuaremos amigos. E ele terá constantemente idéia da dimensão de minha desolação pelos rumos do Brasil.

Se Aécio, meu candidato atual em razão da falta de coisa melhor, ganhar, ele terá certeza que não haverá caça às bruxas, e que o Brasil retornará a um período de maior liberdade e menos perseguição, pois Aécio faz parte do esquema (como todos).

O ditado é bom, vale lembrar: em eleições os políticos se vão, mas as amizades ficam.

Não brigue com seu amigo por causa de político. 

No final eles se ajeitam e seu amigo talvez nunca mais lhe perdoe, não valendo a pena romper. 

Guarde sua mágoa para si. 

Caso contrário, a turma do ódio, da divisão e do totalitarismo terá vencido.

E eles não merecem nada, muito menos afetar nossas relações pessoais.


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