Promovendo o federalismo no Brasil
Segue abaixo texto publicado no JORNAL ESTADO DE MINAS na data de hoje:
Pelo ensino jurídico
federativo
Promovendo o desenvolvimento e oxigenação de seus membros para
melhor defenderem o público e o estado de direito, a Ordem dos Advogados do
Brasil, seção Minas Gerais, celebrou em outubro último um convênio com a Ordem
dos Advogados de Montreal, situada no Canadá. As duas entidades passaram a ter
um quadro institucional para trocarem tecnologia sobre o profissional do
direito em locais geograficamente longínquos, mas culturalmente próximos.
Neste momento grave, em que o Brasil esgota o modelo de poder
central e fala do novo federalismo, a
troca de experiências com advogados de Montreal é fundamental e animadora. O
Canadá tem um PIB pouco menor que o brasileiro, produzido por apenas 33 milhões
de habitantes. Seu poder não é central e a origem do sucesso econômico e social
reside no federalismo articulado e forte, marcando a independência política,
social e financeira de cada estado.
A tributação da renda é feita também pelos estados, com competência
compartilhada com a união, evitando repasses e permitindo incentivos. Além
disso, os estados têm competência exclusiva na regulamentação ambiental e
mineral em seus territórios. Políticas regionais são decididas
independentemente da vontade ou dos interesses de quem está longe de suas
fronteiras. Esse assunto é tratado de forma diametralmente oposta no Brasil,
onde Brasília decide o que ocorrerá em cada estado, em matéria mineral e
aqüífera, prejudicando profundamente os interesses locais. Com estados mais
populosos que o próprio Canadá, no Brasil as populações locais não vêm
respeitada sua auto-determinação, sendo conduzidas pelo poder central marcado
por ações erráticas, de visões e interesses distorcidos das necessidades
regionais. Estando distante da população, o governo não possui representação
legítima para decidir. Apenas um federalismo inteligente pode consertar esse
dano constante.
Um item interessante, fruto dos estudos conjuntos, trata da organização
judiciária, que é independente por estado canadense. Cada estado possui sua
própria jurisprudência, aliada à competência exclusiva em matéria de regulação
do direito privado. Apenas matéria constitucional é – raramente - submetida ao
exame da sua Suprema Corte. O resultado dessa independência jurisdicional é o
reconhecimento que cada parcela da população, em sua própria região, buscará
defender valores que lhes são mais caros. Negar tal poder de decisão, de dizer
o direito, frustra, causa divisões e enormes injustiças, razão pela qual a
organização social, política e econômica se faz observando princípios do
federalismo.
Perguntamos como seria um Brasil federativo. Não cremos que o
Congresso Nacional tenha interesse em devolver poderes à população de cada
estado, livrando-nos do jugo concentracionista, que nada mais é que resultado de
ditaduras e golpes de estado que vitimaram o país.
A instituição do estudo - no ensino jurídico mineiro - do
federalismo parece-nos um passo inicial válido. Não há como se promover certa
autonomia federativa sem conhecimento de causa. É necessário ensinar ao estudante
o que é federação, sua história e o que Canadá, Alemanha, Suíça e outros países
fonte de inspiração têm feito. Minas Gerais, com seus vinte milhões de
habitantes, precisa ver reduzida a interferência de Brasília para encontrar sua
prosperidade sustentável. Os advogados mineiros estão buscando, por meio da
cooperação internacional, trazer conceitos de melhoria à organização social e
esse engajamento produzirá bons frutos.