Construindo elites
Antigo ditado já dizia: "cercar-se de anões não te faz um gigante".
Na sequência desse ditado, diz-se ainda que "somos a média das 5 pessoas com quem mais convivemos".
É muito importante sabermos escolher com quem convivemos, pois ainda há o velho adágio "diga-me com quem andas, e te direi quem és". O mesmo deve ser aplicado a gestores, públicos e privados.
Se tenho um problema de saúde, buscarei tratar-me com um especialista, médico que tratou diversas pessoas com o mesmo problema. Essa conclusão parece óbvia: busca-se o melhor tratamento por quem conhece a moléstia na prática e certamente a estudou e a estuda, mantendo-se atualizado.
Acredito que buscar tratar-se com alguém que apenas estudou um assunto, com altíssimas notas acadêmicas, mas que jamais teve prática, jamais conviveu com pessoas que sofrem da moléstia que precisa ser tratada, não seria a preferência de pessoas razoavelmente conscientes de que mérito suplanta em muito a formação acadêmica, traduzindo-se em prática reconhecidamente competente.
Todos conhecemos aquelas pessoas que, a despeito de não possuírem formação acadêmica, são sensíveis a problemas e soluções práticas para questões que certamente resolvem com maior capacidade, agilidade e eficiência do que estudiosos que passam anos e anos debruçando-se sobre a matéria, vendo-a entretanto puramente do ponto de vista teórico.
Uma útil e proveitosa aliança entre teoria e prática parece, portanto, bastante óbvia... aos que desejam enxergar o óbvio.
Quando uma empresa decide empreender, criar algum produto novo, traz teóricos e práticos (muitas vezes pessoas completas, mas raras, com formação acadêmica sólida e muita prática na indústria) que deverão saber trabalhar juntos para o resultado ser útil, utilizável e viável em todos os sentidos, inclusive econômico, já que empresas que decidem fazer coisas que não geram lucro estão destinadas à falência, à extinção (e contribuintes responsáveis não são favoráveis que seu suado dinheiro dos impostos sirva a projetos fracassados).
Assim, o mesmo deveria acontecer na administração pública.
A formação de um governo, do municipal ao nacional, não deve ocorrer utilizando-se principalmente de acadêmicos puros que desconhecem a realidade do mundo. Não é possível haver uma pessoa na administração pública responsável por transporte urbano se ela jamais o utilizou, jamais estudou as questões vinculadas às alternativas existentes e futuras, jamais dialogou com todos os agentes envolvidos no transporte urbano, do empresário ao sindicato, todos com foco no usuário.
Em tempos de bom senso, governantes governavam e se aconselhavam, quando necessitavam, junto a especialistas, a acadêmicos e teóricos que poderiam demonstrar um ângulo não visto por aqueles agindo em campo, com imensas responsabilidades. Atualmente, isso foi invertido: teóricos ignorantes do mundo real foram alçados ao poder e, quando desejam, por puro capricho, consultam os práticos, sobretudo quando as coisas vão realmente mal...
Assim, um ministro do comércio ou do meio-ambiente necessita ter profundo conhecimento prático, no ramo, cercando-se dos mais capazes teóricos para ajudarem a moldar o futuro de sociedades prósperas e justas.
Colocarem-se ativistas - como virou lugar-comum nos tais governos "progressistas" como o atual nos EUA e no Canadá, acadêmicos puro-sangue (bastante inteligentes, é claro), com 20 ou mais anos de vida universitária - para gerirem áreas fundamentais de um país causa desarranjo, fruto da ignorância daqueles em postos a serem ocupados por quem deveria gerir de forma profissional, impessoal e inclusiva.
O desastre desses países é evidente, havendo vários outros a incluírem-se nessa lista de laboratórios fracassados de acadêmicos pretensiosos, sobretudo meu pobre Brasil, liderado pelo bandido* apoiado por líderes progressistas de nações ocidentais importantes, como indicado em recentes reportagens.
O QUE FAZ UMA ELITE
A universidade suíça de St-Gallen vem oferecendo ao mundo, desde 2021, um índice sobre as elites de cada país, cuja última versão você encontra clicando aqui.
Medir a qualidade das elites pela contribuição que proporcionam aos seus países para fazer-lhes avançar de forma consistente, eficiente e sustentável é um esforço válido, ainda que surjam críticas à sua metodologia empírica ou à escolha (sempre limitadora) dos critérios escolhidos, sobretudo por pessoas oriundas de países mal classificados (que detestam a mensagem e sobretudo o mensageiro).
A função da elite é despregar-se daqueles que dedicam todo o tempo labutando duramente, sendo composta sobretudo por gente com certo tempo para olhar além do dia-a-dia, refletindo sobre a realidade, o futuro e organizarem meios para que o desenvolvimento seja continuado, assim beneficiando não apenas aos membros da elite, mas sim a todos.
Boas elites são aquelas que conseguem organizar os mecanismos sociais e econômicos, por meio de poder e influência, gerando melhores resultados com menor desperdício, esforço ou sacrifícios de curto ou longo prazo (muitas vezes necessários, fundados na expectativa positiva).
Passada a onda do globalismo, do deslumbre com o sonho de mercados totalmente livres e permeáveis que deslocaram dinheiro, tecnologia e produção para vários cantos do mundo com relativo sucesso, mas com vários custos políticos, sociais e estratégicos agora medidos como trágicos, posto que não pensados em sua plenitude, as nações voltaram a enxergar para si, para dentro de suas fronteiras. Isso se dá sobretudo após a onda de protecionismo iniciada na crise de 2008 (2010 e 2011 foram os anos em que mais se introduziram medidas protecionistas nos países desenvolvidos) e a COVID.
Nesse ponto, as elites locais tornaram-se mais relevantes, exigindo seu aprimoramento para fazerem face aos desafios internos. Daí a importância de se medir a qualidade de elites, apontando sua eficiência ou deficiência, permitindo projeção certeira ao futuro: más elites indicam maus futuros.
Noções básicas das elites envolvem o fato de serem determinantes na agregação de alto-valor ao país, bem como o reverso: quando ruins, extraem baixo-valor, proporcionando o pior em cada país (da mesma forma que cercar-se de más-companhias, como citado no início desse post dominical).
Isso ocorre porque as elites proporcionam coordenação e articulação dos meios sociais e econômicos, ou seu bloqueio, sobretudo se as elites forem ruins e pensarem unicamente em seus próprios membros, parasitando a população (como ocorre atualmente em diversos países "progressistas", onde jamais ficou tão evidente o distanciamento entre discurso midiático e a prática).
As boas elites devem analisar e proporem reformas, atualizações nas estruturas, visando gerar maior inclusividade e progresso. Como nas elites incluem-se os políticos eleitos (quando há democracias funcionais, não democracias falseadas, com eleições manipuladas ou roubadas), elas são o lugar ideal para reflexão sem pressão imediatista, sem apelos populistas.
Quando bem intencionadas e contando com pessoas capazes de desprenderem-se de interesses sectários, as elites são fatores ampliadores da evolução tecnológica, social e geram inclusão substitutiva, pois são cientes de que seus membros deverão ser renovados mediante meritocrática mobilidade social e política (medida de desenvolvimento de uma sociedade, em oposição às elites permanentes, jamais renovadas ou constituídas por seus próprios marionetes).
A universidade de St-Gallen disponibiliza o instrumento de análise dos trabalhos das elites mundais. Suas funções podem ser acessadas escaneando-se o código QR abaixo:
A prosperidade e o avanço econômico e social (gerando bem-estar, trabalho adequado e justamente remunerado, previsibilidade, conforto e qualidade de vida) não se deve apenas à qualidade das elites, já que também há geografia, povo, clima, etc. Elas são, entretanto, determinantes. Basta enxergamos à nossa volta e ao organismo social ao qual pertencemos para confirmarmos várias das conclusões do estudo ao qual dedico esse post.
Grandes países, populosos e com governos musculosos tem a tendência de possuírem elites ruins, deficientes, preguiçosas, exceto se sua forma de governo for altamente descentralizada, com um federalismo poderoso, algo que tem feito com que Canadá e EUA não cedam integralmente ao populismo de seus péssimos governos centrais atuais.
Já o Brasil vem matando consistentemente seu federalismo, desde que o ditador Getúlio Vargas concentrou poder no Palácio do Catete (antiga capital nacional na Guanabara, nome anterior do estado do Rio de Janeiro), desmontando a obtusa política do Café-com-Leite em que São Paulo e Minas Gerais alternavam o poder central. Em seguida a Getúlio, o sonho socialista-cubano de Jango, combinado ao controle dos militares, piorou a independência dos estados, que a Constituição de 1988 selou e que, no atual governo do ladrão - corrupto e condenado - Lula*, a reforma tributária sepultará de vez.
No Brasil, o federalismo é uma ilusão, já que governadores e prefeitos devem ir ao governo concentrador, em Brasilia, pedir - de pires na mão - dinheiro para seus povos, alimentando uma elite nacional parasitária e improdutiva.
CLASSIFICAÇÃO
O estudo de 2023 situa a Dinamarca, Israel, Suíça, Suécia, Holanda e Noruega como campeões das elites mundiais nessa ordem. As matrizes de desenvolvimento proporcionados pela elite constam do relatório, sendo bastante impressionantes na demonstração da importância da elite para evolução de um país.
Os perdedores absolutos, com as piores elites (aqueles no topo da cadeia alimentar do poder em seus países) não surpreenderão ao leitor: Sudão, Angola, República Sul Africana, Haiti, República do Congo, Guiné Equatorial. O Brasil situa-se em 106. lugar, denotando a péssima qualidade do seu "andar de cima".
Noto que o Canadá, antigamente luz inspiradora para outros países, mudou sua elite recentemente. Desde 2015, ela vem legitimando um governo composto por ativistas e ideólogos ignorantes da realidade do país. Nenhum empresário de sucesso compõe o governo, razão do absoluto desastre da gestão e das políticas equivocadas reiteradamente impostas à população, sobretudo no campo diplomático, econômico e de meio-ambiente.
O Brasil, tendo optado por abolir a manifestação republicana de que a justiça é igual a todos, criando privilégios para que um bandido condenado por corrupção após o devido processo legal retornasse às ruas e ao poder, como já citado nos quatro cantos do mundo, é um dos maiores perdedores, tendo sua elite comparada à russa ou iraniana.
Não à toa, os atuais governantes brasileiros alinham-se de forma tão íntima com ditadores sanguinários, certos da impunidade de seus atos mediante aparelhamento de todas as instituições importantes, o que lhes deixa à margem da aplicação da lei, utilizada apenas contra seus opositores mais vocais.
Os cinco elementos determinantes para a classificação dos países resumem-se em Oportunidades Equitativas (tais como mobilidade social e endividamento governamental, com bons instrumentos para formação de capital produzindo novos investimentos), Capital educacional e humano (liberdade acadêmica com responsabilidade, proporção alunos-por-professores, classificação PISA e investimentos governamentais em educaçao), Saúde e Bem-Estar (expectativa de vida, mortes causadas por drogas, custo da saúde para famílias), Inovação e tecnologia (diversificação do mercado, empreendedorismo, disponiblidade de capital de risco, Pesquisa e Desenvolvimento dentro do PIB, acesso à internet e crescimento da produtividade) e Capital Ecológico e Natural (patentes verdes, índices de performance ambiental, reflorestamento, uso de fertilizantes biológicos, reciclagem).
MUDANÇA DE RUMO PARA MELHORES ELITES
A clivagem política é a tônica dos últimos 20 anos, sobretudo porque a esquerda-progressista tomou o poder em vários países avançando agendas de ativistas em contra-ponto à meritocracia e a políticas inclusivas.
O domínio divisivo do discurso na mídia e, em geral, na academia, que se apropriou da palavra democracia para impor censura e eliminação de opositores, classificados equivocadamente de extrema-direita, tem influenciado a formação e o comportamento das elites.
O cancelamento, ou banimento de vozes dissonantes transformou o debate em algo pobre, improdutivo, estéril e destrutivo.
Governos em que governantes são próximos de seus eleitores, por causa do voto distrital ou forte federalismo, possuem a capacidade de se regenerarem mais rapidamente do que em locais em que o distanciamento entre cidadão e poder acabaram por alienar cidadãos, desgostosos da incapacidade em fazerem-se ouvidos.
Para evitar-se a perpetuação das péssimas elites, tanto eleitas quanto não eleitas, inclusive aquelas em que pessoas submissas à agenda sectária ocupam postos públicos, resultado do aparelhamento perverso da máquina estatal - como se vê no Brasil, do Poder Judiciário aos institutos de pesquisa - é necessário resgatar o real significado da democracia e da impessoalidade do serviço público.
Assim como se busca o melhor especialista para tratar-se uma doença, e não aquele ungido por autocratas como sendo o preferido da corte real, as elites possuem um papel fundamental em determinar a diferença entre atraso e prosperidade, entre pobreza generalizada e riqueza confortável e inclusiva.
O primeiro movimento, inspirado por Gandhi seria, ao meu singelo ver, ignorar e desobedecer às visões e mandamentos dessas elites ilegítimas, espúrias e desconectadas, a despeito do cargo que ocupem, do poder econômico e político que possuam ou se arvorem possuir.
A resistência pacífica fez milagres para a Índia, para a revolução norte-americana com relação a direitos civis, sem o desnecessário e destrutivo recurso a violências que eles, elites espúrias, impingem nos cidadãos-contribuintes diuturnamente.
* NOTA - é de causar real espanto ver o número de membros da elite, em geral, mundial, aceitar o fato de que o bandido brasileiro tenha sido condenado e que, por um estratagema ilegítimo, seus processos tenham sido anulados por seus capangas instaurados no Supremo Tribunal Federal. Suplanta meu entendimento racional como qualquer pessoa minimamente decente conviva com o fato de que o ladrão voltou ao local do crime impunemente, como que numa grande concertação para pilharem o Brasil sob as bênçãos da atual elite americana, inglesa, francesa.