A democracia distorcida

Não canso de lembrar a famosa frase de Churchill em que dizia ser a "democracia uma péssima forma de governo, exceto as demais".

Quem viveu ou vive em regimes autocráticos, em ditaduras, onde o estado de direito não vale quase nada, sabe disso.

Democracias são absolutamente imperfeitas, os estratagemas que os adoradores e aduladores do poder perpetram para conquistá-lo, numa democracia, são sutis e muito piores, acho eu, do que em ditaduras ou golpes de estado, onde ao menos há menos máscaras (a brutalidade lhes prescinde). 

Falsos democratas, aqueles que distorcem fatos, criam narrativas em próprio benefício, compram apoio de sindicatos, jornais, grupos de pressão, grupelhos sectários mediante "promessa de paga" com recursos do contribuinte são mais perversos do que ditadores sanguinários, ainda que ambos sejam péssimos, execráveis e desagregadores. 

Constata-se que os acordos feitos às escondidas, os conchavos para lesar cidadãos ou inimigos políticos, feitos nas sombras, são o modus operandi de políticos desde Roma Antiga. Atualmente estes conseguem a parceria da mídia, criando um círculo virtuoso apenas para quem dele participa.

Pois bem: recente pesquisaDonald Trump como favorito nas eleições americanas que se aproximam a largos passos, em 2024. A gerontocracia (governo por idosos) parece que continua vigorando na superpotência ocidental.


Trump, o narcisista confrontativo sobre o qual todos nós temos algum julgamento de valor (jamais um julgamento moderado, diga-se de passagem) consegue postar-se à frente nas pesquisas recentes, nas capas de jornais e sites, sendo altamente relevante e incontornável no debate político. E parece que essa onda crescente seria apenas o começo.

Se ele realmente é um bandido, um criminoso como denunciado pelas autoridades americanas, perseguido incessantemente pelo establishment democrata, qual é a razão de haver tanto apoio à sua candidatura? 

Seria Biden, um idoso claramente com faculdades mentais em declínio, a única razão da crescente popularidade do maior populista de direita que o ocidente pariu?



Nas democracias, estaríamos condenados a escolher sempre o menos pior e não alguém que realmente preferimos por termos mais identidade com ela ou ele?

Depois de miseráveis e traumatizantes experiências políticas, posso afirmar categoricamente: a política é, invariavelmente, um ambiente tóxico, podre, poluído e cínico.

O vencedor (ou o sobrevivente) na política é, antes de mais nada, um adorador do poder, que por ele tudo aceita e faz.

Algumas causas positivas podem ser impulsionadas por políticos, mas a sociedade sempre tende a prevalecer sobre a classe política, que lhe atrapalha quase sempre. O menosprezo pela política e pelos políticos alcança um dos maiores níveis da história recente.

Há alternativas à gerontocracia americana, nos campos democrata e republicano, mas parece que o establishment, forças ocultas e não-tão-ocultas continuam preferindo o antagonismo entre os dois velhinhos... ou diria eu, velhacos (trocadilho que apenas brasileiros compreenderão - desculpe, Google translate)?

A pauta eleitoral norte-americana será sobretudo nacional, como sempre, mas abordará o espinhoso tema da guerra da Ucrânia.

Nacionalmente, os EUA encontram-se na coexistência de dois mundos absolutamente paralelos e incompatíveis.

De um lado, o estado americano mastodôndico e incompetente é representado por Washington e o deep state (bandeira fundamental de Trump, que desejava, nas eleições anteriores, "drenar o pântano que povoa a capital norte-americana"). 

A dívida pública só faz explodir em todas as administrações, desde Clinton, com piora fenomenal com a guerra no Iraque, seguida de Obama.


Por outro lado, o privado, os empregos estão em alta, a inflação também (onerando absurdamente a dívida pública, gerando descrença na gestão do tesouro), com vários investimentos a passos largos. A economia americana, a despeito de tudo, está caminhando em campo positivo, mas a percepção é de piora por causa do populismo da esquerda, dos democratas, com suas políticas assistencialistas e pautas woke.

Essa democracia distorcida, incompreendida por seres comuns, criou um fenômeno interessante: pouca gente realmente se importa com quem ganhará as eleições, pois a maioria está descrente que os políticos e seus apadrinhados farão algo relevante para reduzir o peso e custo do estado.

Estamos em um momento da vida pública no ocidente em que os estados viraram monstros que engolem recursos sem limite, endividam-se criminosamente, lesando a geração atual e a futura, tudo por mais poder aos que conseguem sentar-se em cadeiras importantes.

E assim vender-se-ão muitos jornais, entrevistas, escrever-se-ão artigos e veremos passeatas de ódio na rua, pois o populismo ainda parece estar vencendo qualquer razoabilidade ou moderação.

As agendas radicais continuarão prosperando, os pobres continuarão pobres e esquecidos, mas veremos ainda uma ou outra pauta identitária garantindo privilégios a celebridades e não-celebridades, pessoas que dirão representar grupos marginalizados, mas que na verdade adulam-se, enriquecem-se e ao seu entourage (como hoje se sabe a respeito do movimento BLM e tantos outros similares).

E concluiremos estarem certos os franceses, que cinicamente dizem há séculos:

Quanto mais muda, mais fica do mesmo jeito.


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