De pérolas e de porcos
Costumo não ser um sujeito religioso, mas é inegável que a cultura ocidental é permeada por valores bíblicos. Eles acabaram por criar sociedades minimamente organizadas, construídas sobre pilares morais em que os costumes são sempre questionados (daí certa evolução social).
Desde pequeno ouvia a expressão "não se dá pérolas a porcos" e, ao perguntar, descobri que se tratava de uma passagem bíblica: Mateus 7:6.
"Não deem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos; caso contrário, estes as pisarão e, aqueles, voltando-se contra vocês, os despedaçarão.
Isso se aplica a muitas coisas e momentos em nossas vidas:
- conversar com pessoas doutrinadas, transformadas em dogmáticas, incapazes de realmente ouvirem e entenderem, com honestidade, a pluralidade de opiniões;
- elaborar minuciosamente e oferecer aulas a alunos despreparados, incapazes de compreenderem minimamente o que se busca lecionar;
- mostrar uma boa obra de arte a insensíveis, incapazes de serem afetados pela estética, pela beleza, pela universalidade artística;
- colocar diante de platéias qualificadas palestrantes e autoridades ignorantes, incapazes de articularem idéias em razão de sua falta de curiosidade, estudo e rigor (e, com uma frequência acima do normal, desonestas);
- conversar com quem "come mortadela e arrota caviar" (expressão aliás que sempre detestei);
- esperar de um sujeito que se orgulha da própria ignorância, e de seu sucesso político oriundo exclusivamente do instinto e da velhacaria, entender e praticar qualquer conceito de moralidade e coexistência pacífica entre diferentes (aí incluídos países e o respeito à sua integridade territorial).
Mas por quê escolhi esse tema, nessa sexta-feira? No Brasil é véspera de mais um fim de semana prolongado, em virtude do feriado de segunda-feira, o 1. de Maio - dia do trabalhador...
Enquanto você estará relaxando, deixando as idéias voarem livres no longo fim de semana, reflita um pouco sobre a famosa frase bíblica, que dá muito ao que pensar.
Isso se aplica a tudo, a relações interpessoais e a qualquer engajamento. Seja familiar, de amizade, em negócios e na política.
Imagine só: querer instituições republicanas funcionais, idealizadas por grandes filósofos, pensadores e políticos, apropriadas por ladrões e gente desonesta de toda sorte... é dar pérola aos porcos, né?
E aí perguntamos: devemos nos engajar em todo tipo de relação? Vale a pena? Ou estou perdendo tempo?
Há algo possível de mudar? Como? De que forma? Em que formato e quando?
A reflexão pode ser muito rica, pois desperdiçar tempo é o pior desperdício: o tempo é a única coisa que não se pode produzir artificialmente.