Um país violento, perigoso

Era inevitável: ou o Brasil combateria o crime, inclusive e em especial aquele organizado, ou sucumbiria.

Ao ler "Por quê as nações fracassam", escrito por Daron Acemoglu and James A. Robinson dez anos atrás, várias estórias ajudaram-me a compreender a dificuldade de países em garantirem o funcionamento saudável de instituições que seriam essenciais para prosperidade e progresso coletivos.

Manifestações recentes em altos escalões indicam que a elite brasileira escolheu o caminho mais fácil para si mesma: censura e silenciamento de dissidentes. Questionamentos são proibidos, justificando concentração de importantes poderes nas mãos de poucos magistrados transformados em efetivos administradores do país a despeito de não terem tido nenhum voto para mandarem no destino de um povo. 

O autoritarismo é realmente um modelo atraente. 

Ele facilita o diálogo entre poderosos, ignora oponentes e leis, cria narrativas que, pelo medo ou compra com recursos públicos de adeptos, disseminam-se pela imprensa comprometida unicamente com a auto-preservação.

Sociedades decadentes deparam-se sempre com o dilema da rota predeterminada

Bem analisada por cientistas sociais, conhecida por Path Dependency, a teoria amplamente aceita ensina que, por vários fatores, pessoas e a sociedade tendem a seguir caminhos baseados no passado. É-lhes difícil tomarem outra rota para atingirem resultados diferentes.


A cristalização de uma sociedade, com repetição de hábitos e erros do passado é fenômeno comum, que não acomete unicamente o Brasil. A teoria indica que são necessários fatores de ruptura para que se tome novo caminho, o que pode ser traumático.

Seguindo tal lógica, a rota autoritária atual, enveredada por diversas autoridades e simpatizantes brasileiros, nada mais é que mera repetição histórica.

A despeito de personalidades corajosas denunciarem absurdos cometidos no alto meio judicial brasileiro, as ameaças de punição são poderosas. Elas iniciam-se por exclusão de redes sociais, desmonetização de mídias aos que vivem da publicação de opiniões políticas nos canais existentes, agravando-se pelo bloqueio de contas bancárias e sanções brutais adicionais, sem direito de defesa, contraditório e muito menos recursos a outras instâncias revisoras de decisões.

Barreiras à participação democrática a descontentes são edificadas com único objetivo de fazer prevalecer a narrativa dos poderosos.

Sem rebalanceamento de poderes ou inibição de práticas autoritárias, um país está fadado à extinção como organização social. Ou a continuar com suas iniquidades, suas distorções e o loteamento de poder que não representa seu povo, mas apenas uma elite que bem manobra as instituições que concebe e administra.

O Brasil é, portanto, um país cada vez mais velho, menos arejado, que repete práticas perniciosas, não permitindo mudanças efetivas que lhe façam prosperar coletivamente. Sofre de doença quase coletiva, criando o pacto do atraso.

Assim como na Rússia, onde oligarcas e autocratas unidos esmagam o dissenso e opositores, que para evitarem a morte cívica, midiática e mesmo física, se exilam, escondem, desistem diante das preocupações imediatas e de subsistência impostas por suas famílias, o patropi parece tomar o mesmo rumo.

Combater violências, sobretudo quando cometidas contra a coletividade, exige desprendimento, esforço hercúleo, sobretudo enfrentando algozes poderosos, detentores de meios quase infinitos, inebriados a continuarem perpetrando crimes e iniquidades.

E assim, o contribuinte brasileiro de hoje paga para ter seu país paulatinamente destruído, alimentando seu torturador, em ciclo desagregador.



A vaca corre do trem veloz, mas em linha reta sobre os trilhos, sendo finalmente alcançada. Da mesma forma, o cidadão brasileiro, vítima de violência que lhe humilha e subjuga, é incapaz de escapar da rota degradante que lhe engole aos poucos.

RIP, Brasil.

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