Democracia infantilizada, de propósito
Minha geração, que aos 20 anos correu as ruas gritando "Diretas Já", frustrou-se ao ver Tancredo Neves ser sepultado e um político fisiológico da ARENA (convertido em MDB) assumir a primeira Presidência civil em 21 anos. Assim, a tal "democracia" brasileira passava a engatinhar.
O Caçador dos Marajás (Collor) foi eleito na primeira eleição livre para presidente em 30 anos, sendo em 2 anos abatido pela corrupção e pelo Impeachment, indicando como o bebê democrático ainda engatinhava e, pior ainda, se cagava todo.
O governo de FHC trouxe estabilidade, econômica e política, mas custou muito caro, já que criaram o mensalão mineiro, a compra de parlamentares para passarem a emenda do 2. mandato, etc.
Lula sucedeu FHC e a estória nós sabemos, bastando assistir ao MECANISMO no Netflix ou ler A ORGANIZAÇÃO, da Malu Gaspar. O PT roubou e deixou roubar em escala épica durante seu tempo no poder. Foi uma democracia falseada, prá bobo ver, com votos comprados por meio da pilhagem de estatais e programas sociais enganadores. Constata-se não ter havido nenhum avanço civilizatório ou redução de pobreza, como posts anteriores provam por meio de gráficos do IBGE.
Os últimos 4 anos foram um tiroteio de dificuldades causadas pela pandemia e a guerra, mas o pior de tudo foi a deslegitimização da administração de Bolsonaro desde que esse presidente improvável foi sagrado nas urnas em outubro de 2018.
A imprensa, parte da academia, da oligarquia e da classe política simplesmente não aceitaram que o povo havia escolhido Bolsonaro como vigorosa reação contra a roubalheira revelada, sobretudo pela Operação Lava-Jato. Novamente, demonstrou-se o engatinhamento da democracia tupiniquim, que apenas consagraria a legitimidade de ungidos pelo establishment, pela oligarquia e pela nobreza representada pelos altos funcionários públicos, estes com garantias de intocabilidade, como se vê diuturnamente.
As eleições de 2022 estão sendo uma ópera bufa, uma bazófia, um escárnio e um deboche. O espetáculo tem protagonistas importantes.
Os ministros do STF e do TSE rasgaram, sem cerimônia alguma, a Constituição Federal, em especial no quesito liberdades e censura.
Haviam inaugurado seu ativismo partidário ainda em 2016, quando do desmembramento de artigo uno constitucional mantendo o direito político da algoz dos brasileiros, impedida no Congresso Nacional de exercer o cargo presidencial. Seu amiguinho a liberou para concorrer, numa trama que se repete independentemente da desesperada necessidade de higidez das instituições.
Prisões e censura insensatos, desproporcionais e abusivos.
Impedimento do funcionamento das instituições.
Completo desprezo pela separação dos poderes.
E mais recentemente, essa mesma "Justiça" oferece desproporcional vantagem a Lula, na reta final da campanha eleitoral, permitindo-lhe disseminar mentiras sobre o atual presidente (chamando-o livremente de genocida, pedófilo, que fará a redução do salário mínimo, promoverá cancelamento do Auxílio Brasil, etc.), enquanto campanha e partidários do candidato Bolsonaro são calados, enjaulados, cancelados, censurados e expostos vexatoriamente em praça pública, sob aplausos de uma imprensa que aguarda o gordo cheque do poderoso chefão.
O escândalo do não envio de arquivos às rádios, sobretudo do Nordeste, escancara a ilegitimidade dos guardiões do processo eleitoral. A desmoralização é completa, total, indubitável.
Tudo isso serve para comprovar: inexiste interesse por parte dos donos do poder no Brasil que sua democracia tenha alguma chance de amadurecimento. Não lhes interessa a evolução.
O bebê democrático não conseguiu sequer atingir a adolescência, pois é tutelado pelos abusos de membros do judiciário, visando manter-se incapaz.
Ao impedir que a democracia amadureça, floresça na liberdade de imprensa e opinião, resta clara a agenda dos tiranos.
Consiste esta em manter a democracia fragilizada, refém da tutela dos poderosos, dos auto-denominados iluminados, que avocam para si poder total e absoluto, seres distantes da realidade e das necessidades reais do país. E tem mais: sem representatividade, posto que jamais receberam um voto sequer para decidirem os destinos da nação e governarem, como o têm feito.
Lembra-me das estórias de esposas incômodas, cujos maridos - em tempos passados - as internavam em instituições para deficientes mentais, hospícios, para por fim tornarem-se loucas e deixarem de ser obstáculos aos impulsos daqueles tiranos. Aquela época se foi, mas a maldade é representada por novas formas e tecnologias de controle, subjugando os mais frágeis e desorganizados.
É uma pena ver como o povo brasileiro mantém-se refém não apenas de figuras ignóbeis, mas de uma mentalidade e uma dinâmica impeditivas de sua evolução como sociedade.