Europa na encruzilhada ética e econômica

 O projeto institucional europeu surgiu da necessidade de países do continente criarem interdependência visando o diálogo constante e a paz.

A Europa de 2022 está sendo confrontada com dilemas éticos e econômicos.

O dilema ético advém da crise energética e da invasão bárbara russa sobre a Ucrânia. 

Tendo desligado muitas de suas centrais nucleares e outras fontes ditas poluidoras, países (sobretudo Alemanha) cederam decisões estratégicas a partidos políticos e a grupos ambientais extremistas (além de profunda corrupção, como provado pela ligação de ex-chanceler alemão ao genocida russo). Ao não planejarem responsavelmente a transição energética local e sustentável, a Europa vê-se refém da Rússia, esse país conduzido por um genocida como Putin e sua oligarquia criminosa.

Os europeus sabem distinguir entre certo e errado, mas não poderão fazer a coisa certa, nesse caso. É absoluta sua dependência da fonte de energia russa. Não há alternativas viáveis e suficientes. Já se fala em economia de guerra, o que obrigará a uma desaceleração econômica e a privações que atingirão mais fortemente os países periféricos, como sempre.

O mundo ocidental, ciente do que significa a invasão russa da Ucrânia, continuará a fornecer armas ao povo invadido, mas precisará manter canais comerciais abertos com Moscou, para a própria sobrevivência.

Uma matriz energética não é transformada do dia à noite.

Vítima do ativismo ecológico - por definição de natureza irresponsável, pois ativistas são eficientes em culpabilizar inocentes, mas totalmente incapazes de conceberem soluções razoáveis, duradouras e de caráter geral, exluindo aqueles que não são seu próprio espelho - a Europa tomou, décadas atrás, decisões energéticas equivocadas. Ao jogar sob seu próprio tapete os problemas energéticos (na verdade, delegando-o a outra região, no caso a Rússia e ao Oriente Médio), a Europa cometeu suicídio e a mudança de curso é penosa, inclusive politicamente. 

O espaço dado a ambientalistas radicais precisará ser retomado, para que o bom senso e o pragmatismo prevaleçam. A dúvida - advindo de aprendizado próprio e horrível ao ousar questionar o eco-ativismo radical e seus profetas numa campanha distrital - é se haverá políticos, nessa geração, capazes de assumirem a idiotice irresponsável dos anos passados, já que acostumaram-se a agradar a grupos que gritam alto e tomam as mídias de assalto sem que lhes seja jamais imputada qualquer responsabilidade...



Outro dilema é o econômico-monetário.

A CEE - comunidade econômica européia, surgida em 1957, serviu não apenas a objetivos de mercado e estratégicos (como gestão e fornecimento de carvão e aço), mas como espaço interativo entre os povos, fruto do sentimento de pertencimento.

É evidente que a Guerra Fria foi um fator importante em tal união, pois quando há um inimigo comum, a associação de países mesmo se profundamente diferentes acaba por ocorrer. Sem o antagonismo capitalismo-comunismo, o projeto europeu rumou por outros caminhos, burocratizando-se e perdendo o sentido estratégico.

Tendo tido o privilégio de estar vivendo e estudando finanças em Londres em 1996 e 1997, época intensa de discussão da entrada do Reino Unido na união monetária européia e às vésperas de uma crise financeira importante, fui a colóquios onde os luminares da época opinavam sobre o risco da política monetária única. Muitas publicações ocorriam tanto em jornais especializados, como o Financial Times, quanto em revistas acadêmicas. Foi uma época de profunda e rica reflexão.

Após avaliar vários fatores e argumentos, entendi que o Reino Unido estava certíssimo em não aderir à moeda única, não abrindo mão de um dos elementos fundamentais da soberania nacional: a própria moeda. Em consequência, a política monetária, traduzida na capacidade em gerir a taxa de juros e a expansão da base de moeda no território, não foi cedida ao Banco Central Europeu (BCE).

Lembremo-nos que o Reino Unido é o berço da ciência econômica, pois lá foi inventada...

Diante de uma inflação alta e persistente, o BCE decidiu muito tardiamente pelo aumento de sua taxa básica de juros. Foi meio ponto percentual, após 11 anos sem mexê-la. O aumento tímido, absolutamente insuficiente para fazer face a uma inflação, é centralizado e aplicado uniformemente por uma zona econômica totalmente heterogênea.

Aos que me acompanham ao longo dos anos já sabem de minha contrariedade diante do Euro, que compreendo ser um equívoco quando aplicado a quase todos os membros da União Européia. Os países periféricos, como Grécia, Portugal e Espanha, não deveriam ter abandonado sua gestão monetária em favor de Frankfurt.

A razão de um aumento de taxa de juros tão tímido advém do atual endividamento elevado na Eurolândia, havendo um potencial altamente desagregador se os juros subirem muito. Alemanha e França, por exemplo, aumentaram muito o endividamento de famílias e empresas nos últimos anos, em virtude do marasmo econômico, fazendo com que a subida de juros seja ruim politicamente para os atuais partidos políticos predominantes. Você pode conferir os números clicando AQUI.

Ao final das contas, a Europa precisaria retroceder na união monetária. O problema é que os Euroburocratas e os políticos não desejam abrir mão de tal poder. E qualquer menção a esse respeito será denunciada midiaticamente como uma heresia punível de cancelamento e outras penas atualmente comuns, como em Autos-da-Fé da época inquisitória.

O dilema é grande. Enquanto isso, ditadores e genocidas seguem impunes e poderosos...



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