A tragédia amazônica e a caça às bruxas

O crime bárbaro que vitimou um indigenista e um jornalista de envergadura fez manchete nos últimos dias. Cientes que poderiam enfrentar resistência da população local, ou algo pior, destemidos investigadores aventuraram-se pela selva munidos apenas de boas intenções. Infelizmente, malfeitores cruzaram seus caminhos e lhes ceifaram as vidas, de forma ignóbil, vil.

A despeito do horror do crime, rapidamente - como tudo atualmente no Brasil, nos EUA e outras paragens - a politização ocorreu, pela via da imprensa opiniosa. E sobre isso, nada melhor do que ler essa abordagem corajosa e lúcida, por Luciano Trigo.

A cada momento, todo cuidado é pouco para se ler agências de notícias e boletins noticiosos.

A fronteira amazônica é porosa, impossível de ser fiscalizada. Todos os países amazônicos são obrigados a preservar a floresta, impedindo a ocupação humana, sua "civilização", o que aproveita ao narcotráfico. Relatos de militares que já serviram na região indicam que nenhum país amazônico possui efetivos ou meios e equipamentos para mapear a imensa área.

Isso faz com que o narcotráfico a domine sem dificuldades.

Exemplo da ousadia pode ser visto nesse vídeo onde um jato do narcotráfico escapa à vigilância de helicóptero em selva de país latino-americano:


A politização do crime ocorre sempre, já que promessas de honestidade são as que mais servem a atrair votos. Posar de salvador é passa-tempo preferido de político.

É notável constatar que as diversas denúncias sobre o narcotráfico o ligam às esquerdas (revolucionárias) latino-americanas, razão de eu ter indicado ao leitor o artigo do Luciano, logo acima (basta clicar no hiperlink ou ler a transcrição logo ao fim do meu post).

Diversas matérias jornalísticas, que talvez possam ser consideradas minimamente fundadas, contam que o PT pode estar deitado na mesma cama do narcotráfico, bastando acessar isso e isso. Não seria entretanto exclusividade do PT, como indicado nesse trabalho investigativo. Política e narcotráfico andam próximos na América Latina...

Fato é que as vítimas do crime bárbaro viraram presa da economia paralela que domina a América Latina: a das drogas. 

Com populações pobres, desesperadas e uma indústria lucrativa, violenta e até mesmo glamourosa para alguns (vejam-se os filmes retratando traficantes como aventureiros), a região amazônica é e continuará sendo perigosíssima.

É profundamente lamentável que as mortes recentes sejam utilizadas para fins políticos, como se alguém realmente tivesse idéia de como encerrar o ciclo criminoso em uma região impossível de ser adequadamente vigiada, policiada.

ARTIGO PUBLICADO NA GAZETA DO POVO

Narcotráfico matou Dom e Bruno. E agora?

Por Luciano Trigo 16/06/2022 09:08

Um dos sinais mais tristes da degradação moral e da sordidez espiritual do nosso tempo é a exploração política da morte pelas carpideiras ideológicas. Como urubus em cima da carniça, nos últimos 10 dias a lacrosfera se mobilizou em peso nas redes sociais e na grande mídia para tentar jogar no colo do governo a responsabilidade pelo desaparecimento do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips no Vale do Javari, na Amazônia.

Parecia revolta? Era apenas vigarice. A indignação, como sempre, foi seletiva: a tragédia só interessava como pretexto para exibir virtude, ficar bem na fita e sabotar o adversário de sempre.

Protestavam e derramavam lágrimas de crocodilo, mas no íntimo estavam comemorando. Porque, sempre que uma tragédia pode ser usada contra o governo e capitalizada politicamente, eles festejam, com mal disfarçado entusiasmo. Só querem palco, tribuna e palanque para ostentar superioridade moral e exercer seu ativismo.

Que tristeza.

Pois bem, para frustração dessa turma, ontem foi revelado que Dom e Bruno foram assassinados não por garimpeiros, nem por madeireiros, nem por desmatadores, nem pela policia fascista e genocida (isso, então, seria motivo de orgasmos), mas a mando de um narcotraficante: o peruano Rubens Villar Coelho, também conhecido como “Colômbia”.

Aparentemente, a presença do jornalista e do indigenista estava prejudicando o transporte de cocaína na rota entre o Brasil e o Peru. Motivo suficiente para os dois serem amarrados em uma árvore, torturados, assassinados e eviscerados. É a lei do tráfico, e não é apenas em regiões remotas da Amazônia que essa lei impera.

E agora? O que farão e dirão os justiceiros sociais? Por honestidade moral e intelectual, deveriam demonstrar indignação contra o narcotráfico que domina a região sem qualquer preocupação com a vida humana, muito menos com o meio ambiente. Mas, como escrevi neste artigo, contra traficante, no Brasil, ninguém faz protesto.

Fosse sincera a indignação contra a tortura e o assassinato de Dom e Bruno, todos aqueles que fazem do gesto de apontar o dedo uma razão de viver demonstrariam agora revolta contra o narcotráfico, exigindo justiça e combate implacável aos criminosos. Ou não?

Quando a indignação é seletiva, não é de indignação que se trata, apenas de estratégia e método

O ator famoso, a funkeira empoderada, o imitador de foca, o fotógrafo premiado, o índio de passeata, o antropólogo esquerdopata, o jornalista checador de meme, os exilados em Paris, o youtuber de pronome neutro e todos aqueles que fizeram dos desparecidos pretexto para a militância do ódio do bem: será que algum deles dirá uma palavra sequer contra o tráfico? Podem esperar sentados: nunca disseram, não será agora que dirão.

Estranhamente, nessas horas, os indignados se recolhem a um silêncio quase reverente. Talvez porque, politicamente, estejam do mesmo lado do mandante dos assassinatos. Ou são partidos e governos de direita que a indústria da droga financia na América Latina? Ou são de direita os chamados “narcogovernos” da Bolívia, da Colômbia, da Venezuela e do México? Que partidos e governos são apoiados pelas Farc? São de direita?

Para ilustrar a relatividade moral dessa gente, basta lembrar o caso das três crianças de Belford Roxo barbaramente torturadas e assassinadas por traficantes, em dezembro de 2021, tema deste artigo.

Pobres e negros, três meninos foram executados por causa de uma gaiola de passarinho. Onde estavam os virtuosos que nos últimos dias demonstraram tanta indignação com o desaparecimento de Dom e Bruno? Não derramaram uma lágrima, não disseram um “ai”.

Desconfie de quem só protesta contra mortes que podem ser capitalizadas politicamente. Quando a indignação é seletiva, não é de indignação que se trata, apenas de estratégia e método.

Tivessem sido as crianças de Belford Roxo assassinadas por policiais, aí sim elas seriam dignas da revolta da militância progressista. Mas os assassinos eram traficantes, então os virtuosos ficaram em silêncio, fazendo de conta que não era com eles. Negras ou brancas, vidas não importam quando quem as tira é o dono da boca que se frequenta, ainda que simbolicamente.

De maneira similar, tivessem sido outros os assassinos, Dom Phillips e Bruno Pereira renderiam protestos até a eleição. Faixas e cartazes com a pergunta “Quem matou Dom e Bruno?” seriam exaustivamente exibidos em horário nobre. Não faltaria gente insinuando que o crime foi encomendado pelo próprio presidente.

Mas, como agora se sabe que quem mandou matar Dom e Bruno foi um traficante, subitamente o mandante do crime deixou de ter importância. A mídia deixará de lado esse “detalhe” para tentar espremer os últimos dividendos do caso, depois vai abandonar o assunto. (Você viu manchetes destacando a identidade e a ocupação do mandante? Nem eu.)

Como foi um traficante que mandou torturar, eviscerar e matar Dom Phillips e Bruno Pereira, não haverá mais como capitalizar politicamente a tragédia. De novo, não foi dessa vez. As carpideiras ideológicas vão ter que torcer por outros cadáveres para explorar.

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