Brasil: um país com tempo a perder

Confesso não estar acompanhando de perto, ou intensamente, a CPI da COVID instalada no Senado Federal do Brasil.

O pouco que vi foi suficiente para fazer-me concluir tratar-se de um espetáculo grotesco, uma cópia mal-feita do macarthismo. À frente da iniciativa, eis um senador bem conhecido por suas nada nobres práticas e métodos. Essa ópera-bufa visa desacreditar um governo cuja legitimidade é disputada (a despeito das urnas) antes mesmo da posse, por uma parcela nada democrática da população brasileira, movida pelas aparências e por mitos andradinos.


Os tropeços (alguns grandes) e figuras de linguagem do Pres. Bolsonaro certamente pioraram o ataque à pandemia no Brasil. Poder-se-ia tratar de inépcia administrativa, a tradicional incompetência que marca o DNA da governança nacional desde que os portugueses aqui aportaram. Expressões como "genocídio" e outros exageros indicam, entretanto, o quão os promotores da tal CPI apelam à agressividade para receberem e dar-lhe publicidade, já que desprovida de fundamentos ou mínima decência.

É notável que jamais houve CPI séria das ONGs brasileiras, clamada há décadas para averiguarem-se as malversações de recursos públicos que levariam a grandes figuras nacionais... indicando como o juízo é de conveniência e não orientado pelo interesse público.

A complexidade da política federativa herdada da Constituição de 1988, a obrigatória delegação judicial dos problemas aos entes políticos em nível municipal, estadual e federal, a heterogeneidade sócio-econômica do Brasil e o caráter evolutivo-científico do combate à doença, por todo o mundo, seriam mais que suficientes para qualquer observador distraído concluir ser a tal CPI um palanque vagabundo para teses forçadas. 

Além de tudo, sua prematuridade é evidente. Não se sabe se a pandemia está em seu início, meio ou fim.

O objetivo único da tal CPI é ferir, ainda que não mortalmente, o Presidente Bolsonaro, visando ser ele rejeitado pela opinião pública nacional, deixado à míngua eleitoral em 2022. 

Ao pintar o presidente em exercício como assassino premeditado das vítimas da COVID, dentro das fronteiras nacionais, para em seguida divulgar essa tese mundo afora que deverá somar-se à pecha de ditador de extrema-direita e outras ilações risíveis, quando confrontadas com a realidade, constata-se: o Brasil é um país em que o tempo não vale nada.

Vejam-se a imensa energia e os recursos despendidos na citada CPI, que demandam tempo de pessoas, várias delas profissionais dedicados e atarefados, apenas visando a divisão, o atraso. Promove-se a ignorância sobre fatos ainda desconhecidos, diante de uma pandemia (por definição, mundial) que está em andamento, em um país precário.

A COVID foi enfrentada e percebida diferentemente em todo o planeta. Parece ser um fato.

Não consta ter um país reagido identicamente a outro no combate à moléstia gestada e difundida a partir de Wuhan, China.

Não parece haver consenso algum sobre o tratamento das variáveis de saúde pública resultantes da aflitiva situação causada pelo novo vírus e suas variantes que ainda assombram o mundo.

O Brasil é um país em desenvolvimento, atrasado.

A metade de sua população não tem acesso a serviços de saneamento básico, coisa que apenas o governo atual teve a iniciativa de atacar e já promoveu privatizações que atraem imenso interesse de investidores nacionais e estrangeiros.

O país tem epidemias tropicais graves há décadas, como dengue, zika e outras, reiterando o persistente estado precário de existência de seu povo, entra-sai governo.

Esse legado maléfico fica ainda mais evidenciado em contexto de pandemia, pois enquanto uma parte ínfima da população refugia-se em suas casas próprias e trabalha à distância, a maioria não pode se dar ao luxo de deixar de pegar ônibus, metrô ou trem lotado para por algum alimento em suas mesas.

A falta de senso de realidade e de urgência, bem como de valorização de recursos públicos, por parte dos políticos que promovem o circo denominado CPI da Covid, evidencia como desejam mal ao país.

O presidente errou e continua errando em alguns aspectos, certos deles graves, mas para um profissional do direito que busca algum rigor na avaliação de fatos evidencia-se a ausência da relação de causalidade entre as centenas de milhares de mortes e decisões governamentais truncadas e desafiadas por tudo e todos.

O que há no Brasil é a culpa concorrente:  diversos entes da federação e dos poderes - inclusive os olimpicamente intocáveis do STF - ao invés de conseguirem harmonicamente criar uma frente de colaboração e enfrentamento da ponta do iceberg da precariedade sanitária nacional, elegeram a Geni da hora na pessoa do Presidente da República.

Sim, Jair Bolsonaro tem sérios defeitos, inclusive certa verborragia incontida de quem ainda se deslumbra com o improvável sucesso eleitoral de 2018, mas apontar-lhe como mentor intelectual e operador de mortes causadas por um vírus gerado e não-contido em terras alheias me parece imensa desonestidade política e intelectual.

E assim, o Brasil perde mais tempo... joga fora mais recursos... permite com que bandidos condenados, reincidentes em seus crimes, reúnam progressivamente suas quadrilhas para planejarem o próximo assalto ao país, sob efusivas palmas dos parasitas de sempre.




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