Verdades, inabilidade e varas curtas

Para quem teve a paciência de assistir ao desnecessário espetáculo promovido pelo Supremo Tribunal Federal, que autorizou a publicidade da integralidade da reunião ministerial de 22 de abril, peça fundamental do inquérito provocado pelo ex-Ministro Sérgio Moro, constatará o nível do abuso de intervenção no Poder Executivo brasileiro promovido por um STF que se transformou em palanque político e certamente promotor de grave instabilidade institucional.

Ao divulgar um vídeo que não contém mais que 5 minutos de diálogo realmente relevante ao inquérito que causou sua divulgação, fica clara a intenção da Corte: expor ao ridículo a administração federal.

Nas quase duas horas, é notável o semblante grave de Sérgio Moro durante toda a reunião, até abandoná-la na hora 01h36 do vídeo. Foi como se estivesse querendo presidir uma audiência de instrução, em sua vara criminal de Curitiba, e os presentes não lhe reconhecessem a autoridade. Ora, naquele local ficou clara a harmonia de trabalho entre os presentes, o ex-ministro realmente destoando por sua linguagem corporal. Confesso de fiquei decepcionado com Moro, ao constatar que o vídeo nada revela. E mais: o vídeo expõe os intestinos do Poder Executivo abusivamente, sem a menor necessidade. O seu lado positivo é demonstrar o empenho e trabalho incessante dessa equipe. Moro claramente errou ao iniciar um processo de exposição do Poder Executivo ao qual aderiu. Não foi um ato que lhe cai bem na biografia. E infelizmente - já que acho que ele cumpriu um grande papel no Brasil enquanto magistrado - remeteu-me à impressão que tive dois anos e meio atrás quando revelados alguns abusos de juízes e membros do MPF quando da Lava-Jato.

O Poder Judiciário deve ser um dos principais guardiões da lei, em uma República democrática em que princípios mínimos de convivência entre os poderes merece respeito. O Poder Judiciário brasileiro não presta contas a ninguém. É uma vergonha, a despeito de ser certamente integrado por grande maioria de operários do direito, dedicados. As maçãs podres não são expostas, nem extirpadas. Enquanto membros do executivo e legislativo têm perdido mandatos e sido presos por atos corrupção e improbidade, como os vários processos de impeachment comprovam, nada se fala sobre juízes improbos e corruptos sendo enjaulados. Inclusive, a quase totalidade é ungida pelos pares, quando recebe a vitaliciedade passando a residir no Olimpo, templo dos deuses. 

Pouco se ouve sobre procedimentos de impedimentos à vitaliciedade de juízes e, quando há tais casos, são guardados a sete chaves, não publicados, com a desculpa da proteção à vida privada do mau juiz. Após ungido pela vitaliciedade, o magistrado passa a ser intocável. Quando comete crimes ou abuso de poder, a integralidade é aposentada prematuramente, achando graça na passividade dos brasileiros frente a seus privilégios eternos.

Várias verdades foram ditas na reunião televisada. O Brasil quer palavras verdadeiras e o fim da corrupção. Foram vistas manifestações de um presidente impolido, sem pompons, sem cortesias, que abusa de palavrões. O uso de palavrões é uma representação da cultura popular brasileira, dispensável entretanto em tal ambiente.

O interessante da exploração da gravação por certos membros do STF, do legislativo, do universo político e de certa imprensa - que em comum adotam postura incendiária no Brasil - é quererem situar-se - com ares superiores ou supremacistas - acima do vocabulário e da cultura brasileiros. A polidez de quase todos que se manifestaram contra os condenáveis palavrões usados na tal reunião, pelo presidente e outros membros, traduz-se em cortina por trás da qual ocorrem tenebrosas transações. Ética e linguagem não andam juntos, necessariamente. Aliás... pode-se pensar exatamente no contrário, já que ignorantes desconhecem os esquemas bem montados e polidos da elite controladora...

Politicamente, esse governo é inábil. E isso não é um segredo. 

Perdeu votações importantes. Articula mal com os outros poderes. Às vezes parte para o grito, ainda que sabedor das enormes resistências que enfrentaria e enfrenta tanto dentro quanto fora da estrutura pública. 

O Presidente não possui partido, o que mostra sua incapacidade em se enquadrar em uma estrutura partidária, elemento essencial na democracia representativa, dando prova de sua inabilidade. Por outro lado, há a inadequação do sistema partidário brasileiro, que precisaria de ampla reforma, mas que jamais acontecerá com Congresso Nacional tão corrupto e disfuncional como o que está aí.

Cutucar opositores e usar palavrões para se dirigir a autoridades de outras instâncias políticas (governadores e prefeitos) demonstra inabilidade. Ser governo importa em algumas posturas, ainda que contrariem hábitos.

Esse governo precisa policiar-se, ter mais cuidado, pois pisa em ovos institucionais e enfrenta um STF e vários políticos que desejam lhe derrubar por estratagemas intrincados e bem engendrados.

O ex-magistrado e ex-ministro Sérgio Moro, infelizmente, comprova ter feito um desfavor à República. Moro: não deveria ter sido alçado ao cargo de Ministro da Justiça. O cachimbo deixou-lhe a boca torta? 

Moro não respeitou a hierarquia, desrespeitou o Poder Executivo, continuaria pensando em privilégios de magistrados, tendo-se como único defensor de uma cruzada moralista, desde que seja seu porta-estandarte. A isso se chama de vaidade.

A administração pública exige impessoalidade.

No momento em que Sérgio Moro postou-se acima de tudo e todos na luta contra a corrupção, pode não ter cometido crime, mas não entendeu seu papel, seu lugar, sua função, nem a missão maior em prol do Brasil.

Moro traiu a confiança do Presidente enfraquecendo o Poder Executivo, dando combustível a conspirações políticas intempestivas e artificiais.

É lastimável.

O governo Bolsonaro precisa de pessoas moderadas, menos exaltadas, de palavras menos grosseiras e de maior habilidade negocial.

A mensagem que ficará de todo esse espetáculo desnecessário - que o próprio Presidente não está sabendo navegar com serenidade, altivez e paciência - é que vários membros do STF e do corpo político nacional possuem como único objetivo retornar à cleptocracia e aos cleptocratas que lhes elevaram ao poder inatingível que desejam eterno.

O inábil, mas dedicado, Min. Weintraub tem razão: Brasília é um cancro. A nobreza que lá habita, deitada em berço esplêndido e longe do povo, dita como esse mesmo povo deve funcionar. Brasília tem o maior PIB per capita do Brasil e não possui indústria alguma, não gera riqueza alguma: só suga. A reflexão deve ser feita.

A reunião televisada, portanto, expressa trocas abertas entre membros do governo e possui diversos desabafos que não constituem novidade alguma aos que conhecem sua linha. Não é peça de inquérito algum, não se presta nem mesmo à pretensão de ser um pelo em ovo.

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