Idosos e jovens: em campos opostos?

O COVID19 está obrigando o mundo a fazer um teste de humanidade. O vírus é chamado de Boomer Killer ou Boomer Remover, pois vitima sobretudo quem tem mais de 60 anos (geração conhecida como Baby Boomers).

Há vários e belíssimos exemplos de dedicação ao próximo dados por pessoas generosas, como enfermeiros e médicos aposentados se apresentando para ajudar em centros de saúde e asilos, aliando-se àqueles que não estão dando conta da crise sanitária originária na China. Fazem-no a despeito de se sujeitarem a altas cargas virais nos hospitais, que se sabe constituem fatores críticos de letalidade da doença. Estes possuem consciência de que a vida só tem significado se ajudamos ao próximo, já que é a única forma de também sermos ajudados. Essas pessoas desconhecem o egoísmo quando se trata de uma situação de emergência.

Por outro lado, alguns países e líderes têm demonstrado falta de humanidade. Ditaduras e políticos eleitos não se solidarizam com vítimas, sobretudo as vulneráveis, desprezando cuidados para evitar a disseminação do virus. A falta de empatia prospera demonstrando haver pessoas que pensam apenas no próprio bem-estar, usando concidadãos como pontes para realizarem suas ambições mais perversas de poder.

Estar'iamos em um mundo que privilegia não apenas o individualismo, mas a valorização apenas do novo, do jovem, do disruptivo, desprezando os mais velhos, os sábios? A manifestação de desconsideração aos idosos acontece em especial no primeiro mundo, prospero, onde a riqueza capacita o não-compartilhamento, permite a realização máxima do egoísmo. Não seria o individualismo, entretanto, monopólio dos países ricos... talvez esteja na natureza humana...

No Canadá, como esseesse e esse artigos deixam muito claro, para consternação de muita gente como eu, a realidade demonstra-se horrorosa.

Pintura a óleo de arte por atacado... francisco de goya trabalho ...

Imaginamos que o nível de civilização de um povo passa pela atenção a todos, sobretudo aos vulneráveis. O que ficou demonstrado sobre o Canadá, sobretudo no Québec, é alarmante, como as reportagens indicadas dão notícia.

O mais triste é constatar o quanto isso contraria as culturas dominantes antes da européia: sabe-se que os povos autóctonos colocavam os idosos no nível mais alto da escala social. Devido à tradição oral, eram os idosos que transmitiam o saber, davam educação e cultura aos mais jovens, sendo depositários de uma riqueza que as gerações de hoje bobamente acham que encontram só em livros ou na internet...

O fato é que nos países desenvolvidos os asilos (para autônomos, semi-autônomos e totalmente dependentes) se transformaram em depósitos de gente abandonada, que com o COVID foram deixadas para trás, para morrer sozinhas.

As duras estatísticas dão conta que menos de 10% das duas centenas de milhares de idosos em asilos - apenas no Québec - recebem qualquer visita externa (familiares ou amigos). Será que esse foi o legado que deixaram às gerações mais novas? Será que esses idosos transmitiram a seus filhos e netos que não serviriam para mais nada depois dos 60 anos, tornando-se apenas um peso-morto?

A desumanidade chegou a níveis tão horríveis que a Inglaterra criou um Ministério da Solidão, para cuidar sobretudo dos idosos. As famílias terceirizaram o amor e a generosidade, pagando para o estado provê-los... como se fosse possível. O Brasil está envelhecendo e terá uma multidão de idosos para cuidar... mas em qual nível de humanidade? Espero que seja melhor que nos países ricos e frios...

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A pandemia está revelando um espelho civilizatório quebrado. Resgatar a dignidade dos idosos é resgatar a própria humanidade. Uma espécie que não valoriza sua tradição oral, sua história, sua origem e seus entes queridos em momento de fragilidade, não pode se auto-intitular racional ou civilizada.

Décadas atrás assisti ao filme japonês A Balada de Narayama. Segundo o costume daquela tribo primitiva, idosos não autônomos, incapazes de cultivarem o campo e gerarem alimento, se retiravam espontaneamente, ajudando a ser levados ao alto de uma montanha para morrerem de inanição e não serem mais um peso social.


A montanha em Narayama virou o asilo moderno, mas sem espontaneidade da senhora que se auto-imola. Nos asilos de hoje são depositados nossos velhos, para viverem e morrerem sozinhos. O COVID acelerou um drama que se forma há algum tempo no ocidente.

A quem seria dado, então, o título de povo primitivo? Nunca se viu tanta abundância material como nos dias de hoje... mas a pobreza no compartilhar e no cuidar mostra sua face terrível, desumana, condenando-nos.

Apenas espero que valha a pena envelhecer nesse mundo que precisa de um choque de humanidade. Tomara que essa pandemia eleve a percepção para que idosos sejam valorizados novamente.

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