Corrupção 1 X 0 Brasil

O pedido de demissão do Ministro da Justiça, Sérgio Moro, é um tiro no pé do governo Bolsonaro. Demonstra que os compromissos mais caros assumidos perante aliados são comparáveis a areias movediças.

Fiador da moralidade na administração pública, sobretudo no combate ao crime organizado e à corrupção, Sérgio Moro tinha 22 anos de carreira impecável de magistrado quando confiou nas palavras do candidato a presidente que viria a ganhar as eleições em 2018. Ao aceitar renunciar a tantos anos honrados como juiz, combatendo o crime, Moro deu demonstração de integridade e capital de credibilidade.

O momento eleitoral de 2018, no país, era totalmente atípico e de absoluta divisão. De um lado, havia os corruptos do PT, que destruíram a ética e a economia do país enquanto ditavam políticas públicas populistas para comprarem votos, como a expansão e eternização do Bolsa Família. Qualquer ação eventualmente positiva daqueles governos não parecia mais compensar a crise ética que se abateu sobre o aparato político.

Do outro lado, o vácuo oposicionista foi preenchido por um capitão de passado legislativo insípido, inodoro e incolor, membro de um partido inexpressivo, que surfou na onda do patriotismo e da defesa de interesses nacionais contra a ladroagem que não se conseguia mais esconder.

Ao ser eleito presidente, Bolsonaro e seus colegas de campanha deveriam ter consciência da precariedade do seu apoio popular, como comentei em posts anteriores.

Bolsonaro insiste em acreditar que recebeu um cheque em branco dos eleitores e que apenas sua retórica lhe sustentaria no cargo temporário que ocupa.

Permitir que suas novas alianças políticas - que deverão lhe dar alguma, mas temporária, sustentabilidade no poder - conduzam a desmoralização do aparato anti-corrupção no Brasil é um gol contra não apenas a Bolsonaro, mas ao país como um todo.

Hoje certamente o governo federal tem dezenas de milhões de apoiadores a menos. Sem o garantidor da moralidade no governo, que renunciou verbalizando denúncias gravíssimas da imposição de uma agenda política sobre o combate à corrupção, ondas funestas reverberarão por meses.

Se as consequências desse péssimo dia para os brasileiros farão com que criminosos se redimam a ponto de ousarem sonhar em retomar o poder executivo em 2022 ou mesmo antes, ainda é prematuro afirmar.

O certo é que o governo Bolsonaro está enfraquecendo, acuado por forças externas e internas, resultado de uma inabilidade de valores, politica e gerencial.

A sina do atraso institucional, no país, como já dito em posts anteriores, parece uma maldição do qual o mesmo não parece conseguir escapar.

Resta saber se Sérgio Moro tem sido sondado, seriamente, para apresentar-se como candidato presidencial em 2022. A despeito de não ter nem o perfil de político, nem o cabedal de negociador que o cargo exige, é notório que receberia muitos votos, aglutinando algumas forças conservadoras e progressistas, ansiosas por maior moralidade na gestão da coisa pública.

O Brasil não é mesmo para amadores e em tempos de pandemia, um governo indeciso, hesitante, liderado por um capitão inconsciente do próprio despreparo, requer novas mobilizações.

Há de surgirem nomes para recolocarem o país no rumo da dignidade e da seriedade, sem corrupção endêmica, fundamentalismos e dinastias familiares ou partidárias.

Flags Of Brazil With The Texture Of Broken Glass. Illustration ...


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