O país esquizofrênico e o povo que vive em silos.

O Brasil é um país curioso: laboratório de experimentos constantes que nunca se concluem.

Nação em formação, jamais atinge sua maturidade.

Entendo que sua instabilidade advém do fato que seu esteio social é compreendido por seres que vivem e trabalham em silos, sem compreensão do todo.

Além do determinismo - de origem inclusive religiosa - gerando imobilismo social - a melhor forma de manter currais eleitorais independentemente do espectro ideológico - o país se povoa de ilhas de solidão e de prosperidade.

A parábola desenhada por uma flecha lançada de qualquer aglomerado urbano viaja da epidemia ao alto luxo, experimentando o supra-sumo da heterogeneidade.

Em 2018 a corda esticou.

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Experimentou-se a ruptura do status quo, advinda unicamente da falência inequívoca do equilíbrio das forças políticas e econômicas que dominavam o país desde a democratização, desnudadas pela Operação Lava-Jato. Note-se que o Mensalão foi abafado pelas mais altas forças políticas e judiciárias da época, inclusive sob as bênçãos da uma oposição raquítica, apequenada e comprometida com os esquemas, os mecanismos.

Bolsonaro, o azarão e cavaleiro solitário, galvanizou apoio absolutamente improvável, comparável apenas a Collor que também saiu da obscuridade para ser catapultado a servidor público número 1 da nação.

Ao montar sua equipe, Bolsonaro foi mais humilde e compreendeu que seu vice-presidente de fato deveria ser Paulo Guedes, que para si está como José Alencar estava para Lula. Sem isso, os donos da nação não lhe dariam fôlego, a despeito de se ter a impressão que em qualquer oportunidade que se lhes dá, uma gravata é aplicada na jugular desse governo federal.

Confesso que tinha dificuldade em compreender como esse país conseguiria seguir adiante com quase 70 mil homicídios anuais, sem que efetivamente ninguém tomasse medidas concretas. Ou mesmo que sua elite se sensibilizaria a ponto de promover profundas mudanças.

O atual Ministro da Justiça, Sérgio Moro, foi instado a agir e tem promovido alterações significativas na dinâmica do encarceramento e isolamento de chefes do crime organizado. Recordes na quantidade de entorpecentes apreendidos e o progressivo rearmamento da população por critérios objetivos, além do seu iminente pacote anti-crime, são medidas que beneficiam o cidadão, tentativas para resgatá-lo do estado desolador de desordem e vácuo legal em que se encontra.

Só que as ilhas persistem. Ilhas de miséria de um lado. Ilhas de prosperidade do outro. São seres assustados de todos os lados, que se desconhecem, desumanizam-se.

A esquizofrenia é geral. É temeroso esforçar-se para enxergar esse balé maluco, pois arrisca-se sacrificar a sanidade mental. Os russos têm vodka. O brasileiro, a cachaça, o carnaval, o escapismo cotidiano. O povo indígena já descobriu que, diante de tal realidade, o melhor é embriagar-se...

Esse Brasil destituído de visão una, arquipélago sem balças comunicantes, afasta-se dia a dia do sonho de país compartilhado.

O desafio de superar abismos com pontes estará sendo enfrentado? Será possível construí-las sem no caminho deixar muitas sepulturas?

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