Europa: o pouco, o muito e o excessivo.
Apesar de estar sobrevivendo às duras penas na União Européia, a Grécia tem sido parasitada pelos europeus há vários anos, a um custo social imenso. Os bancos alemães e franceses detêm grande parte da dívida daquele país, denominada em Euro, criando-lhe uma armadilha comparável à crise da dívida latino-americana dos anos 1980. A diferença é que, por estar inserida no projeto federalista europeu, a saída da Grécia é retardada pelo empréstimo contínuo e ajustes de "fora para dentro" que reprimem qualquer movimento real de independência. À Grécia é proibida a moratória, diferentemente do caso brasileiro, já que esta precipitou nosso ajuste e a retomada econômica por meio de reformas na década de 1990.
A desintegração política grega é comprovada. Pesquisas de opinião explicam a razão do marasmo democrático: pouquíssimos acreditam que votando conseguiriam implantar um governo independente dos falcões europeus e, portanto, priorizar as necessidades do país, em contraponto ao interesse de Bruxelas (posto que antagônico). A alienação política e descrença no voto gregos foram objeto de vários estudos, dentre os quais sugiro ao interessado ler esse do LSE.
A Itália tem visto movimentos políticos contrários à sua permanência na União Européia ganharem corpo. A partir do momento em que aquele país passou a integrar o Euro, abrindo mão de sua própria moeda, a Lira, e por conseguinte de um dos elementos mais fundamentais de soberania, a capacidade de definir sua política monetária (leia-se: taxa de juros), tornou-se escrava de Frankfurt (sede do Banco Central Europeu). Quando um italiano eurocêntrico, Mario Draghi, tornou-se presidente do BCE, a percepção de crise soberana pela população piorou. A Itália só vê sua economia encolher e sua riqueza ser transferida para países ao norte. Ao mesmo tempo, a Itália viu-se compelida a aceitar milhões de imigrantes ilegais via Mediterrâneo que consomem os já escassos recursos públicos, por força dos tratados europeus.
A incapacidade de decidir sobre seu próprio orçamento é outro impedimento. A política fiscal é objeto de tratados europeus, cabendo a aprovação de seu futuro fiscal em Bruxelas, e não em Roma. Assim, a Itália está emperrada, tendo aberto mão de instrumentos de política pública fundamentais e, em seu caso, fatais para sua sobrevivência como nação.
BREXIT acabou pour tornar-se um estímulo à reflexão de diversas nações, sobretudo as que sofrem o sonho europeu, sobre a efetividade e o limite de exaustão do projeto unificador.

No pós-guerra, mecanismos convencionais de colaboração sobre carvão e aço (CECA) e energia atômica (Euratom) culminaram no Tratado de Roma, de 1957. Criar a Comunidade Econômica Européia tinha sentido, após a destruição total do continente. A Europa tinha pressa e precisava de união.
Burocratas e líderes políticos europeus passaram, em momento posterior, a negar a democracia. O projeto de convergência econômica contaminou o âmbito político: retirou-se do povo o poder de decidir-se-lhe o destino friamente. Na década de 1990, quando se promoveu a financiarização mundial, a convergência passou a também ser financeira, em detrimento, diga-se novamente, da cidadania e da autonomia das nações.
Fez-se então como no Brasil: retirou-se poder das regiões, das cidades, para tudo acumular em um único pólo decisório, mui distante dos destinatários das normas.
No caso do Brasil, foi Brasília. No caso europeu, é Bruxelas.
A mentalidade de cada comunidade integrante do projeto europeu, a manutenção de sua individualidade, deveria ter sido respeitada e colocada lado-a-lado com a colaboração rumo à prosperidade. O livre-comércio fez-se em detrimento da cidadania.
Apenas na Suíça, que não abraçou o sonho europeu, mantém-se tal individualidade: a democracia é quase direta e políticas são decididas por meio de referendos e plebiscitos em que aqueles imediatamente afetados são os que decidem. Suíços parecem saber perfeitamente o que importa: políticos são menos importantes que o próprio povo. É claro que a neutralidade histórica suíça exigia seu distanciamento de qualquer confederação européia, mas não deixa de dar uma lição aos vizinhos.
O excesso (e fracasso) do federalismo europeu já havia dado sinal em 2008. Sob a liderança do ex-presidente francês Valéry Giscard D'Estaign uma Constituição Européia foi apresentada e rejeitada pelas populações onde foi a plebiscito. Isso não impediu VGE a continuar forçando a agenda convergente federativa, visando anular resquícios de soberania nas nações européias.
Como ocorre com qualquer remédio, seu excesso torna-se veneno.
A Europa de hoje está condenada à fragmentação. O exemplo de BREXIT indica um péssimo caminho, já que a fragmentação organizada seria muito mais produtiva e positiva do que a desordenada.
O esfacelamento do sonho europeu único já ocorre. A emigração de europeus de classe média, muito esclarecidos, é um fato inegável.
Em países débeis, como Grécia, Portugal, Espanha e Itália, o resgate da soberania ocorre pelas mãos dos mais radicais, inclusive muitos de esquerda e ligados à doutrina marxista. Neo-nazistas e extremistas de direita tiram, também, o sono dos moderados. Nervos estão à flor da pele... e o cenário só piora enquanto se dá de avestruz e o Parlamento Europeu não debate uma marcha-à-ré prudente para manter apenas conquistas fundamentais. O desejo de concentração de poder em Bruxelas não arrefece: pelo contrário, tramam mais e mais esvaziamento de poder dos países membros.
O paciente morreu, resta enterrá-lo.
A União Econômica e Monetária e o Acordo de Schengen condenaram os cidadãos europeus a terem inferiorizada sua identidade e renunciarem a fundamentos de sua soberania. Povo algum deve se submeter a isso, pois marca o início de seu perecimento como nação. Ao enfraquecer a democracia européia, os líderes eurocêntricos pensaram apenas em si e nos interesses dos poderosos. Os burocratas europeus também trabalham em benefício próprio e não possuem compromisso algum com a felicidade e bem-estar das populações monitoradas por Bruxelas.
Torço para que Itália e Grécia montem uma frente única e se desliguem apenas desses dois absurdos: União Econômica e Monetária e o Acordo de Schengen.
Hoje sabe-se o que eurocéticos sabiam há décadas: fronteiras abertas não são boas para povo algum. Ofusca a bondade humana de acolher necessitados, refugiados e imigrantes de bem.
18 anos atrás publiquei um estudo sobre união monetária no Mercosul e possibilidade de convergência regulatória, que pode ser lido clicando aqui. Eu já era pessimista em relação ao sonho comunitário econômico e denunciava o ilusionismo, de inspiração européia, que contaminava o Mercosul à época. Altamente cético, o artigo foi recebido com frieza pelos pares, já que não surfava na onda da convergência econômica incondicional ou a renúncia à soberania.
Muito de minha convicção se formou sobretudo pelos meus anos de estudo na Inglaterra (1996-1997), exatamente quando a discussão da união econômica e monetária se fazia. Tendo participado de diversos fora e congressos naquele país, em que se discutia o grau de integração da ilha britânica ao continente europeu, alinhei-me aos que achavam que a moeda única seria o início do fim do sonho europeu, já que carecia de elementos democráticos e de respeito à soberania. Soberania não rimava com globalismo à época, mas eu sentia que aquilo não seria sustentável, especialmente em vista da história européia do século 20...
A coerência acaba por prevalecer e infelizmente o movimento contrário se faz com energias desordenadas e desorganizadoras.
Os movimentos nacionalistas que vão ganhando corpo possuem diversas origens e suas representações contra imigrantes, Bruxelas e outros elementos estranhos às identidades nacionais, algumas das vezes representações violentas e absurdas, foram plantados pelos irresponsáveis eurocêntricos 25 anos atrás.
Espero que um novo ciclo esteja se formando, mas que seja positivo, gerando integração com respeito identitário.
A desintegração política grega é comprovada. Pesquisas de opinião explicam a razão do marasmo democrático: pouquíssimos acreditam que votando conseguiriam implantar um governo independente dos falcões europeus e, portanto, priorizar as necessidades do país, em contraponto ao interesse de Bruxelas (posto que antagônico). A alienação política e descrença no voto gregos foram objeto de vários estudos, dentre os quais sugiro ao interessado ler esse do LSE.
A Itália tem visto movimentos políticos contrários à sua permanência na União Européia ganharem corpo. A partir do momento em que aquele país passou a integrar o Euro, abrindo mão de sua própria moeda, a Lira, e por conseguinte de um dos elementos mais fundamentais de soberania, a capacidade de definir sua política monetária (leia-se: taxa de juros), tornou-se escrava de Frankfurt (sede do Banco Central Europeu). Quando um italiano eurocêntrico, Mario Draghi, tornou-se presidente do BCE, a percepção de crise soberana pela população piorou. A Itália só vê sua economia encolher e sua riqueza ser transferida para países ao norte. Ao mesmo tempo, a Itália viu-se compelida a aceitar milhões de imigrantes ilegais via Mediterrâneo que consomem os já escassos recursos públicos, por força dos tratados europeus.
A incapacidade de decidir sobre seu próprio orçamento é outro impedimento. A política fiscal é objeto de tratados europeus, cabendo a aprovação de seu futuro fiscal em Bruxelas, e não em Roma. Assim, a Itália está emperrada, tendo aberto mão de instrumentos de política pública fundamentais e, em seu caso, fatais para sua sobrevivência como nação.
BREXIT acabou pour tornar-se um estímulo à reflexão de diversas nações, sobretudo as que sofrem o sonho europeu, sobre a efetividade e o limite de exaustão do projeto unificador.

No pós-guerra, mecanismos convencionais de colaboração sobre carvão e aço (CECA) e energia atômica (Euratom) culminaram no Tratado de Roma, de 1957. Criar a Comunidade Econômica Européia tinha sentido, após a destruição total do continente. A Europa tinha pressa e precisava de união.
Burocratas e líderes políticos europeus passaram, em momento posterior, a negar a democracia. O projeto de convergência econômica contaminou o âmbito político: retirou-se do povo o poder de decidir-se-lhe o destino friamente. Na década de 1990, quando se promoveu a financiarização mundial, a convergência passou a também ser financeira, em detrimento, diga-se novamente, da cidadania e da autonomia das nações.
Fez-se então como no Brasil: retirou-se poder das regiões, das cidades, para tudo acumular em um único pólo decisório, mui distante dos destinatários das normas.
No caso do Brasil, foi Brasília. No caso europeu, é Bruxelas.
A mentalidade de cada comunidade integrante do projeto europeu, a manutenção de sua individualidade, deveria ter sido respeitada e colocada lado-a-lado com a colaboração rumo à prosperidade. O livre-comércio fez-se em detrimento da cidadania.
Apenas na Suíça, que não abraçou o sonho europeu, mantém-se tal individualidade: a democracia é quase direta e políticas são decididas por meio de referendos e plebiscitos em que aqueles imediatamente afetados são os que decidem. Suíços parecem saber perfeitamente o que importa: políticos são menos importantes que o próprio povo. É claro que a neutralidade histórica suíça exigia seu distanciamento de qualquer confederação européia, mas não deixa de dar uma lição aos vizinhos.
O excesso (e fracasso) do federalismo europeu já havia dado sinal em 2008. Sob a liderança do ex-presidente francês Valéry Giscard D'Estaign uma Constituição Européia foi apresentada e rejeitada pelas populações onde foi a plebiscito. Isso não impediu VGE a continuar forçando a agenda convergente federativa, visando anular resquícios de soberania nas nações européias.
Como ocorre com qualquer remédio, seu excesso torna-se veneno.
A Europa de hoje está condenada à fragmentação. O exemplo de BREXIT indica um péssimo caminho, já que a fragmentação organizada seria muito mais produtiva e positiva do que a desordenada.
O esfacelamento do sonho europeu único já ocorre. A emigração de europeus de classe média, muito esclarecidos, é um fato inegável.
Em países débeis, como Grécia, Portugal, Espanha e Itália, o resgate da soberania ocorre pelas mãos dos mais radicais, inclusive muitos de esquerda e ligados à doutrina marxista. Neo-nazistas e extremistas de direita tiram, também, o sono dos moderados. Nervos estão à flor da pele... e o cenário só piora enquanto se dá de avestruz e o Parlamento Europeu não debate uma marcha-à-ré prudente para manter apenas conquistas fundamentais. O desejo de concentração de poder em Bruxelas não arrefece: pelo contrário, tramam mais e mais esvaziamento de poder dos países membros.
O paciente morreu, resta enterrá-lo.
A União Econômica e Monetária e o Acordo de Schengen condenaram os cidadãos europeus a terem inferiorizada sua identidade e renunciarem a fundamentos de sua soberania. Povo algum deve se submeter a isso, pois marca o início de seu perecimento como nação. Ao enfraquecer a democracia européia, os líderes eurocêntricos pensaram apenas em si e nos interesses dos poderosos. Os burocratas europeus também trabalham em benefício próprio e não possuem compromisso algum com a felicidade e bem-estar das populações monitoradas por Bruxelas.
Torço para que Itália e Grécia montem uma frente única e se desliguem apenas desses dois absurdos: União Econômica e Monetária e o Acordo de Schengen.
Hoje sabe-se o que eurocéticos sabiam há décadas: fronteiras abertas não são boas para povo algum. Ofusca a bondade humana de acolher necessitados, refugiados e imigrantes de bem.
18 anos atrás publiquei um estudo sobre união monetária no Mercosul e possibilidade de convergência regulatória, que pode ser lido clicando aqui. Eu já era pessimista em relação ao sonho comunitário econômico e denunciava o ilusionismo, de inspiração européia, que contaminava o Mercosul à época. Altamente cético, o artigo foi recebido com frieza pelos pares, já que não surfava na onda da convergência econômica incondicional ou a renúncia à soberania.
Muito de minha convicção se formou sobretudo pelos meus anos de estudo na Inglaterra (1996-1997), exatamente quando a discussão da união econômica e monetária se fazia. Tendo participado de diversos fora e congressos naquele país, em que se discutia o grau de integração da ilha britânica ao continente europeu, alinhei-me aos que achavam que a moeda única seria o início do fim do sonho europeu, já que carecia de elementos democráticos e de respeito à soberania. Soberania não rimava com globalismo à época, mas eu sentia que aquilo não seria sustentável, especialmente em vista da história européia do século 20...
A coerência acaba por prevalecer e infelizmente o movimento contrário se faz com energias desordenadas e desorganizadoras.
Os movimentos nacionalistas que vão ganhando corpo possuem diversas origens e suas representações contra imigrantes, Bruxelas e outros elementos estranhos às identidades nacionais, algumas das vezes representações violentas e absurdas, foram plantados pelos irresponsáveis eurocêntricos 25 anos atrás.
Espero que um novo ciclo esteja se formando, mas que seja positivo, gerando integração com respeito identitário.