Entramos na era do populismo?

Na sexta-feira passada, sob intensos protestos da esquerda liberal (que interessantemente deseja silenciar o que não lhe é espelho, chamando os outros de fascistas, etc.), ocorreu o já tradicional Munk Debate em Toronto.

Os Debates Munk são uma iniciativa super-interessante, que completam 10 anos, visando uma luta de box de idéias, colocando opositores políticos ou ideológicos frente a frente, gerando massa crítica para os espectadores conhecerem os lados do embate e melhorarem sua compreensão sob ângulos diversos.



O polêmico Steve Bannon (que apoiou a eleição do Pres. Trump e foi seu consultor estratégico durante o primeiro ano de governo) enfrentou o semi-liberal David Frum. Ambos deveriam defender se o populismo seria ou não a nova forma de manifestação política no ocidente.

Enquanto Frum ironizava a figura pessoal de Trump, fazendo piadinhas e seduzindo a audiência, Bannon dominou o debate e traçou uma linha entre as opções de populismo de direita ou de esquerda como única forma de exercício de poder, daqui em diante.

Bannon ganhou o debate, segundo os espectadores, que mudaram de posição (no início é feita uma sondagem eletrônica, que conferida ao final demonstra se os presentes foram convencidos ou não pelos argumentos dos debatedores).

Enquanto Frum defendeu que o populismo é um movimento pendular cujos protagonistas sempre perdem (estando "do lado errado da história"), Bannon indicou que as elites estão sendo rejeitadas pela população repetidamente no Ocidente, seja nos EUA, na Hungria, Holanda e mesmo no Brasil.

Bannon abriu o debate demonstrando que a salvação do sistema financeiro em 2008 deixou de fora a classe média, o "little guy", apenas para beneficiar o establishment e financiar a ganância dos seres de Washington. Provou seu ponto ao indicar que a desigualdade apenas fez crescer no salvamento de Wall Street, com pagamento duplo pela população: desemprego sistêmico e financiamento dos poderosos mediante impostos e salvação bancária. Contra tal argumento, Frum não teve resposta, tentando seduzir a platéia com alegorias e gozações sobre o governo Trump, louvando Barack Obama como o melhor presidente americano (e olha que Frum foi assessor especial do Presidente Bush...).

Mudando o mapa um pouco, tudo fez-me refletir sobre o Brasil.

O populismo de esquerda brasileiro, também conhecido como Lulismo, é o populismo pseudo-socialista citado pelo odiado Bannon. Foi tentado no Brasil, com resultados desastrosos e o pêndulo do poder foi - inegavelmente - estacionar no populismo de direita, em que Jair Bolsonaro surge como personagem que resgatará o patriotismo e a dignidade brasileiros, por meio do liberalismo econômico e da disciplina moral.

Haveria então, como David Frum sugeriu, um caminho inclusivo e não populista para as democracias ocidentais? Bannon afirmou categoricamente que, gostando-se ou não, o mundo ruma para o populismo e cabe ao eleitor apenas escolher se os dirigentes populistas serão de direita (nacionalistas, protecionistas, politicamente incorretos) ou de esquerda (globalistas, em que fronteiras não mais contarão, já que alinhamento ideológico será mais importante).

O debate poderia ter sido enriquecido se David Frum tivesse sido substituído por alguém como Bernie Sanders, que prega o humanismo global (uma forma de populismo inocente, ou melhor, naive) em contraposição ao populismo de direita de Trump.

Há material de sobra para ser explorado.

O fato é que a divisão de visão sobre a organização e forma de exercício de poder do estado gera movimentos extremados e, como os dois debatedores concordaram de certa forma, no momento, diante da ausência de um alternativa mediana, o cidadão deverá escolher lados e se ratifica o populismo de esquerda ou de direita.

Aos interessados em assistir ao debate e concluírem por si mesmos:


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