A difícil tarefa norte-americana

Há décadas que não anda nada fácil viver nos Estados Unidos. Ir como turista é uma coisa, já a realidade é absolutamente diversa.

E como em qualquer lugar do planeta (ou como visto há pouco tempo no Brasil), é a economia que impulsiona o discurso político e a escolha dos eleitores. Um assessor de campanha de Bill Clinton bem percebeu isso quando buscava a vitória sobre a reeleição de George Bush Pai, após a crise financeira de 1992, o que pode ser conferido aqui.

História: vitoriosos após a Segunda Grande Guerra, os EUA emergiram como superpotência sombreando outras nações do planeta. A Europa apenas ressurgiu das cinzas unificada, já que as antigas potências colonialistas, como França e Inglaterra, jamais recuperariam seu brilho individual como nações hegemônicas em suas esferas de influência no mundo melhor informado e mais livre. Do Mercado Comum Europeu, constatou-se que apenas a unificação, inclusive monetária, maquiaria o Velho Continente, que hoje luta para manter-se de pé e unido, apesar de Eurocêntrico (negando o multilateralismo, hoje em crise).

Aquela época áurea acabou. Escafedeu-se.

Na década de 90, os EUA começaram sua derrocada em espiral, ao saírem da privatização desenfreada promovida por Reagan (e na versão britânica de Thatcher e japonesa de Nakasone), seguida da desregulamentação exagerada dos mercados (especialmente financeiro), permitindo mais desigualdade na concorrência e na distribuição de riquezas.

O explosivo endividamento público para financiar a Guerra do Golfo reinseriu o país na economia de guerra. Recursos públicos foram também exauridos para bancar rupturas financeiras decorrentes das irresponsabilidades de um capitalismo selvagem (crises Enron, WorldCom, Savings&Loans, Ponto.com, etc.) onde se achava que o estado regulador apenas atrapalhava.

A internacionalização de empresas, traduzida na deslocalização que exportou boa parte da indústria (poluente) norte-americana a países de terceiro mundo, enterrou milhões de empregos de baixa qualificação. Em vista da presença menor do estado em todos os âmbitos (menos o militar), em especial no campo educacional (pois o sistema dos EUA também é falido nesse quesito), ex-operários não foram requalificados para uma economia de serviços, fazendo com que a pobreza e a assistência social aumentassem em proporções imensas.

Atualmente 1/3 dos norte-americanos recebe assistência do governo para fechar as contas mensais. Ou seriam mesmo 47% citados por Romney em uma entrevista que destruiu suas chances de disputar em pé de igualdade as eleições contra Obama, 4 anos atrás.

Tal fenômeno pariu Obama, o populista enrustido. Só que ele é simpático e muito inteligente, e até carismático, sendo o perfeito engambelador.

Aos fãs de Obama, lembro que o tenho criticado pontualmente desde que assumiu o poder, em artigos de jornal e várias outras mídias. Vou reafirmar meu ponto de vista ao leitor, com um pequeno pedido: veja o vídeo abaixo, de 2009, de menos de um minuto. Nele Obama se mira em Lula, como a um espelho, claramente encantado com a perspectiva de virar o líder mais popular do mundo:



Obama fez explodir a parasitagem em seu governo. Sua maior popularidade advém da assistência social. Ele enterrou a cabeça na areia e não abordou jamais os problemas norte-americanos. E muito menos teve envergadura para liderar o mundo, sendo a Síria e o conflito Israelo-palestino as melhores expressões de uma retórica vazia, insuficiente ou até mesmo irresponsável. Veja-se ainda sua péssima relação com Putin...

Obama copiou a receita petista, bastando ao leitor ver o aumento no gasto com bolsa-família nos EUA, expresso no gráfico abaixo. Esse é o déficit do auxílio assistencialista que o Governo Obama causou. Isso por si só explica a ira dos empresários e a classe média trabalhadora, que sabe ser quem banca uma legião de gente encostada não por necessidade, mas por opção política de Obama e sua trupe populista. Aqui está a causa da popularidade do imbecil do Trump...



O endividamento promovido por administrações Republicanas, para tocarem sua economia de guerra e beneficiar seu amigos em Wall Street, e administrações Democratas, para tocarem sua economia assistencialista, ambas destruindo valores nos EUA e desagregando o país, é constatado no enigmático quadro abaixo.

Ou seja, a população norte-americana vem sendo deixada de lado por ambos os partidos (melhor ainda: pela política tradicional). Com os republicanos, os ricos e poderosos são bem tratados (em especial o sistema financeiro), destruindo a rede de assistência social com se fosse o grande mal. Já com os democratas, a idéia socialista ganha corpo, endividando ainda mais o estado ao invés de dar condições para os menos favorecidos se desenvolverem por si mesmos.



A saída de Trump da corrida eleitoral advém da absoluta incapacidade de os republicanos verem a realidade. Essa saída ocorrerá nos próximos dias ou mesmo no dia da votação, dando a Hillary uma vitória colossal. Não pelos méritos desta, já que seu partido (democrata) nada, ou pouco, fez para dar uma perspectiva de longo prazo à gente comum norte-americana.

A vitória de Hillary será por KO (nocaute), mas como já disse antes, no discurso de Trump, refletido na popularidade que conquistou, há graves elementos que explicam a divisão do país.

Caberá a Hillary abordar os assuntos sérios e urgentes, coisa que as últimas administrações não fizeram.

Os EUA estão absolutamente falidos e precisarão enfrentar seus problemas. Não poderão culpar mexicanos ou chineses por sua absoluta incompetência.

Os brasileiros que visitam os EUA acham tudo maravilhoso, mas não possuem real dimensão dos problemas sociais imensos que se acumularam. 

A pobreza nos EUA é uma realidade enorme e não será com o discurso populista democrata (muito similar ao discurso petista) de tirar dos ricos, que a coisa será resolvida.

Por fim, os EUA terão que deixar de ser populistas e treinar seus "encostados" para que voltem a trabalhar e a empreender. Esse foi o fundamento do sucesso não apenas dos EUA, mas é o de qualquer país que deseja ser próspero e mais justo.

Se Hillary, ao herdar um país quebrado e dividido, não implementar políticas que fujam do legado desastroso de Obama, não cedendo à fácil tentação de dar assistência aos "esquecidos do sistema" ou fazer belos discursos, poderá tornar-se não apenas a primeira mulher presidente daquele país.

Ela poderá tornar-se a salvadora da maior potência do planeta.

E ela não terá muito tempo para fazer o que precisa ser feito. Acho que ela possui a inteligência para fazê-lo, mas será capaz?


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