Afugentando investidores


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Afugentando investidores
(versão original enviada ao jornal)
Dan M. Kraft
Advogado e Professor de Direito no Brasil e no Canadá

           
            Dias atrás foi intentada, nos Estados Unidos, uma ação coletiva contra a Petrobrás, alegando que sua administração mentiu, atraindo investidores com base em informações falsas. Além disso, a ação coletiva informa que o código de ética daquela companhia de capital misto (público e privado) não passava de uma peça de ficção, em virtude das denúncias que se avolumam, de corrupção generalizada.
            Independentemente do resultado da ação naquele país, que se justifica pois a Petrobrás atraiu investidores estrangeiros que basearam sua decisão de investimento na boa-fé, o resultado para a atratividade de capitais ao Brasil é desastroso.
            O país necessita de poupança externa para financiar sua prosperidade. Não somos como a China, que produz muito mais do que precisa, gerando um enorme superávit comercial e de poupança. Não somos também o Japão, onde as pessoas economizam muito mais do que consomem. O país hoje possui baixa produtividade, grande endividamento de famílias e empresas, sendo complexo pedalar as ambições de distribuição de riqueza propaladas pelo governo reeleito sem disciplina e ética.
            A leitura internacional sobre o que tem acontecido em razão dos escândalos de corrupção que povoam as páginas dos jornais indica dois caminhos. O primeiro caminho indica a desconfiança nas instituições e nas regras brasileiras, concluindo-se que no país reina a bagunça e o desmando, gerando prejuízos àqueles que confiam em promessas escritas, ainda que reguladas. O segundo caminho cria a oportunidade de se reinventar o respeito nacional à ética e à observância da lei.
            É notória a situação de descontrole que acomete a Petrobrás, antigo bastião do orgulho nacional tanto do ponto de vista técnico, pela sua maestria com que explora águas profundas, quanto pela magnitude da riqueza que administra. Se ela se encontra em tal situação, finalmente desafiada em cortes internacionais, é porque as autoridades brasileiras, notadamente a Comissão de Valores Mobiliários, que protege o mercado de capitais e os investidores, negligenciaram no exercício de suas atribuições.
            Resgatar valores éticos na gestão corporativa e apresentar elementos novos para superar o desastre do passado parecem não apenas medidas necessárias, mas urgentes. Muito se fala em governança, em compliance (observância de leis aplicadas a negócios), mas efetivamente pouco se faz para desmontar estruturas apodrecidas no seio de sociedades empresariais onde a influência política é elevada, como no caso exemplificado.
            Sabemos que o país enfrentará um ano novo extremamente difícil. Os números da economia não estão bons, o desânimo do empresariado é alto, os empregos mais qualificados e melhor pagos estão em falta. Quando em tais situações não encontram-se atrativos dentro das fronteiras, melhor é um país abrir-se para atrair investidores estrangeiros. Crer apenas no gigantismo como medida atrativa é insistir em um voluntarismo suicida. Em 2010 os brasileiros acreditavam que o país estava a caminho de tornar-se a 4ª economia do mundo, mas em virtude das falhas estruturais como a apontada acima, e não por fatores externos, o horizonte se mostra desolador caso nada seja feito, com objetividade e firmeza.
            Diante de tal cenário, continua sendo importante ter otimismo. Este não se refere ao passado ou ao diagnóstico da situação, mas quanto à inegociável determinação de que a governança pública brasileira será radicalmente transformada.

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